O Castelo de Vidro cai na fórmula do drama choroso
O crítico Roger Ebert dizia que não importava sobre o que o filme se tratava, mas como ele tratava o assunto dito. Esse O Castelo de Vidro (The Glass Castle) é um bom exemplo desse parâmetro: ele conta uma história que é muito pesada em vários momentos, mas disfarçada de um drama bonitinho sobre relações familiares. E o resultado final acaba como algo que poderia ser muito bom, mas está mais para um drama rasteiro da Sessão da Tarde.
Baseado no livro autobiográfico de Jeanette Walls, o longa se passa em 1989, quando a própria (Brie Larson, de O Quarto de Jack e Kong) fica noiva do contador David (Max Greenfield). Segunda mais velha de uma família com quatro irmãos, Jeanette mente sobre suas origens e principalmente sobre o trabalho de seus pais, Rex (Woody Harrelson, de Planeta dos Macacos: A Guerra) e Rose Mary (Naomi Watts, de Punhos de Sangue).
Durante a velha estrutura de flashbacks, vemos o porquê dessa negação aos pais: passou a infância como nômade mudando de cidade, morando em casas caindo aos pedaços e com pouco dinheiro. Enquanto a mãe não trabalhava – pois fazia quadros, os quais nunca vendia – o pai era um desempregado com sérios problemas com bebida, transitando entre uma figura zelosa e um bêbado sem coração, vivendo atualmente em um prédio abandonado. Mas ela descobre que, mesmo com esses problemas, os pais foram importantes para sua formação e decide perdoá-los.
Bom, com essa sinopse percebe-se que há material dramático para ser explorado, mas o diretor e roteirista Destin Daniel Cretton se contenta com o mais fácil. Os conflitos não são explorados de maneira satisfatória, sempre indo para soluções óbvias. O mesmo pode ser dito dos personagens, que são bidimensionais e alguns mal escritos, mas que o filme acha que são profundos e complexos. Além da estrutura por meio de flashbacks a partir de palavras chaves (Exemplo: o personagem fala que a situação é igual a daquele lugar que eles moraram e corta para aquele lugar) é bem batida e óbvia. O grande problema do roteiro, além dessa pobreza em termos de dramaturgia, é que ele se contenta com pouquíssimo, parecendo achar que é muito.
Direção = encontrar o tom
Se Cretton se contenta com pouco no roteiro, a sua direção se mostra muitas vezes equivocada. O diretor constantemente erra o tom nas cenas mais dramáticas, nunca conferindo a elas a força que necessitam. Algumas se tornam até involuntariamente engraçadas ou irrelevantes, dando a entender, em alguns momentos, que não sabe o significado da própria história e para onde ir.
A direção não só se mostra equivocada, como algumas vezes preguiçosa. Parece que, assim como no roteiro, Cretton quer apostar no choro fácil, então cria planos bonitos, mas clichês demais (Do nível pai e filha correndo juntos ao nascer do sol, ou da filha chorando e correndo para ver o pai em câmera lenta), com uma trilha sonora que usa um piano meloso para provocar lágrimas a todo custo.
Mas e o trio principal com atores do nível de Woody Harrelson, Brie Larson e Naomi Watts? Só Harrelson é quem se esforça para criar um personagem mais complexo, já que a maioria das atitudes de Rex são terríveis, mas, em vários momentos, mostra amor com a família. Não é, nem de longe, um dos melhores trabalhos do ator, mas é facilmente ele quem mais segura o filme durante boa parte da duração. Naomi Watts se mostra muito caricata e exagerada em certos momentos, além de não ter química com Harrelson, não parecendo um casal apaixonado. E Brie Larson está monotônica e sem graça, usando a mesma expressão durante todo o filme.
Enfim, O Castelo de Vidro dispunha de um material para fazer um bom filme significativo. Pena que a história de Jeanette Walls rendeu uma obra que peca pela falta de ambição, querendo posar de complexo. No fim, é só um filme que, em breve, vai tapar o buraco na programação de algum canal… de TV aberta.