Quarteto Fantástico foi comentado no Formiga na Cabine!
Esqueçam as liberdades em relação ao material original ou escalação de elenco. Evidentemente, o que você encontrará na tela não é o grupo criado por Jack Kirby e Stan Lee em 1961, mas a própria Marvel já havia “atualizado” a equipe nos quadrinhos para sua linha Ultimate, que claramente serviu de base para o novo filme. “Ah, isso significa que está, de alguma forma, fiel às HQ’s?” A resposta é sim, mas isso é um ponto positivo (muito) relativo. Mudança de etnia de um personagem central também não incomoda, ou acrescenta algo, logo, vários ataques que a produção vinha sofrendo internet afora são completamente insípidos. Ao assistir ao novo Quarteto Fantástico (Fantastic Four) você nem se lembrará disto, pois estará ocupado reparando em outras coisas.
A passagem da Primeira Família da Marvel pelos cinemas, em 2005 e 2007, deixou muita gente frustrada, muito disso pela abordagem de filme para toda família. Com esses personagens ainda nas mãos da Fox, que na franquia de sucesso X-Men já adota um clima diferente das produções da Marvel Studios, alguém teve a ideia de recomeçar o Quarteto seguindo essa pegada mais, digamos, séria. Absolutamente nada contra! Jogaram tudo fora e chamaram Simon Kinberg, produtor e roteirista associado aos mutantes no cinema, mas a contratação que chamou mais atenção foi a de Josh Trank como diretor, além de co-roteirista. O jovem talento fez barulho com um filme pequeno envolvendo super-poderes, o interessante Poder Sem Limites (Chronicle), seu primeiro longa. Saltar direto para uma produção de grande orçamento não se mostrou uma escolha muito sábia.
Quarteto Fantástico mostra um pouco da infância do incompreendido Reed Richards (Miles Teller), empenhado desde cedo em inventar a tecnologia do teletransporte. Crescido, ele apresenta um protótipo na feira de sua escola, acompanhado pelo amigo Ben Grimm (Jamie Bell), quando é descoberto pelo cientista Franklin Storm (Reg E. Cathey) e sua filha adotiva Susan (Kate Mara). Convidado a fazer parte da Fundação Baxter, ele descobre que seu invento acessava outra dimensão, objetivo do projeto da Fundação para resolver a carência de recursos do planeta. Juntam-se a ele o filho rebelde do Dr. Storm, Johnny (Michael B. Jordan, a escolha mais polêmica), e o arrogante gênio recluso Victor Von Doom (Toby Kebbell).
Você já sabe, não? Eles são afetados pela radiação da outra dimensão e ganham poderes. Reed com sua elasticidade, Johnny capaz de inflamar-se, Sue pode ficar invisível e gerar campos de força e Ben é o azarado, com sua monstruosa forma rochosa. Von Doom não retorna e é dado como morto, algo que você também já sabe como vai acabar. Em seu primeiro ato, o filme vai apresentando seus personagens sem muita pressa, a não ser por Johnny, que dá impressão de ter sido esquecido e em algum ponto os roteiristas lembraram subitamente, encaixando uma cena só para justifica-lo ali. Em todo caso, apesar desta observação, Quarteto Fantástico gera algum interesse aí por tentar colocar-se, em primeiro lugar, como ficção científica com um clima mais sombrio. Opa! Filme cabeçudo de super-herói? Foi o que ele prometeu em seu primeiro terço, mas ao criar mais um hiato de tempo na história, o conjunto descamba.
A primeira bobagem é subestimar a inteligência do espectador com os estúpidos avisos, “7 anos depois” e “1 ano depois”, algo que pode, e deve, ser evidenciado através das cenas. Chegamos à metade reparando em detalhes interessantes, mas a impressão até ali é que o filme de verdade ainda não aconteceu. Os verdadeiros problemas da produção começam a aparecer e a montagem é uma delas, como – por exemplo – no momento em que Ben, transformado em Coisa, é revelado. Mesmo já mostrado, em uma cena seguinte ele está na penumbra, como se ainda houvesse alguma expectativa pela sua aparência – que você também já viu no trailer. Então chegamos ao terceiro ato e parece que veremos alguma ação super-heroica. Estava na hora!
Vilão aparece – não preciso falar quem é – ele é mau, é poderoso (demais até!) e quer sangue. Cabe aos quatro protagonistas resolver a parada, colocando suas diferenças de lado depois de ouvirem várias mensagens edificantes sobre união ao longo do filme. Uma impressão que bateu, neste momento específico, é que eu veria uma demonstração inteligente de poderes combinados para derrotar o malvado, algo como a primeira cena de ação de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Por dois segundos me enganaram… Vilão nível Jeová derrotado de qualquer jeito e agora é tarde demais para esperar algo do filme.
A verdade é que todas as notícias sobre as picuinhas entre Josh Trank e Simon Kinberg, que dizem ter culminado no afastamento do cineasta da franquia Star Wars, parecem mais críveis agora. Quarteto Fantástico é um filme que não se decide, insinuou algo que não teve coragem de entregar e parece que sofreu com a má vontade de seu diretor. Ainda por cima, parece ter apoiado seu marketing em polêmicas de elenco e detalhes estúpidos que atraem atenção dos fãs, como a falta de uma sunga ou calça para o Coisa, como se isso fizesse alguma diferença. O mais irônico é que realmente apresentou alguns conceitos legais, embora desperdiçados, o que me faz pensar que ainda poderia render uma continuação decente… Com outro diretor, claro!