O Agente da U.N.C.L.E. foi comentado no Formiga na Cabine e cobrimos a pré-estreia com os atores!
Mais um exemplar cinematográfico de espionagem! Estilo James Bond ou Jason Bourne? Não! Missão: Impossível, que teve seu quinto filme lançado há pouco? Menos ainda e alguém puxará Kingsman: O Serviço Secreto da memória recente, como provável parâmetro de comparação. Deixe-os de lado ao avaliar O Agente da U.N.C.L.E. (The Man from U.N.C.L.E.), já que uma grande virtude desta aventura é justamente sua personalidade, evitando simplesmente copiar certas fórmulas dos outros. Se em Kingsman existia a homenagem ao subgênero como um todo, através da paródia assumida, aqui ela toma uma forma nostálgica, pois evoca um tipo de situação e época mais específicas dos espiões da ficção: uma ameaça nuclear global em plena Guerra Fria!
Se você já desanimou ao ler o primeiro parágrafo, passe longe deste filme. O novo trabalho de Guy Ritchie (Sherlock Holmes 1 e 2, Rock’n’Rolla), que evita aqui muitos dos seus maneirismos característicos, é nostalgia sessentista pura. A série de TV homônima no qual o filme foi baseado, exibida entre 1964 e 68, mostrava dois agentes da organização U.N.CL.E. (United Network Command for Law and Enforcement) em uma curiosa parceria. Napoleon Solo (Robert Vaughn) era um americano formando uma dupla com o russo Illya Kuryakin (David McCallum). Com uma premissa como essa, tirar os dois protagonistas de um contexto acirrado de EUA x União Soviética acabaria com muito da graça, mas essa dinâmica, ainda mais apostando em leves tiradas cômicas aqui e ali, depende bastante do carisma dos atores. Henry Cavill (Solo), mais conhecido como Homem de Aço, e Armie Hammer (Kuryakin), do fracassado Cavaleiro Solitário, estão muito à vontade em seus papéis, divertindo o público sem apelação e com aquele clichê do malandro à vontade irritando o certinho ranzinza (e vice-versa).
Napoleon Solo é um pilantra refinado, que saiu da Segunda Guerra rico, mas acabou cooptado pela CIA para não ser preso, enquanto o KGB Kuryakin é um soldado supertreinado e focado, com sede de sangue. Os dois se trombam durante uma missão onde cada um precisa encontrar Gaby (Alicia Vikander de O Amante da Rainha e o sci-fi, ainda inédito no Brasil, Ex-Machina) na Alemanha Oriental, já que ela é filha de um cientista com experiência em dispositivos nucleares, cujos governos, americano e soviético, suspeitam estar envolvido com uma organização nazista. Com ambos os lados da Cortina de Ferro se aliando para evitar um desequilíbrio de poder, ou a destruição do mundo, os dois são obrigados a trabalhar juntos, se infiltrando na organização e usando a garota para encontrar o pai dela. Alicia Vikander acrescenta carisma ao trio principal, com momentos bem naturais que comprovam a qualidade da atriz em cena. A moça também tem uma beleza discreta que tem tudo a ver com a personagem e a situação, evidenciando ainda mais o cuidado com a formação deste elenco.
Com cenas de ação pontuais, O Agente da U.N.C.L.E. não tem aquela câmera lenta estilosa de Guy Ritchie, mas seus fãs perceberão sua marca na edição e na decupagem. O ritmo se segura bem, pesando um pouco apenas ao se aproximar do final. O roteiro escrito pelo diretor e Lionel Wigram, parceiros nos dois Sherlock Holmes com Robert Downey Jr., se não tenta reinventar a roda na premissa (o que é bom neste caso), acaba pecando por uma finalização um tanto frouxa e pouco empolgante. Quero crer que a sequencia final, que subestima algo da inteligência do público quando apela – sem razão alguma – para flashbacks de frases ditas há pouco, no intuito de explicar o plano de salvação dos heróis, foi uma exigência do estúdio, já que não parece obra do mesmo cineasta responsável por Revolver.
Ainda que tenha esses defeitos, seria muito injusto não elogiar a fotografia e a direção de arte, que contribuem muito para a imersão nesta narrativa de época. O filme parece rodado realmente na década de 1960, fazendo um contraste muito legal com a edição dinâmica. A sutileza nas tralhas tecnológicas de sempre também contribui para este clima, sem pretender ser algo muito realista, já que as habituais proezas dos filmes de aventura e ação também estão lá. Com uma trilha sonora bacana e eclética, muito do charme do filme está neste conjunto.
Diversão honesta com visual muito bem cuidado, talvez O Agente da U.N.C.L.E. seja prejudicado em sua arrecadação por causa de comparações como as do primeiro parágrafo. Se for o caso, é uma pena, pois esses universo de espionagem retrô é um parque de diversões e tanto para um cineasta de marca visual forte como Guy Ritchie. Uma continuação, contando com a permanência dele, seria algo a se conferir.