O novo filme da Disney / Pixar me lembrou de quando assisti a Avatar no cinema, em 2009. O filme de James Cameron provocou furor pela inovação visual, com seu 3D criado especificamente para ele. Não à toa, ainda é a maior bilheteria do cinema (que deve ser alcançada quando o novo Star Wars estrear na China, mas isso é outro assunto). O fator mais complicado é que – em qualquer filme – o impacto inicial da inovação tecnológica dura 15 minutos no máximo. Depois disso, amigo, se você não contar com uma boa estória, tudo vai por água abaixo. Justamente por isso, Cameron optou por uma trama segura, dando uma nova roupagem a algo mais do que reconhecível. Pronto. Sucesso! Há quem goste e quem não goste. Eu me encaixo no segundo grupo.
Muito bem, mas vocês vieram aqui para ler sobre O Bom Dinossauro (The Good Dinosaur), então vamos a ele. Imagine que o cometa que extinguiu os dinossauros da face da Terra tivesse errado a órbita. A reação em cadeia nesse universo alternativo provocaria um encontro que nunca existiu: dinos e homens. A estória do filme acompanha Arlo, o caçula de uma família de dinossauros herbívoros na sua busca por afirmação, quando ele encontra seu primeiro humano. Acontece que eles são a espécie dominante e evoluíram neste contexto, mas nada no estilo Digimon. Eles passam a produzir seu próprio alimento através da agricultura. O potencial imaginativo de uma situação hipotética como essa é muito grande e muito bem utilizado na animação. Percebe-se que foram minuciosos em vários pontos da trama, tentando fazer mais do que uma simples fábula. Existe todo um exercício imaginativo dos papéis invertidos que nossas espécies teriam nessa situação, criando algo próximo de um episódio da série clássica de Além da Imaginação. Palmas!
O ponto que aproxima este filme – estréia do diretor e roteirista Peter Sohn – da obra de James Cameron é justamente a inovação visual. Sohn havia feito anteriormente apenas um curta (Parcialmente Nublado, 2009) e participado como ator/dublador em outros filmes como Universidade Monstros e Ratatouille. O Bom Dinossauro é o filme mais visualmente elaborado da Pixar. A natureza retratada pelo filme é de encher os olhos. O realismo dos cenários chega a deixar dúvidas se aquela beleza toda foi criada a partir de bits e bytes. Não chega a ser uma novidade para a produtora que já nos presenteou com os ótimos Procurando Nemo e Os Incríveis, mas mesmo sem muita propaganda, esta animação avança para um novo patamar da computação gráfica voltada para o cinema. Os detalhes foram realmente muito trabalhados. Só o impressionante rio caudaloso, que tem uma importância essencial no roteiro, foi um trabalho de 8 meses de desenvolvimento.O realismo visual da natureza contrasta com a opção de personagens cartunescos. Essa é uma escolha que deve ser mais de estúdio do que de direção, provavelmente para manter o produto dentro do nicho infantil. Controverso, mas ok.
O que não ficou tão bom foi a escolha pela segurança do roteiro. Bem sabemos que a Pixar usa uma “formulazinha” para criação de suas animações. É possível, inclusive, encontrar suas 22 regras para criar estórias cativantes numa busca rápida pelo google (para quem quiser conferir, é só clicar AQUI). Essa fórmula de sucesso é bastante poderosa e bem sucedida, na maioria dos casos, mas o ponto negativo de toda receita é que uma hora ela vira clichê, sendo esse o maior problema na animação.
Assim como Avatar, O Bom Dinossauro é um roteiro calçado na segurança de um formato que já foi utilizado em outras produções da Disney. Os elementos que fizeram com que O Irmão Urso e O Rei Leão se tornassem grandes sucessos estão lá, em seus 94 minutos de duração. As motivações, os dilemas, dramas sobre família, perdas e amizade, até algumas cenas que podem ser comparadas entre os filmes. Não se trata de referências, mas de algo que é utilizado à exaustão por ser maniqueísta, porém eficiente. Para o público infantil, ávido por novos personagens e uma estória fácil, é um tiro certeiro e provavelmente mais um sucesso, mas para quem quer novas sensações o filme deixa a desejar, pois já vimos aqueles personagens antes, talvez na pele de um urso ou de um leão, mas já os conhecemos bem.
A meu ver é uma pena, já que é um dos filmes mais belos, visualmente falando, que foram lançados pelo estúdio e seu conteúdo poderia ser igualmente inovador. Infelizmente, como diz minha mãe: beleza não se põe à mesa.