É certo que depois de assistir a O Mensageiro (Kill The Messenger), aquela parcela do público mais curiosa vai dar uma olhadinha no Google para saber mais sobre Gary Webb, personagem principal deste filme baseado em fatos. Isso se já não conhecia sua história, mas o caso que o jornalista revelou, lá pelo meio da década de 1990, é de uma sordidez difícil de acreditar, até mesmo para os padrões das sujeiras conspiratórias mais famosas da história dos EUA.
Webb, então repórter do pequeno jornal San Jose Mercury News, após uma reportagem sobre apropriação de bens – pelo governo – dos acusados por tráfico de drogas, acaba descobrindo algo estranho em um processo. O caso de um traficante tem como testemunha de acusação um barão das drogas muito mais poderoso no negócio, o que parece não ter nenhuma lógica, já que os verdadeiros alvos do combate às drogas deveriam ser os grandes distribuidores. Qual é o objetivo de um suposto acordo com um grande para pegar um menor? A investigação leva à descoberta que CIA teria facilitado a entrada de toneladas de cocaína no país, sob a condição de que parte deste dinheiro financiasse os Contras na Nicarágua, a guerrilha anticomunista. As pistas dão a entender que o desespero do governo, para evitar uma maior influência soviética na América Central, culminou na explosão do tráfico e a expansão do crack em bairros pobres de Los Angeles, mas de forma calculada.
Escrito a partir dos livros Dark Alliance, do próprio Gary Webb, e Kill The Messenger, de Nick Schou, o roteiro de Peter Landesman não tinha como se afastar muito de uma fórmula já consagrada no cinema, quando o assunto é investigação jornalística envolvendo altos escalões do governo. Todo mundo já espera ver o personagem enfrentar a pressão e o descrédito em sua busca pela verdade, mas o diretor Michael Cuesta – responsável por vários episódios da série Homeland – entrega um filme redondo, mantendo o ritmo e demonstrando segurança nas escolhas de enquadramento. O diretor de fotografia Sean Bobbit, de Shame e 12 Anos de Escravidão, com tons meio opacos contribui bastante para o clima realista e de moral nebulosa que o filme propõe.
Jeremy Renner se sai muito bem na composição do sujeito comum que enfrenta o mundo inteiro. Interpretando um personagem que não tem dúvidas sobre qual caminho seguir, o ator consegue uma performance honesta e convence nas situações de maior estresse. O resto elenco segura bem as pontas, mas nas pequenas participações temos alguns destaques. Andy Garcia, Ray Liotta e Michael Kenneth Williams, este último ainda subestimado no cinema enquanto dá show em seriados como Boardwalk Empire, ajudam a valorizar o conjunto com personagens interessantes apesar do pouco tempo em cena.
O Mensageiro é um filme que além de evidentes méritos artísticos/técnicos, carrega consigo o valor de uma discussão sobre fins que justificariam meios, potencializada pela gravidade da situação e pelo seu fundo de realidade. No final, deixa aquela vontade que todo cinéfilo conhece bem; conversar sobre o que acabou de assistir. Assunto não vai faltar, com certeza, já que esse bate-papo não vai ficar restrito ao mundo do cinema… Se isso é agradável ou não, já é uma outra história.
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