O cinema japonês sempre foi mais voltado para o caminho do que para o objetivo. É justamente a jornada o foco do filme de Kurosawa, mas não estamos falando do tão celebrado Akira, e sim do menos glamouroso Kiyoshi Kurosawa. Para o Outro Lado (Kishibe No Tabi), pode servir como reflexo da situação de seu diretor, no que se refere ao peso do sobrenome, embora não seja parente do diretor de Os Sete Samurais. Seu filme é uma viagem honesta pelo luto e a aceitação.
Seguimos a jornada de Mizuki e seu falecido (?) marido Yuzuke, que retornou após 3 anos de sua morte. Aparentemente, no universo ficcional do filme, essa possibilidade é plausível, pois ele não é exatamente um fantasma. Ele pode tocar e ser visto por outras pessoas. Esse retorno tem o propósito de conduzir Mizuki por uma viagem de expiação, que apresenta onde ele esteve, as pessoas com quem interagiu e que vai terminar na praia, local onde ele teria falecido. Neste caminho encontraremos com outros que podem ser iguais a ele, ou que precisam aprender sobre o que eles são, como ela.
O filme, uma co-produção Japão-França, foi o vencedor do prêmio de direção da mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes de 2015. O prêmio é oferecido a diretores normalmente estreantes ou de pouca expressão no cenário cinematográfico. No entanto, Kiyoshi Kurosawa já havia feito filmes de certo destaque e de boa crítica, como Sonata de Tóquio, de 2008. Feitas as devidas apresentações da obra, a conclusão geral dele é que é um filme… chato. É até um pouco cruel simplificar tudo desta maneira, pois o filme tem muitas outras qualidades. Por exemplo, fotografia simples e funcional, de pouca ou nenhuma estripulia, que trabalha exclusivamente a favor da história. O competente elenco (quase todo ele, pelo menos) também não tenta se sobressair à obra e sua proposta.
O problema é que o filme, com seus 127 minutos, é lento, modorrento e repetitivo. A edição parece, às vezes, descuidada e os efeitos são até um pouco amadores e desnecessários. A trilha sonora soa genérica e, em alguns momentos, irrelevante. Mas por incrível que pareça, apesar de todas essas críticas, o filme não é ruim! Ele entrega exatamente o que se espera de uma história que retrata o luto e a morte. Uma experiência de aprendizado, de crescimento espiritual – às vezes – de desesperança, a filosofia de superação, algo bastante contemplativo na visão nada embasada de um espectador ocidental, só que ele não apresenta novidades e não empolga. Parece até um pouco plastificado, uma vez que trata de um assunto tão melancólico e ainda assim não parecia haver uma tristeza a ser sentida. Ele não convida à empatia.
Resumindo tudo, Para o outro lado é um filme até bonito e honesto, mas não satisfaz, justamente por não ter criado algo a ser satisfeito.