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Rock em Cabul – Deixa disso, Bill!

Rock em Cabul

Bill Murray é um ator carismático, sem dúvida nenhuma. O filme pode até não ser aquela maravilha, mas é impossível reclamar da performance do cara, uma afirmação que resume bem a experiência de assistir a Rock em Cabul (Rock The Kasbah),uma comédia  – não tão engraçadadirigida pelo veterano Barry Levinson. O que poderia sair errado na história de Richie Lanz, um empresário picareta do ramo musical, falido, endividado e encrencado no Afeganistão, depois que sua agenciada (Zooey Deschanel) – contratada para se apresentar para as tropas dos EUA – se manda com seu dinheiro e seu passaporte? Com Murray no papel principal, a diversão parecia garantida, mas parece que apenas ele sabia que estava em algo que deveria ser engraçado.

Rock em Cabul

A premissa do roteiro escrito por Mitch Glazer ainda coloca o protagonista no caminho de uma jovem local, que, por conta das tradições do país, esconde da família sua vocação para a música enquanto acompanha secretamente o programa Afhgan Star, equivalente afegão ao American Idol, onde ela deseja se apresentar. É a história básica de um fracassado clichê, divorciado e impedido de ver a filha por não pagar a pensão, que encontra sua tábua de salvação onde menos espera. O problema não é sacar isso enquanto se assiste ao filme, pois ler a sinopse já deixa isso meio claro, e o começo é divertido pela persona sempre levemente cínica de Bill Murray, provocando alguns risos sem muito esforço, mas da metade para o fim a coisa vai ficando bem abaixo do esperado.

Glazer, que roteirizou Os Fantasmas Contra Atacam  e  A Very Murray Christmas, ambos com o ator, apela absurdamente – ou segue alguma diretriz dos produtores, se você ainda tem fé nas pessoas – na criação da prostituta Merci, vivida por Kate Hudson. Além de ser uma bela forçada encontrar alguém assim no Afeganistão, ainda prestando esse tipo de serviço alegremente, a história só precisa dela como acessório decorativo, mas com atitude. Se fosse uma narrativa super escrachada, vá lá, mas não é o caso. Bruce Willis também dá as caras como um mercenário durão, mas sua participação é mal aproveitada, exceto pelo momento mais engraçado do filme, que não é por causa dele, claro, mas sua interação é divertida.

Rock em Cabul

Agora é a hora de lembrar que Barry Levinson dirigiu o ótimo Mera Coincidência, em 1997, uma história cínica envolvendo a política norte-americana e a cultura do espetáculo. Rock em Cabul insinua que vai cutucar um lado pouco comentado das intervenções militares dos EUA, lembrando algo do outro filme. Infelizmente, essa parte mais crítica fica em duas ou três falas, investindo depois no drama da garota Salima, impedida de fazer o que quer apenas por ter nascido mulher, adicionando mais uma subtrama envolvendo uma venda de munição para o vilarejo da menina. Muita coisa, nada funciona e deixamos de torcer pelo personagem principal sabe-se lá quando.

Como se não houvesse problemas o bastante, nossa suspensão de descrença sofre um golpe forte quando Salima precisa cantar. Com um sotaque fortíssimo nos diálogos, fica difícil engolir que ele some quando ela precisa cantar, algo piorado pela apatia de sua dublagem, jogando a verossimilhança pela janela. Aliás, é perceptível demais que certos atores estão dublados no idioma afegão.

Rock em Cabul

Bill Murray segue em seu ritmo normal, o que nos ajuda a chegar até o final, junto com uma inesperada bela fotografia de Sean Bobbit, de 12 Anos de Escravidão. Inesperada porque não todo dia que isso se destaca em uma produção como essa, mas ele realiza um trabalho bem acima da média, sobretudo nas cenas externas, onde a imagem precisa enfatizar o calor. Os verdadeiros méritos do filme estão inteiramente resumidos neste parágrafo.

Com um final açucarado, frustrante pelo potencial da premissa e dos envolvidos principais, Rock em Cabul não acrescenta nada à nenhuma carreira. É chato ver alguém como Barry Levinson, com tanto tempo de estrada e bons filmes no currículo, acomodado e batendo cartão, totalmente dependente de seu ator principal. Ver no cinema é recomendável apenas para os fãs do velho Bill.

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