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Orgulho e Preconceito e Zumbis – Preparem-se para cortar os pulsos!

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Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, teve sua primeira publicação em 1813. Até aqui foram diversas adaptações cinematográficas, passando por Bollywood até chegar ao filme de 2005 dirigido por Joe Wright. Em 2009 foi lançada uma releitura literária, onde Seth Grahame-Smith adicionou mortos-vivos ao clássico. Qualquer liberdade tomada para o surgimento de algo novo é extremamente válida, desde que haja respeito com quem a consome, porém, na genial – sim, fui irônico – adaptação homônima da obra de Austen / Grahame-Smith, Orgulho e Preconceito e Zumbis (Pride and Prejudice and Zombies), não há nenhum. É bom deixar claro que os comentários aqui dizem respeito somente ao filme.

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A trama se passa na sociedade aristocrática inglesa do século XIX, girando em torno da família Bennet, composta pelas jovens irmãs Elizabeth (Lily James), Jane (Bella Heathcote), Lydia (Ellie Bamber), Mary (Millie Brady) e Kitty (Suki Waterhouse), obrigadas por seu pai (Charles Dance) a treinar artes marciais na China, para se defenderem durante o apocalipse zumbi. Enquanto a Sra. Bennet (Sally Phillips) está mais preocupada em arranjar bons casamentos para suas filhas, Elizabeth e Jane flertam e, em alguns casos, discutem (muito) com Sr. Darcy (Sam Riley) e Sr. Bingley (Douglas Booth), tentando conciliar as preocupações e responsabilidades do amor em um universo semi-apocaliptico, já que – de alguma forma – mesmo com a sociedade à beira de um colapso, consegue-se tempo para as convenções sociais da época.

Escrito e dirigido por Burr Steers, o filme consegue ter em seus 10 primeiros minutos seu momento mais razoável (esse é o melhor termo), pois contém os mesmos erros do seu restante. A sequência pré-créditos consegue estabelecer a maioria das regras daquele universo sem perder muito tempo, o que é muito bom, já que -teoricamente – haveria mais tempo para desenvolver situações, personagens e conflitos. O roteiro se apoia em uma tentativa de subversão do gênero, ensaiando criar personagens femininas fortes para poder sobreviver naquele universo, mas falha de forma ferrenha. Em um primeiro momento, pode-se até exaltar essa tentativa, mas logo percebe-se que todas elas acabam dependentes de encontrar o “amor de suas vidas”, frustrando todo o planejado por Steers.

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O filme chega a insinuar algumas situações que poderiam render bons frutos, gerando contradições que engrandeceriam trama e personagens, porém acaba se acovardando e abandonando tudo que foi plantado.Também peca no final, quando opta por jogar na cara do espectador um momento digno de novela mexicana, também abandonado após os primeiros créditos estilizados finais, com o diretor tentando “conserta-lo” . Aliás, abandonar parece ser a especialidade do mesmo, já que ele faz questão de inserir muitos personagens na trama, os quais desenvolve pouco (aqueles com maior desenvolvimento são estereotipados e unidimensionais), nos força a acompanhá-los e simplesmente não confere relevância a eles, mudando o foco para outa coisa. Ainda no quesito roteiro, é importante dizer que o diretor toma a liberdade de criar zumbis nos moldes dos vampiros da saga Crepúsculo, o que já diz para onde essa história caminha.

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Em termos de direção, Steers consegue ser tão pífio quanto no texto, optando por conduzir as cenas de maneira extremamente previsível. Por exemplo, um personagem A vai tentar matar um personagem B com um machado, a câmera foca no braço com o machado, e vem um personagem C e lhe corta o membro. Tal construção parece indicar que o diretor faz questão de chamar o espectador de burro, tirando toda e qualquer surpresa do filme. As cenas de luta também são mal filmadas, entregando a incompetência ao leva-las para lugares mais escuros, onde torna-se quase impossível entender o que está acontecendo. A ausência de batalhas mais sangrentas também é sentida, pois tal elemento poderia, ao menos, tornar as coisas mais viscerais e interessantes. Sendo assim, quando um personagem vai esmagar a cabeça de um zumbi, o diretor abre o plano e faz com que o espectador imagine a violência.

O bom uso do som também é escasso, surgindo com funcionalidade apenas quando um zumbi vai ser morto por uma arma, ou quando existe uma tentativa de fazer o público pular da cadeira. Nas duas situações, a coisa acontece de forma parecida: Na maioria das vezes acontece quando um zumbi está falando com alguém – sim, falando – e um barulho muito alto do tiro que vai mata-lo intervém, ou uma música muito alta revela que aquele personagem era um morto-vivo. Obviamente nada disso funciona, já que o recurso é usado tantas vezes ao longo da projeção que torna-se previsível.

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Fica muito evidente que, por conta do excesso de personagens, pouca atenção foi dada aos atores. Sam Riley e Lily James são talentosos, sem sombra de dúvidas com muito mais a oferecer se fossem melhor conduzidos, mas a impressão que fica é que sua função foi apenas decorar as falas. Dessa maneira, nem mesmo Charles Dance – que se esforça – é capaz de segurar a barra. A direção de arte, por sua vez, até tenta recriar a época, mas tem atenção somente para as irmãs, esquecendo de criar figurinos diferentes para o resto do elenco. Remi Adefarasin, responsável pela direção de fotografia prefere omitir-se, sem usar nenhum artifício em favor da narrativa.

Orgulho e Preconceito e Zumbis não faz questão alguma de ser minimamente agradável ou respeitar a inteligência de seu público. Claramente, é um filme feito sem o menor cuidado e não oferece nada a seu espectador. Jane Austen não merecia isso.

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