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O HOMEM MAIS PROCURADO – Despedida digna (Estreia em 09/10)

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Qualquer pessoa, minimamente, familiarizada com a carreira de Philip Seymour Hoffman sabe do que o ator era capaz. Morreu de overdose neste ano no auge da capacidade, aos 46 anos, mas as circunstâncias de sua morte são menos importantes do que sua prolífica e elogiada carreira. Entre os projetos inacabados, os filmes da série Jogos Vorazes farão o malabarismo necessário na edição e nos efeitos para contornar sua ausência, mas- felizmente – Hoffman teve a chance de deixar como último trabalho completo um filme que honra sua trajetória profissional, além de seu talento dramático.

O Homem mais Procurado

Grande atuação de Philip Seymour Hoffman

O Homem Mais Procurado, de Anton Corbijn, é adaptado do livro homônimo de John le Carré, autor famoso pelas tramas realistas de espionagem. O filme tem como ponto central a entrada ilegal de um muçulmano checheno, chamado Issa Karpov, em Hamburgo, em um momento delicado para o porto alemão, já que o país assumiu a paranóia anti-terrorista pós- 11 de Setembro. Gunther Bachmann, personagem de Hoffman, lidera uma divisão de prevenção ao terrorismo, vivendo em conflito com os canais oficiais que preferem uma política mais truculenta e menos investigativa. Logo descobrindo a identidade do imigrante ilegal, que agora conta com o auxílio de uma advogada especialista em imigração – Rachel McAdams, muito bem no papel – falta saber quais suas verdadeiras intenções, e como isso pode servir à investigação, em curso, das atividades de um filantropo muçulmano suspeito.

O Homem Mais Procurado

Ambientação caprichada nas cores!

Como a espionagem aqui não tem nada a ver com James Bond, Jason Bourne ou Ethan Hunt, simplesmente não existe ação no filme, mas isso não é nenhum defeito. Construído dentro de uma situação muito verossímil, Anton Corbijn conduz o filme com a lentidão que o desenvolvimento desta história exige, dependendo dos diálogos para levar a narrativa adiante, mas evitando soar didático e forçado. A façanha não seria possível sem atores capazes de convencer individualmente ou dividindo a cena. O russo Grigoriy Dobrygin – como Issa Karpov – de uma forma muito contida inspira complacência dentro da sua ambiguidade.  A Annabel de Rachel McAdams também cumpre perfeitamente sua função dramática, evitando a caricatura da bonitinha boazinha e idealista.

O Homem mais Procurado

Robin Wright, acostumada a papéis que envolvem jogos de poder!

Já havia ficado claro que eu diria que o show é de Philip Seymour Hoffman, que compôs seu Gunther Bachmann como alguém cronicamente cansado, com um histórico de estresse impresso em cada fala e movimento. Não existe, absolutamente, a menor necessidade de aprofundar o passado do personagem, pois acabaria redundante. Mesmo dentro daquilo que se tornou um clichê em histórias assim – a figura do homem destruído pelo seu trabalho, vital à segurança da nação  – o ator consegue se destacar, sem recorrer a nenhum tipo de exagero, o que mostra o quanto levou a sério a tarefa. Willem Dafoe faz sua parte, comedido na interpretação de um banqueiro que serve como ligação entre os personagens. Robin Wright, da série House Of Cards, já tem experiência em um papel que envolve política e jogos de poder, além do tipo físico convincente. Interpretando uma agente da CIA indesejada no caso, sua participação em O Homem Mais Procurado valoriza ainda mais o conjunto.

O Homem mais Procurado

Willem Dafoe, fazendo a ponte entre os personagens!

Com um roteiro lidando com temas como esse, o visual geral teria que acompanhar esse conceito. O diretor de fotografia Benoît Delhomme, de Os Infratores, trabalhou com cores esmaecidas e acinzentadas, contribuindo muito com o tipo de sensação que o filme pretende, evitando na iluminação o uso de sombras muito marcadas, o que seria uma solução óbvia. A própria ideia, de uma área nebulosa entre o certo e o errado, acaba impressa em cada fotograma do filme. Evidentemente, a direção de arte e o figurino acompanham todo esse projeto, fazendo o filme funcionar harmoniosamente.

O único ponto a lamentar ficou para o final, mas não diz respeito ao filme, e sim sobre a falta que Philip Seymour Hoffman fará. Se deixar um último grande trabalho é um consolo, então aqui, realmente, não temos do que reclamar.

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