Como boa parte dos livros de autoajuda diz, o momento “zona de conforto” pode chegar para qualquer profissional. A saída, para o cidadão incomodado com seu conforto, é buscar novos desafios, testar seus limites e variar suas tarefas. Russell Crowe está nesta fase. Recentemente interpretou Noé na luxuosa produção dirigida por Darren Aronofsky e tem uma bem sucedida carreira como ator. Trabalhou em épicos, dramas, suspenses, fantasias, romances e por aí vai. Em uma espécie de túnel do tempo, podemos ainda lembrar que ele foi um gladiador romano, um matemático esquizofrênico, o pai de Superman e até um simples apreciador de vinhos. Desafios superados nesta profissão, levou até uma estatueta do Oscar por sua atuação em Gladiador.
Crowe já esteve envolvido na tentativa de direção em pelo menos três projetos antes de efetivar sua estreia agora, incluindo um documentário sobre o humorista Bill Hicks e um suspense sobre o assassinato de um policial em Los Angeles. No entanto, nenhum desses projetos foi concretizado, até chegarmos a este filme que é a razão deste texto.
Após mais de 40 anos atuando no cinema, o eterno gladiador dirige este seu primeiro longa, Promessas de Guerra, que é um drama emocional de época rodado na Austrália e na Turquia. A trama se desenvolve durante a I Guerra Mundial, em 1919, quatro anos após a Batalha de Gallipoli. O fazendeiro australiano Joshua Connor (Crowe), após um novo trauma, viaja para a Turquia a fim de descobrir o paradeiro dos corpos de seus três filhos, reportados como mortos neste combate. Chegando ao país, Connor é ajudado por Ayshe (Olga Kurylenko), dona de um hotel em Istanbul, e encontra o Major Hasan (Yilmaz Erdogan), oficial turco que atuou na batalha contra seus filhos. Assim, inicia uma jornada para descobrir a verdade e encontrar a famosa paz interior.
Andrew Knight e Andrew Anastasios, autores do roteiro e desconhecidos do público em geral e com trabalhos mais direcionados para a televisão, desenvolveram uma linha bem tradicional de argumento e, junto à direção de Crowe, contam uma história real carregada, em demasia, no melodrama. É fato que o tradicional bem feito pode ser bem interessante, mas, verdadeiramente, esta obra não escapa de um produto recheado de clichês e conta com uma direção que, em poucos momentos, parece à vontade. Mesmo como novato no cargo, Crowe poderia ter feito escolhas mais apropriadas, porém usa, por exemplo, um desnecessário slow-motion em algumas cenas e flashbacks repetitivos, sem graça e pouco inspirados.
A história acerta a princípio na relação crescente e tolerante de Crowe com o major turco, responsável pela possível morte de seus filhos. Afinal, em uma guerra, quem está no combate não necessariamente serve de vilão, somente está cumprindo ordens. Assim, esta relação de ódio e entendimento funciona bem no início, mas infelizmente, não se liberta de um sentimentalismo chato que compõe também o restante dos relacionamentos, como o romance insosso de Connor e Ayshe.
Crowe também não traz nenhuma estrela hollywoodiana (além dele mesmo, é claro) para o elenco, deixando a sensação de que os holofotes deveriam e precisariam estar sobre ele. Não por isso temos atuações ruins, o restante do elenco é até competente, mas os personagens são rasos, o que faz o público não se importar com seus destinos.
Não duvido que esta batalha de Gallipoli possa ter um lado pessoal para Crowe, mas mesmo assim, como primeiro trabalho atrás das câmeras, o renomado ator fica devendo mais ousadia e substância para nós, espectadores, pois provavelmente não daremos muita importância a esta obra que deverá ser esquecida assim que subir os créditos finais. E isso acontece, pois já esqueci uma parte…