Recomendar um filme começando pelo seu país de origem é complicado, dependendo de qual lugar estamos falando. Quando assisti a The Raid – Redemption, lançado em dvd como “Operação Invasão”, no dia seguinte, falando com um amigo, comentei que havia visto um filme de ação indonésio, e o mesmo, de primeira, achou que se tratava de algo como aqueles pastiches indianos, mais do que exagerados e cômicos. Ele não poderia estar mais errado.
Operação Invasão chegou às minhas mãos sem que eu soubesse muito a respeito, e a única coisa que eu tinha ouvido sobre ele é que se tratava de uma espécie de Tropa de Elite da Indonésia. Outra bola fora de quem tentou colar esse rótulo, pois o filme já mostra de cara que vai por outro caminho. Ao ver o protagonista treinar movimentos de artes marciais, percebi que não teríamos uma versão asiática do Capitão Nascimento. Até temi que o filme se apoiasse apenas nisso, mas fui surpreendido por um filme de ação muito bem-feito, estiloso, violento de acordo com a história e que mantém o espectador entretido até a situação explodir, para então a adrenalina dominar até o fim. Quando começa a ação de verdade, é difícil desgrudar até o final, que quando chega faz com que se diga, mesmo que mentalmente, “Já?”
O filme começa em Jacarta. Em poucos minutos, já se inicia uma ação de uma equipe especial de polícia para prender um traficante. O problema é que o chefão do crime tem como sua fortaleza um prédio de trinta andares, dominando o local e os moradores com câmeras e alto-falantes. A equipe deve chegar ao último andar para encontra-lo. A essa altura, já deu para adivinhar que o grupo de elite ficará preso e acuado ali, cercado por marginais e gente inocente que dificilmente fará algo por eles. O circo começa a pegar fogo e falar mais sobre isso é perda de tempo.
Terceiro filme de Gareth Evans, um galês que conheceu a Indonésia ao rodar um documentário sobre a arte marcial local, o Pencak Silat. Durante uma demonstração do estilo, viu Iko Uwais em ação, e resolveu convida-lo para a realização de um filme que usasse aqueles movimentos. Iko tornou-se o protagonista em Operação Invasão. Veja abaixo uma das apresentações do rapaz:
Evans foi bastante eficiente, criando uma narrativa que, sabiamente, não tenta entregar mais do que se esperaria dela. Com uma descrição dessas, é claro que o grande atrativo não é o roteiro e, mesmo assim, em nenhum momento alguém sente a sua inteligência subestimada. Sobra então partir com tudo para cima das sequencias de ação, feitas com maestria, lembrando os bons exemplares do cinema de Hong Kong entre os anos 80 e 90. O clima tenso é construído usando o espaço fechado e explorando a gravidade da situação. Mesmo com coreografias que não se pautam pelo realismo extremo, o que não é nenhum demérito, quando a pancadaria começa nos corredores do prédio, a tensão se mantém graças ao ambiente de perigo já estar bem estabelecido para o espectador. Até mesmo a concessão de um clichê típico de filmes de artes marciais, já perto do final, não compromete a diversão. A fotografia utiliza muito o recurso de câmera lenta como ferramenta cosmética, deixando algumas cenas mais bonitas. O mais importante é que, mesmo sendo apenas para “embelezar”, não pesa e o filme flui numa boa.
The Raid – Redemption, ou “Operação Invasão” , é um filme que prova, tanto a Hollywood quanto a qualquer cineasta, que muitas vezes o segredo de um bom filme não está em alguma suposta inovação de qualquer gênero ou quebra de convenções, mas em conhecer muito bem a cartilha e fazer a lição de casa com carinho. E o melhor é que a continuação está para sair do forno! Esperamos que seja lançada também nos cinemas daqui.