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Takara – A Noite em que Nadei – Problemas de Ritmo!

Produção franco-japonesa peca pelo sentimentalismo exacerbado

Desenvolver uma narrativa silenciosa e contemplativa, com longos planos e ritmo lento, não é uma tarefa simples. Quase sempre pode acarretar em falhas para realizadores que não dominam a linguagem. Pois o duo Kohei Igarashi e Damien Manivel (uma coprodução entre Japão e França), fazem exatamente isso. Takara – A Noite em que Nadei (Takara – La nuit où j’ai nagé) é um desastre em ritmo, e piegas ao retratar poderosos temas sensoriais como a solidão e a saudade.

Critica de Takara - A Noite em que Nadei

O filme tem início com um homem saindo de casa durante a madrugada para trabalhar em um pesqueiro. Em seguida, o seu filho Takara, de aproximadamente seis anos, acorda com o barulho do carro e não consegue mais dormir. Passa o resto da noite tentando assistir televisão, comendo alguns petiscos e desenhando exemplares da fauna marinha. Completamente sonolento, Takara vai para a escola, mas acaba se desviando do caminho com a missão de levar o desenho de um peixe  para o pai. E é a partir desse momento que a jornada começa. Ou, particularmente, deveria terminar.

Há quem defenderá a película como uma história filosófica. Mas soa mais como um desespero dos diretores em retratar o universo sensorial do personagem, além de forçar o espectador a acreditar  nesse viés narrativo. O ritmo deveras lento (o que não é um problema, como já mencionei acima, desde que seja bem desenhado e executado) é, infelizmente, o óbito da trama, fazendo a quase uma hora e meia de projeção parecerem duzentos longos e vazios minutos de puro cansaço.

Crítica de Takara - A Noite em que Nadei

Ator mirim e fotografia: os salvadores 

Existe uma tentativa de trazer esses valores sentimentais através de um ritmo lento. E a pieguice dos diretores só confirma esse fracasso, ainda mais se compararmos à obras similares e recentes, como por exemplo Cães Errantes (2013), de Tsai Ming-Liang. De alguns anos para cá, é recorrente dentro do cinema o esforço de alguns realizadores para se aproximar do estilo contemplativo desse mestre do cinema malaio. Na maioria dos casos, o fracasso é iminente. Takara – A noite em que nadei não foge dessa estatística.

Mesmo com esses problemas, é justamente o simpático ator mirim Takara Kogawa, que atrai a atenção do espectador pela leveza e naturalidade em cena. O que acarreta, esteticamente, uma característica documental para a jornada do personagem. A fotografia, a cargo de Wataru Takahashi, é  um dos elementos cruciais para positivar o filme.

Enquanto as cenas internas, após o acordar de Takara, são mergulhadas na escuridão e compostas por planos fechados, no momento inicial da jornada do protagonista, ou seja, no momento em que ele “começa a nadar” (e talvez seja essa a explicação para o nome do filme na língua de origem), as cenas partem para planos abertos, cobertos pela neve e irradiados pelo fortíssimo desenho fotográfico construído por Wataru.

Em suma, Takara – A noite em que nadei é uma jornada exaustiva de uma simpática criança por um caminho nada filosófico e em um ritmo completamente truncado.

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