De onde os grandes gênios da humanidade tiram sua inspiração? De uma força divina? De uma combinação aleatória de genes? De onde vem esse fator que os diferencia e separa tanto dos meros mortais? Essa é uma das muitas questões levantadas no belo O Homem Que Viu O Infinito (The Man Who Knew Infinity), segundo longa do diretor Matt Brown, após um hiato de quinze anos. Estrelado pelos ótimos Dev Patel e Jeremy Irons, o filme conta a impressionante história, baseada em fatos, de Srinivasa Ramanujan, nascido em 1887. Indiano pobre e sem graduação, aprendeu matemática sozinho, desenvolvendo teorias que a transformaram pra sempre.
A trama mostra como Ramanujan (Patel) – através de muito esforço, determinação e perseverança – conseguiu chamar atenção pro seu trabalho e ser convidado para publicá-lo na prestigiada faculdade de Cambridge. O filme se concentra nos anos que passou lá e formou uma colaboração produtiva e amizade complicada com seu excêntrico mentor, o professor G.H. Hardy (Irons), que ensinou a ele a importância do rigor e da disciplina e aprendeu com ele a importância do contato humano. No meio disso, o indiano teve que enfrentar costumes completamente diferentes, saudades de sua terra e principalmente de sua esposa, mais o preconceito e a inveja de muitos. Além da dificuldade que todo gênio enfrenta, que é o desafio de lidar com pessoas que vêem muito menos que ele, cujas mentes funcionam de forma diferente, mais devagar, e ainda assim conseguir manter uma conexão saudável com elas.
O longa tenta equilibrar, e o faz com sucesso na maior parte das vezes, diversos elementos, como a história de amor e saudades entre Ramanujam e sua esposa, da amizade entre aluno e mestre, do amadurecimento intelectual do indiano e emocional do professor, das dificuldades de um estrangeiro numa terra com costumes completamente diferentes – às vezes, até hostis a ele – e mesmo de uma nação que entra numa guerra e sofre suas terríveis consequências. Todos os elementos tem seu espaço e importância, equilíbrio que é certamente um acerto do filme. Outro é a fotografia e a direção de arte dialogando de maneira eficiente, aproveitando e fazendo bom uso das belas locações, tanto na Índia quanto na Inglaterra, e a ótima reconstituição de época para acrescentar à história.
Porém, talvez o grande mérito aqui seja dos atores, que dão aos personagens carisma e humanidade, fazendo o público se importar com eles e seus dramas. Patel passa um misto de confiança, que beira a arrogância, daqueles que sabem de seu potencial, com a vulnerabilidade de alguém que é um peixe fora d´água. Irons está totalmente à vontade no papel de alguém brilhante, mas com pouco talento na área social ou sentimental. A química entre os dois funciona muito bem e um complementa o outro.
A parte negativa fica por conta do filme não trazer nada de novo. Sua estrutura narrativa é bastante convencional e até um tanto previsível. Ele segue a fórmula de filmes biográficos quase à risca, mas, ao menos, o faz bem, com eficiência.
No final das contas, O Homem Que Viu O Infinito é uma obra sensível e honesta, que discute temas importantes como religião, humanidade, genialidade, preconceito, amizade e amor e traz luz a uma figura importante da história, mas pouco conhecida, que, com sua genialidade e determinação, enfrentou diversos obstáculos e mudou para sempre conceitos matemáticos estabelecidos e cujo trabalho influencia importantes pesquisas até hoje.