Transformers 5 tem os mesmos erros dos filmes anteriores
Em qualquer rodinha de cinéfilos e críticos, basta um incauto desavisado mencionar o nome de Michael Bay para que todos comecem a vociferar, ficar com os olhos vermelhos e xingar o diretor de todos os nomes possíveis. Felizmente, nunca compartilhei desse ódio. Reconheço que a maioria dos seus filmes apresentam problemas recorrentes e que esses problemas estão intrinsecamente associados ao seu próprio estilo, mas também vejo qualidades indiscutíveis no seu trabalho. Transformers: O Último Cavaleiro (Transformers: The Last Kinght), ou simplesmente Transformers 5, é mais um filme do diretor a confirmar essa minha impressão.
Depois dos eventos mostrados em Transformers: A Era da Extinção, o longa atual (que foi roteirizado por Art Marcum, Matt Holloway e Ken Nolan, todos estreantes no universo dos robôs gigantes) encontra Cade Yeager, o personagem interpretado por Mark Wahlberg (de Horizonte Profundo: Desastre No Golfo e O Dia Do Atentado) morando sozinho em um ferro-velho. No entanto, a sua paz é abalada a partir do momento em que Sir Edmund Burton (Anthony Hopkins), membro de uma sociedade secreta inglesa, o avisa de que ele é o escolhido para evitar que um apocalipse robótico destrua a Terra.
Transformers 5 é um típico filme de Michael Bay, com todos os prós e contras que isso acarreta. No que diz respeito aos pontos negativos, é importante dizer o seguinte: esta não é a obra que mudará a opinião do sujeito que não gosta do seu trabalho. O diretor continua investindo numa montagem completamente esquizofrênica (foram usados seis montadores!), em poluição visual (há inúmeros elementos em cena, porém, os cortes frenéticos não deixam o espectador visualizá-los ou se situar na ação) e numa narrativa exagerada e gritada que não permite o público respirar nem por breves segundos (a primeira cena que se passa no ferro-velho é equivalente a um transe obtido através de entorpecentes).
Além disso, Bay continua dando a mínima importância para o roteiro. Mesmo tendo sido escrito por três pessoas, o texto do filme chega a ser amador em alguns momentos. Toda a subtrama envolvendo a personagem Izabella (Isabela Moner) e a relação de pai e filha que mantém com Cade é desnecessária, uma vez que não contribui para o desenrolar da trama, e mal trabalhada, pois não serve para aprofundar a psicologia dos personagens. Há também o erro infantil de juntar o protagonista com o seu interesse romântico (a atriz Laura Haddock) somente na metade do segundo ato, o que não dá tempo para que o sentimento entre os dois soe verossímil, e de encher a história com acontecimentos supérfluos que, caso fossem excluídos, reduziriam consideravelmente a excessiva duração (os “arcos” dos robôs malvados e do personagem do John Turturro são inteiramente descartáveis).
Os acertos de Michael Bay
No entanto, apesar de continuar apresentando os mesmo problemas, é inegável que o cineasta domina boa parte da técnica cinematográfica. Claramente, há uma arte por detrás dos filmes da franquia Transformers. É muita inocência achar que as coisas mostradas na tela são fáceis de serem feitas e que não é preciso um total controle sobre certos elementos necessários para a realização de um filme. Poucos cineastas são capazes de comandar uma produção do escopo de Transformers e, ainda assim, entregar algo aceitável. Não é à toa que Steven Spielberg o escolheu para a tarefa. Por fim, é sempre válido lembrar que esses filmes têm como público principal o infantil. Tendo isso em mente, não dá para dizer que o espectador alvo não é atingido.
Porém, do outro lado da moeda, também é valido lembrar que Bay sempre se deu melhor em filmes mais pessoais (como o bom 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi). Portanto, a notícia de que ele abandonará o universo dos robôs gigantes para se dedicar a outros projetos vem em um bom momento. Já passou da hora do diretor sair dessa franquia e continuar evoluindo o seu talento em outras obras.