Pantera Negra não traz muita novidade, mas é uma boa diversão
Não é de hoje que muitos têm apontado que os filmes da Marvel Studios estão seguindo à risca uma famigerada “fórmula”, mudando apenas a cobertura do bolo de acordo com seu protagonista. Por mais ranzinza e pedante que possa parecer, essa afirmação não deixa de ser uma verdade. Todavia, às vezes, a cobertura pode ser tão interessante a ponto de merecer destaque, como é o caso de Pantera Negra (Black Panther).
(Confira nosso Formiga na Cabine sobre o filme. Leia também a resenha da HQ Pantera Negra: Uma Nação Sob Nossos Pés)
Pantera Negra se inicia após os eventos de Capitão América: Guerra Civil, mostrando o retorno do príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) a Wakanda para sua cerimônia de coroação. O reino de Wakanda, que fica escondido em algum lugar do continente africano, é dividido em cinco tribos, onde uma delas não apoia o governo atual por considerá-lo fraco. Após T’Challa ser empossado, ele parte em busca de Ulysses Klaue (Andy Serkis), que apareceu em Vingadores: Era de Ultron e agora roubou uma quantidade significativa de vibranium. O bandido recebe ajuda de Erik Killmonger (Michael B. Jordan), cuja intenções e interesse por Wakanda são um mistério.
A despeito do roteiro, não temos muita novidade na sinopse e tampouco em seu desenvolvimento. A jornada de seu protagonista, mesmo que funcional, não apresenta motivações sólidas o suficiente além de suas próprias responsabilidades como novo Rei. Mas algo que sustenta o seu arco é o conflito em relação a seu pai, o antigo rei T’Chaka (morto em um atentado no já citado filme do Capitão América) e a política isolacionista de seu reino.
No caso, todos os ancestrais que governaram Wakanda, mantiveram-se alheios ao mundo por acharem que sua tecnologia avançada traria consequências devastadoras nas mãos de outros. O dilema em torno dessa questão, mesmo não aprofundada – pelo visto, para Kevin Feige, tais questões não devem ser abordadas com maior profundidade em filmes de super-herói – torna o enredo mais interessante e menos maniqueísta.
Infelizmente, a narrativa também apresenta diversas conveniências, tanto para apresentar um problema quanto sua solução, o que diminui consideravelmente a tensão no espectador e sua catarse. Tal problema no texto acaba afetando também algumas cenas de ação, que poderiam ter uma carga emocional mais elevada.
Esteticamente belo e diferente
Se o roteiro não tira o espectador do lugar comum, podemos dizer que esteticamente o filme consegue trazer um frescor a esse universo. O diretor Ryan Coogler (Creed), decidiu trazer para a equipe de Pantera Negra, alguns colaboradores de seus filmes anteriores, como a diretora de fotografia Rachel Morrison e Hannah Beachler no design de produção. Mesmo com a questão tecnológica muito presente, os figurinos, objetos de cena e cenários em Wakanda conseguem passar a ideia de uma cultura tribal que permaneceu afastada de influências externas.
A estética do filme, totalmente baseada na cultura africana, é um verdadeiro deleite visual que, considerando a proposta, consegue ornar com esse universo e deslocar o espectador para um mundo realmente novo e relacionado a tudo que foi visto nos filmes anteriores do estúdio.
As coreografias de luta também foram baseadas em artes marciais africanas, o que traz muita riqueza ao longa. Vale apontar aqui que as lutas um contra um, sem a indumentária de Pantera Negra, são muito mais tensas, empolgantes e interessantes que as cenas de ação principais.
Outro ponto importante de ressaltar é a interessante trilha sonora incidental do filme, composta com poderosos tambores e instrumentos de sopro que ditam o ritmo de algumas cenas. Além da qualidade em si da música, ela também é um forte elemento cultural de Wakanda, ajudando na imersão daquele ambiente.
Personagens não tão profundos, mas atuações carismáticas
Como apontado anteriormente, o roteiro não apresenta grandes surpresas e seus personagens acabam caindo na superficialidade. Isso é verdade, mas, felizmente, a atuação daqueles que dão vida aos principais personagens é competente e carismática. Mesmo que nenhum entregue um trabalho perfeito, é visível que todos ali estão se esforçando e acreditam no projeto – diferente de Thor: Ragnarok. Tanto o protagonista quanto seus coadjuvantes, em especial Lupita Nyong’o (fazendo o papel de Nakia) e Danai Gurira (interpretando Okoye e mais conhecida por ser a Michonne de The Walking Dead) conseguem transmitir veracidade em suas personagens, que são praticamente unidimensionais.
Esse carisma faz com que o espectador se importe com a equipe, apesar da superficialidade e dos tropeços deste texto, que abusa da verborragia para desenvolvê-los. Michael B. Jordan também consegue relativo destaque. Mesmo que emulando seus papéis anteriores em certos momentos, o ator consegue transmitir as frustrações de seu personagem e ganhar a empatia do público. Algo indispensável para a jornada de seu personagem.
Pantera Negra é uma boa diversão que não desrespeita o tempo do espectador. Embora o roteiro nem tente inovar, há uma pincelada – pequena, mas há – sobre assuntos interessantes com relação a isolacionismo de nações (assustadoramente atual) e enriquece um pouco mais o Universo Cinematográfico da Marvel. Esteticamente muito bem resolvido, traz algo a mais para o gênero em termos visuais. É a mesma receita de bolo, um clichê verdadeiro, mas temos aqui uma cobertura levemente diferente, que vale a pena experimentar.