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O Clã – Crime em família!

O Clã

Uma família bela, unida e aparentemente normal. Um negócio escuso, violento e brutal. Duas realidades opostas e contraditórias se misturando nessa bizarra e assustadora história real, ambientada na Argentina no começo da década de 80, contada agora de maneira poderosa nesse O Clã (El Clan). O novo longa de Pablo Trapero se debruça mais uma vez, sem piedade, sobre os malefícios e distorções da sociedade e da natureza humana.

O Clã

O filme mostra a perturbadora trajetória dos Puccio, uma família aparentemente comum e bem estruturada, com pais atenciosos e filhos responsáveis, mas que esconde um sinistro segredo. O negócio da família é sequestrar, extorquir e assassinar pessoas, fazendo uso da instabilidade política da época, com o apoio de poderosos para se safarem. A história se concentra em Arquimedes, o patriarca que organiza e executa os crimes, e Alex, o filho que o ajuda nessa terrível empreitada, mas que parece dividido entre a fidelidade à família e a possibilidade de uma vida diferente, já que era bonito, popular, astro de um time de rúgby, com uma linda e apaixonada namorada e bons amigos, além de não parecer tão à vontade com os crimes quanto seu pai.

O Clã

Trata-se aqui de um filme muito bem pensado, planejado e executado. A fotografia é  inteligentemente concebida, especialmente nos planos sequência, que viajam pela “normalidade” da família, em seus afazeres cotidianos, como lições de casa, jantares, discussões bobas, para depois chegarem no ambiente de violência dos crimes e revelar a realidade sinistra que se escondia naquela casa, explorando bem essa ambiguidade. Aliás, essa linha tênue entre o inocente e o doentio – e o inquietante clima gerado por ela – lembra o forte Miss Violence (2013, Grécia). A animada, e às vezes romântica, trilha sonora, que teoricamente não combina nada com o tema do filme, enfatiza a ironia de tudo e impede o filme de ficar soturno demais, mostrando-se uma boa escolha. As atuações são sólidas, com destaque para Guilhermo Francella, que interpreta o patriarca da família com uma frieza assustadora.

O Clã

Outro ponto a se destacar é uma interessante discussão levantada aqui, sobre até onde vai a culpa na cumplicidade ou conivência com os crimes, quando quem os comete é teoricamente a pessoa que te ama e diz fazer aquilo por você. O tema não chega a ser bem explorado como poderia, mas nos faz refletir sobre ele após os créditos, o que já é um acerto.

Há algumas inconsistências no roteiro e personagens pouco ou mal desenvolvidos, que causam uma certa estranheza e nos tiram por um momento da história, mas que não chegam a comprometer o filme e a harmônica junção de suas peças

O Clã

Enfim, O Clã é um filme poderoso e bem feito, com uma história interessante que ganha ainda mais força pelo absurdo de ser inspirada em fatos, confirmando o talento de Trapero em criar tensão e esmiuçar o lado sombrio do ser humano, além de levantar questões históricas e debates importantes. Mais uma prova da força e qualidade crescente do cinema argentino, porém, acima de tudo, é uma obra de entretenimento muito bem realizada.

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