O Dia do Atentado comprova a falta de talento de Peter Berg
Em abril de 2013, durante a maratona de Boston, no Dia do Patriota, ocorreu um atentado em que morreram três pessoas e outras 183 ficaram feridas. Em menos de 90 horas, os dois responsáveis pelo atentado foram encontrados. Era questão de tempo até Hollywood levar essa história às telonas. Mas o problema é que ao invés de cair nas mãos de diretores que conseguem fazer ótimas cenas de ação e, ao mesmo tempo, falar de temas políticos importantes, como Kathryn Bigelow ou Paul Greengrass (de Jason Bourne), o projeto caiu na mão do picareta Peter Berg (Battlefield e Horizonte Profundo) e o resultado é O Dia do Atentado (Patriots Day) que mais parece um especial fajuto de TV.
O longa acompanha vários personagens que estiveram próximos ao atentado, principalmente os policiais (interpretados por Mark Wahlberg, John Goodman e J. K. Simmons) e os agentes do FBI (liderados por Kevin Bacon) que testemunharam e investigaram o ocorrido.
Sei que essa sinopse parece genérica, mas essa dificuldade está no fato da falta de estrutura do filme. Mesmo tendo um protagonista (Wahlberg) e dois antagonistas (os dois rapazes responsáveis pelo atentado, interpretados por Alex Wolff e Themo Melikdze), não há uma história a ser desenvolvida. Por mais que o ponto de partida seja o atentado, são mostrados tantos personagens que, no fim, tudo se torna uma salada. Nenhum deles é bem desenvolvido, todos são estereotipados e estúpidos. Alguns deles têm alguma substância, mas não tem grande importância para a trama. Parece que o filme se esquece deles e volta depois para dizer: “Espere, tem esse outro personagem”. No fim, o espectador não se importa com nenhum deles.
Além desse problema sério de estrutura, o roteiro escrito por Berg, Joshua Zetumer e Matt Cook traz diálogos dos mais terríveis. Há momentos em que há alívios cômicos nos momentos que deveriam ser de tensão, dando vontade de perguntar aos realizadores qual foi o objetivo. Por que soltar uma piada esdrúxula no meio de um tiroteio, depois de deixar claro que o tom do filme é serio e tenso? Não sei dizer, só digo que acaba com qualquer tensão e mostra como essa ideia está deslocada.
A Importância do tripé
Desde o começo do longa, Peter Berg quer deixar claro que a gramática visual será documental, com uma câmera nervosa que mescla em alguns momentos com câmeras reais. Mas o diretor exagera com essa câmera nervosa e a treme quando não há necessidade, além de colocar zooms deselegantes durante a projeção. Há uma cena de tiroteio que é tão escura, com tantos cortes e com uma câmera tão tremida que não dá para entender o que está acontecendo. Aliás, os objetivos de Berg com esse filme também são incompreensíveis: mostrar a investigação? Mostrar o terror das vitimas? Como a cidade ficou abalada? Parece que ele quer falar sobre tudo isso e acaba falando sobre nada.
O cineasta também falha ao mostrar que não sabe valorizar o seu elenco. Com um time que conta com nomes fortes como John Goodman, Kevin Bacon, J.K. Simmons e Michelle Monaghan, ele prefere focar no inexpressivo Mark Wahlberg, que mostra o mesma falta de talento que foi vista em outros filmes. O mais bem “explorado” é Goodman, que consegue dar respeito e imponência quando está em tela. O resto é coadjuvante de luxo.
Não há mais o que dizer sobre O Dia do Atentado. Poderia até ter sido um sucesso nos EUA por conta de ser um assunto que conversa com eles, mas, no fundo, não passa de um filme vazio que acha que é relevante. Que um dia façam realmente um filme decente sobre esse dia, que faça jus às vítimas da vida real, esquecendo esse filme fajuto, feito por um dos maiores picaretas que apareceram na última década.