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Terremoto – Hollywood e Europa em harmonia!

Sequência de A Onda, Terremoto não depende do antecessor para ser apreciado

Filmes de catástrofe são, por natureza, fetiches niilistas hollywoodianos. O prazer de ver a destruição, de imaginar um mundo e um modo de vida diferentes surgindo das cinzas do status quo. Roland Emmerich e George Romero construíram suas carreiras neste sentimento, embora com estilos e intenções muito diferentes. Da mesma forma, Terremoto (Skjelvet) é um filme de desastre norueguês que complementa o cinema escapista com uma narrativa dramática bem trabalhada.

Crítica de Terremoto (2020)

Canadá, Rússia e Índia são países que, fora os EUA, lideram o gênero catástrofe, mas a Noruega estreou bem com a sua contribuição. A Onda, de 2016, foi um sucesso de crítica e de público, ao equilibrar a construção de personagens com a tragédia em si, evitando colocar o eventual cachorro sendo salvo para obter atalhos à reação emocional do espectador. O sucesso permitiu esta sequência, que tem seu início após o final do primeiro, filme mas com informações suficientes para que não seja obrigatório assistir ao anterior.

Um terremoto em Oslo pode não parecer tão absurdo para quem não é da região, mas para conhecedores é uma premissa similar a do vulcão em Los Angeles de Volcano (1997). O desejo de se ambientar a catástrofe na capital é o que define a história, logo é necessário não se atentar demais à ciência para se divertir com a premissa. Afinal, quanto mais desenvolvida a cidade, maior a fascinação em vê-la desmoronar. A história conta o drama de Kristian Elkjord (Kristoffer Joner), que está separado fisicamente e emocionalmente da sua família dois anos após o desastre do primeiro filme. Apesar de ter salvo várias vidas, ele se sente culpado de não ter feito mais e vive recluso, medicado e depressivo. Essa parte não é muito justificada e se apresenta mais como uma forma de estresse pós-traumático, mas funciona para o roteiro.

(Confira também a crítica de O Oficial e o Espião!)

Sua filha Julia (Edith Haagenrud-Sande), sua mulher Idun (Ane Dahl Torp) e seu filho Sondre (Jonas Hoff Oftebro) buscam se reaproximar, mas respeitando o seu espaço e tempo de cura. Este elemento narrativo já seria o suficiente para um bom drama, e o roteiro de John Kare Raake e Harald Rosenlow Eeg sabe disso. No primeiro e segundo atos, o iminente terremoto funciona como um fantasma de casa mal-assombrada, aparecendo como um vulto, pequenos tremores, um sinal não-confirmado de um problema maior. Kristian é geólogo, e começa a estudar o trabalho de um colega seu que morreu em um acidente em um túnel, enquanto investigava tremores sísmicos atípicos. Com a ajuda de Marit (Kathrine Thorborg Johansen), filha do falecido, ele começa a desvendar uma série de erros de leitura que podem ter mascarado a possibilidade de um terremoto enorme que poderá devastar a cidade. Kristian luta contra sua culpa e o ceticismo de todos, e quando suas suspeitas são confirmadas já é tarde demais, tudo que ele pode fazer é tentar salvar a própria família.

Crítica de Terremoto (2020)

Bom uso do orçamento

Com todos os truques e saídas inteligentes para evitar as custosas cenas de devastação, Terremoto até dá a impressão de que o desastre acontecerá fora da tela, e a estrutura do roteiro certamente permite isso. Contudo, o filme entrega um terceiro ato cheio de efeitos especiais de qualidade que concorrem com qualquer produção hollywoodiana. Quando o terremoto finalmente acontece, as bem planejadas sequências usam a computação gráfica para mostrar a devastação de Oslo, sem perder foco nos personagens que já estavam sendo construídos. O niilismo se transforma em suspense, o escapismo em tensão.

Terremoto é o primeiro longa do diretor John Andreas Andersen, que se destaca pelo uso bem planejado de efeitos e pelo foco nas personagens. Grande parte da tensão do terceiro ato vem da credibilidade adquirida no começo do filme, que deixa claro que o final feliz não está garantido. Mesmo quando Kristian desesperadamente liga pra polícia fingindo que plantou bombas em universidades, com o intuito de que sejam evacuadas, o desfecho não é o que se poderia esperar. O que chama atenção em Terremoto não é que tem algo de inovador, mas que existe um resultado bom ao usar corretamente estruturas narrativas, construção de personagens e um bom planejamento de uso orçamentário. O filme é acima da média por cumprir corretamente seu papel de entretenimento, principalmente se comparado a outros do gênero, sem perder a alma das personagens ou cair em melodrama.

Terremoto foi originalmente lançado em 2018, mas chega só agora nos cinemas brasileiros, embora seja um trunfo para ele chegas às telas em uma época de Covid-19 e sem concorrência no mesmo gênero. As atuações são boas, os efeitos satisfazem os sedentos por destruição e a narrativa se segura pelo drama familiar bem construído. Não é obrigatório assistir A Onda antes, embora conferir pode pode acrescentar à experiência,  visto que são as mesmas personagens e é uma continuação da história.

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