Melhor começar o texto deixando algumas coisas claras. Se você, de alguma forma, gosta ou admira qualquer filme anterior da franquia Transformers, ou acompanha com entusiasmo o trabalho de Michael Bay como cineasta, pare de ler o texto agora. Não, isso não é birra nem um tipo de perseguição injustificada contra alguém ou qualquer tipo de filme. Poderiam perguntar-me o motivo de eu escrever sobre um filme que, evidentemente, segue uma fórmula previsível e que, sendo o quarto exemplar da franquia, eu já deveria esperar determinadas coisas dele. A verdade é que comparecer às exibições para imprensa é um trabalho como qualquer outro, portanto, a partir do momento que o veículo se propõe a cobrir o máximo de lançamentos possível, alguém teria que assumir a tarefa. Enfim, não é papel do crítico ou de qualquer profissional que escreva sobre cinema dizer o que o público deve ou não gostar, mas apontar e comentar determinados aspectos técnicos e suas consequências, algo que farei aqui, tratando Transformers: A Era da Extinção como um filme fechado em si mesmo, ignorando os exemplares anteriores. Vai continuar? Bem, eu avisei…
A nova aventura dos robôs automotivos coloca os Autobots, os personagens do bem, liderados por Optimus Prime, como renegados, uma vez que o governo dos EUA inicia uma campanha de hostilidade contra esses alienígenas, graças à destruição que eles causaram lutando contra os malvados Decepticons. Mesmo tendo salvo a Terra, que agora tenta recuperar-se dos danos destes conflitos, são caçados pelos terráqueos, que por sua vez tem o auxílio de Lockdown, um caçador de recompensas espacial, também robô, especialmente interessado na captura de Optimus. Ajudados por uma família em dificuldades financeiras, tentarão evitar que um corrupto executivo da CIA coloque as mãos em um artefato com imenso poder de destruição. Em meio a isso tudo, ainda sobra tempo de apresentar novos Transformers, alguns até fabricados por terráqueos, que julgam ter dominado e aprimorado essa tecnologia. A expressão “sobrar tempo”, utilizada anteriormente, é bem adequada, já que o filme tem a inacreditável duração de 165 minutos. Justifica-se de alguma forma? Claro que não! Até comercialmente falando é inconveniente, pois essa é uma estratégia que faz o filme ter menos sessões ao longo do dia, consequentemente trazendo menos pagantes.
A sinopse já mostrou qual é o rumo. Muita coisa acontecendo, só dando o gancho para a próxima cena de ação, que é a razão de ser da obra. O início do filme ensaia uma auto-ironia interessante, mas esquecida segundos depois. Óbvio que essa família que ajuda os Autobots tem algum problema de relacionamento a resolver durante a projeção, o que é uma tentativa vazia de humanizar essa trama e trazer um pouco de empatia. O problema é que quando você tem um Mark Whalberg bombado como viúvo e pai super-protetor de uma adolescente no pico hormonal, já percebe que é demais para um ator tão abaixo da média. Se ele ainda tiver que convencer como um inventor talentoso, porém atrapalhado – uma espécie de cruzamento entre Professor Pardal e Alexandre Frota -aí a credibilidade vai para o saco de vez. Quem diria que quinze anos depois de Boogie Nights estaríamos falando isso de alguém, aparentemente, tão promissor? Nicola Peltz como a filha, trazendo aquele apelo sensual que Michael Bay não abre mão, é igualmente desastrosa como atriz e deve aumentar a acidez estomacal de algumas feministas. O namorado da moça, Jack Reynor, nem vale citar, mas o pior é ver bons atores como Kelsey Grammer, como o cara malvado da CIA, e Stanley Tucci, o empresário que clona os Transformers, batendo cartão e garantindo o aluguel.
Já que a interação entre personagens humanos não funciona mesmo, por diversos motivos, melhor pular direto para a ação. A partir da primeira sequencia de correria e quebradeira, o filme tem destruição em larga escala, envolvendo perseguições, brigas de robôs contra robôs ou contra o exército ou a CIA. Termina o quebra, os personagens conversam, rola uma explicação rápida da próxima tarefa, um diálogo cômico como alívio – que oportunamente observei , em momento algum fez alguém rir em uma sala cheia – e aí partimos para próxima grandiloquente sequencia de ação que tentará superar a anterior. Até chegar a uma última tarefa e o “chefão final” que se apresenta como o temido desafio. Estruturalmente, lembrar um videogame não é problema para um filme qualquer, mas contentar-se em não ir além disso, sacrifica muito da satisfação de assisti-lo. Fora essa questão, quase três horas disso faz com que o espectador se acostume com a barulheira e a profusão de metal na tela, tirando qualquer possibilidade de envolvimento.
Com uma premissa como essa, seria possível entregar algo melhor? Talvez, mas o primeiro passo seria contratar outro diretor. Michael Bay realmente tem alguns fetiches como cineasta que o fazem ignorar a arte de contar uma história, perseguindo apenas a ação com a maior quantidade de destruição possível, mesmo que algumas situações ou atitudes não façam sentido. Eu poderia falar de edição, fotografia, trilha sonora e outros quesitos, mas sinceramente, não valeria a pena pelos motivos que já citei. Tudo isso, detalhes importantíssimos para qualquer filme, aparecem tão secundários e genéricos neste Transformers que seria um desperdício de tempo alongar o assunto. Só me dou ao luxo de comentar rapidamente o 3D… Não serve para nada! Se você vai mesmo ver o filme, recomendo que pague mais barato evitando-o, se possível.
Pelos números de arrecadação e o terceiro ato de Transformers: A Era da Extinção, podemos esperar, pelo menos, mais um filme da série. O espectador mais atento e sagaz perceberá que houve uma puxação de saco para o lado da China, um dos mercados onde o filme se deu melhor, portanto, agora Hollywood escancarou de vez o namoro. Até quando essa prática vai durar, ninguém sabe, mas seria bom que tentassem, pelo menos, disfarçar um pouco, já que esperar que invistam na qualidade dos filmes não adianta.
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