Quase 18 não uma comédia “com” adolescentes, mas “sobre” eles
A adolescência é quando as maiores mudanças acontecem em nossas vidas. Amadurecemos, descobrimos que o mundo não é preto e branco, que ele não gira ao nosso redor e é quando aparecem as descobertas sentimentais. Também é uma fase de comportamento característico, desde a rebeldia com os pais, as festas, a vida “romântica” sofrida, etc… É uma fase que um bom roteirista pode explorar para tentar compreendê-la. No anos 1980, o cineasta John Hughes foi quem melhor compreendeu esses jovens, mas a tentativa da diretora e roteirista Kelly Fremon Craig é bem válida, apesar de alguns problemas.
Em Quase 18 (The Edge of Seventeen), a protagonista é Nadine (Hailee Steinfeld, de Mesmo se Nada der Certo), uma adolescente em crise. Não apenas as coisas comuns da idade, mas pessoais: tem um péssimo relacionamento com a mãe (Kyra Sedgwick); não se encontra entre a turma da escola e não admite que a sua melhor amiga (Haley Lu Richardson) esteja namorando o irmão mais velho (Blake Jenner), o qual ela tem ciúmes. A sua melhor relação é criada com o seu professor (Woody Harrelson, da primeira temporada de True Detective), que – apesar de, aparentemente, não suportar Nadine – se preocupa bastante com ela.
O roteiro assinado pela cineasta estreante é bem eficiente. Os personagens são bem desenvolvidos, as situações são cômicas e os diálogos são ótimos. São rápidos, modernos e verossímeis com cada personagem. Os melhores ficam por conta de Woody Harrelson que, ao escutar todas as desgraças que acontecem com Nadine, não pensa duas vezes em dar alguma resposta irônica aos dramas da garota. Essa é a relação mais bem explorada pelo roteiro, não que as outras não sejam, pois elas são bem mais complexas do que realmente aparentam ser e isso aproxima o público da protagonista.
Drama de adolescente é tipo assim: muito tenso
Continuando em Nadine, é possível que, durante vários momentos da projeção, o espectador tenha certa antipatia pela garota. Por vários momentos ela se mostra egoísta e birrenta, mas ao lembrarmos qual é o tema abordado do filme, vemos que são compreensíveis essas falhas de caráter da personagem, por conta da sua pouca maturidade. E acompanhamos como a protagonista vai melhorando pouco a pouco e o público vai entendendo-a cada vez melhor.
O elenco está ótimo, mas o destaque fica por conta de Hailee Steinfeld. Ela é o centro do filme e todos os personagens vivem em sua função, com a atriz conseguindo segurar o filme muito bem. Steinfeld demonstra um ótimo timing cômico, um rosto muito expressivo e um grande carisma. Por mais que pareça que ela não convence como a rebelde excluída por conta de sua beleza, o conceito visual da personagem é bem trabalhado – principalmente no figurino – para que passe a imagem que Nadine é a menos popular da classe.
Os veteranos Woody Harrelson e Kyra Sedgwick se mostram muito à vontade em seus papéis e ambos contêm uma excelente química com a protagonista. O elenco mais jovem se mostra tão competente quanto, são atores expressivos e carismáticos, destaque para Hayden Szeto que faz o amigo frustrado que quer algo com a menina, mas fica na – como dizem os adolescentes – friend zone.
Se Kelly Fremon Craig faz um roteiro redondo e acerta na direção de atores, infelizmente comete outros erros na direção. Falta ao filme uma gramática visual mais clara, pois fica mudando o tipo de iluminação, trabalho de câmera e qualidade de imagem todo o moment,o deixando-o visualmente incoerente e isso acaba soando como uma direção insegura. Além da diretora utilizar a trilha sonora de maneira mais óbvia possível.
Por mais que seja admirável a estratégia de utilizar músicas populares para falar sobre sentimentos dos personagens, é uma técnica batida.Entre as escolhas discutíveis, temos um momento em que a protagonista está perdida no seu mundo, vendo o perfil do Facebook do menino no qual está interessada. A música que embala a cena é Save Me, de Aimee Mann. Então, se como roteirista ela se mostra promissora, como diretora ainda precisa de mais sutileza e segurança. Não é um trabalho ruim, mas tem seus defeitos.
Enfim, Quase 18 não chega a ser um grande estudo sobre adolescência como foi Clube dos Cinco, mas é uma tentativa nobre e bem feita. Ainda é possível fazer boas comédias dramáticas e bons estudos dessa fase como esse filme comprova.