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Todo O Dinheiro Do Mundo – Realidade sem vida!

A premissa de Todo O Dinheiro Do Mundo é interessante, mas…

Adaptar uma história a partir de fatos é algo amplamente visto no cinema, principalmente quando se relaciona com biografias de personalidades históricas. No entanto, é claro que essa proposta implica uma série de fatores para que a obra seja interessante em seu meio artístico, e Todo O Dinheiro Do Mundo (All The Money In The World), de Ridley Scott, peca em não conseguir nos contagiar através dessa romantização. Não causando empatia e nem catarse, o filme ainda possui breves instantes pelos quais seu visual nos atrai, mas que são insuficientes no conjunto final da obra, ainda que sua premissa sugira algo mais interessante para a tela.

Crítica de Todo O Dinheiro Do Mundo

Todo O Dinheiro Do Mundo

Sua história é focada na trajetória da família Getty, às voltas com o sequestro de Paul Getty III (Charlie Plummer). O elemento dramático diferencial é a recusa do avô, J. Paul Getty (Christopher Plummer), em pagar o resgate, o que em si já demonstra ser um conteúdo que permitiria ser trabalhado e explorado por inúmeras maneiras e/ou pontos de vista. Entretanto, o tratamento dos fatos na escrita e sua tradução cinematográfica parecem não ter realmente funcionado, e penso que isso não se deve ao baixo ritmo na condução da narrativa – o que, muitas vezes, pode se tornar um dos principais méritos de uma obra.

Então, qual seria o problema?

É possível que seja a sua falha em trabalhar os pontos de alta e baixa tensão no roteiro, o que nos faz ter a sensação de que o filme segue, assim, numa linha mediana que não nos contagia e nem permite-nos uma empatia real com os personagens, a não ser por possíveis razões muito intrapessoais de cada espectador. E dessa maneira, o filme mantém-nos numa expectativa que não é, ou é minimamente, recompensada.

O curioso é que existem vários momentos na história que poderiam ser mais impactantes e intensos, e isso desde menções de ameaça, presentes na interação dos personagens, até cenas com desfigurações de corpos, que sugerem um trabalho mais gráfico visualmente. No entanto, a impressão é que o filme não emplaca, ou seja, não possui vida.

Crítica de Todo O Dinheiro Do Mundo

Contrapontos entre a Direção de Fotografia e a de Atores

É notável que essa adaptação fílmica de fatos em Todo O Dinheiro Do Mundo possui problemas em sua forma final. No entanto, existem alguns pontos nos quais Scott acerta peculiarmente durante a tradução do texto (roteiro) em imagem.

Um deles é reconhecível pelas belíssimas composições de quadro que nos são apresentadas em alguns momentos-chave da história, trabalhando a disposição dos personagens, figuras coadjuvantes e elementos diversos da cenografia de maneira curiosa e quase instigante. Nesse ponto, os planos com maior extensão do quadro fílmico ganham maiores detalhes, sendo os de melhor destaque na obra, e o mais importante: contribuindo à narrativa. Em alguns momentos, percebemos certos frames que poderiam ser emoldurados e pendurados em uma parede, tranquilamente.

E como acabamento desses planos, mas igualmente importante na transposição de certos sentimentos ao filme, temos uma iluminação cênica nessa fotografia que enaltece a visibilidade (esta mais ou menos misteriosa) que nos é sugerida em alguns personagens. Isso ocorre exatamente porque uma das inquietações propostas pelo roteiro parte da ambiguidade do posicionamento dos protagonistas e antagonistas com a motivação dramática principal, e ainda que isso falhe no conjunto da obra, pode-se afirmar que Scott tentou, ao menos, transpor isso pela iluminação.

Percebe-se assim que o diretor de fato buscou um complemento à trama, isso em momentos nos quais ela mostra essa necessidade. Porém, ainda que isso ajude no desenvolvimento através da estética, esse fica estagnado pelos diálogos fracos, sem contar o teor maniqueísta no tratamento final do roteiro, o que pode atrapalhar o espectador na apreciação da construção visual aqui citada.

Crítica de Todo O Dinheiro Do Mundo

Outro problema técnico aparenta estar na direção de atores. Sobre os coadjuvantes, enquanto temos Charlie Plummer (J.P. Getty III), por exemplo, em alguns momentos nos quais não transmite verossimilhança em sua atuação, Mark Wahlberg (Fletcher Chase) – de Pai Em Dose Dupla 2 permanece numa expressividade séria e linear que não condiz com a transição emotiva na trajetória de seu personagem, e isso mesmo com o ator trazendo algumas breves nuances na interpretação.

Já com os protagonistas percebemos um esforço maior no trabalho, mas que falha e/ou não se complementa com o texto escrito. Michelle Williams (Gail Harris) – de O Rei Do Show parece um pouco perdida entre as emoções que precisa transmitir, ou mesmo sugerir como sentimento interno na personagem, o que torna-se um problema ainda maior pela importância de seu papel.

No entanto, uma atuação mais simples e coerente surge com Christopher Plummer (J.P. Getty) – de Memórias Secretas, mas os diálogos empregados ao seu personagem atrapalham a visibilidade de sua execução, sendo o ator direcionado a alguns momentos bem fracos da história. Ou seja, em termos gerais, mesmo a direção acertando em pontos isolados, há aspectos do roteiro ao set que atrapalham a narrativa.

Tendo em vista tais impressões, ainda que Todo O Dinheiro do Mundo conte com eventos verídicos que poderiam tornar seu conteúdo mais interessante, é uma pena que a tradução dramatúrgica dessa história esteja tão abaixo de sua possível intensidade real dos fatos. E quando a história não parece ser bem contada, ela perde seu possível ou real valor simbólico, que independe da mídia para a qual é adaptada.

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