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Roma – União de técnica e humanismo! (MOSTRA SP)

 Roma é mais um grande trabalho do diretor Alfonso Cuarón

(Roma tem previsão de estreia em circuito comercial e na plataforma Netflix dia 14 de dezembro, mas está na programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema)

Do trio de diretores mexicanos com fama em Hollywood formado por Alejandro G. Iñárritu e Guillermo Del Toro (de A Forma da Água) e Alfonso Cuarón, este último pode ser considerado o mais talentoso. O título é fruto de seu virtuosismo técnico, principalmente ligado ao trabalho de câmera, e pelo fato do diretor já ter passado por vários gêneros: do drama infantil A Princesinha ao sensorial Gravidade, passando pelo road movie E Sua Mãe TambémSeu novo trabalho, Roma (Idem), no entanto, é o seu filme mais pessoal e que destaca uma característica forte de Cuarón: o humanismo.

Crítica Roma

O longa se passa na Cidade do México, no meio dos anos 70, e acompanha uma família burguesa. O foco é a empregada da casa, Cleo (Yalitza Aparicio), uma jovem de descendência indígena. Paralelo aos trabalhos domésticos, Cleo tem um relacionamento muito forte com os três filhos de seus patrões. Com a chegada de um momento político delicado no país, ela irá vivenciar mudanças na sua rotina com a  patroa Sofia (Marina de Tavira) e com o jovem Fermin (Jorge Antonio Guerrero).Cuarón é, literalmente, o dono do filme. Além da direção, ele assina a produção, o roteiro, a montagem e a fotografia de Roma. 

O roteiro é de uma humanidade atroz. A história é apresentada ao público pelo ponto de vista de Cleo, que mesmo tendo um olhar infantil sobre o mundo, é obrigada a amadurecer. Outra personagem que passa por mudanças é Sofia, por conta de uma crise no seu casamento. Nada do que aparece no longa é por acaso ou tem uma visão simplista e caricata. Tudo tem um objetivo e serve para mostrar que o mundo não é o preto e branco que Cleo enxerga.

Fotografia e elenco sublimes

Falando em preto e branco, a fotografia de Roma é sublime e apresenta um forte sentido narrativo. No início, o branco é bem contrastado, mas pouco a pouco vai se tornando um tom de cinza. A câmera está quase sempre em movimento e isto não é exibicionismo. Nas cenas em que Cleo limpa o térreo da casa, a câmera sempre a acompanha, fazendo um movimento de 360º. Além do cuidado na execução, esse movimento já diz muito sobre a rotina da personage. Todos os momentos do filme tem esse cuidado com a mise-en-scène.  

Crítica Roma

Apesar de exagerar nos usos de foreshadowing – que é quando algum elemento avisa o espectador que alguma coisa grave vai acontecer – o condução do filme é segura. Isso pode ser notado nos planos longos e bem pensados do filme. Também vale destacar que o drama funciona muito bem em Roma. Cuarón não apela para uma música triste ou para o melodrama fácil. Ele prefere deixar a câmera no rosto dos atores, usar bem o espaço pra invocar um sentimento e deixar o olhar dos atores fazer todo o trabalho.

Já que mencionei o trabalho de direção de atores, a jovem Yalitza Aparicio merece destaque. Para uma fprimeira atuação, a moça está muito madura. Tem uma presença forte, carisma e um olhar muito poderoso. Já Marina de Talvira consegue fazer uma transição difícil da típica burguesa fútil para uma mulher independente.

É interessante vermos que, depois de um projeto grandioso como Gravidade, o trabalho seguinte de Alfonso Cuarón seja um longa tão delicado. É mais uma prova de como o mexicano continua sendo um diretor muito acima da média.

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