Ao ver Liam Neeson em cartazes, trailers e outros materiais de filmes, já não se pensa mais em listas de Schindler, Darkman, Qui-Gon… A premissa da sua atuação hoje em dia se resume a sangue, balas, one man army resgatando sua prole a por aí vai. Assim é em Noite Sem Fim (Run All Night), novo longa do ator em que ele dá vida ao ex -capacho por encomenda Jimmy Conlon, um beberrão odiado pelos familiares que, após anos de crimes e pecados, vive mediocremente isolado do mundo, com sua consciência pesada. Ele é sustentado pelo amigo e antigo patrão, Shawn Maguire (Ed Harris), um ricaço ex-contrabandista, cujo filho Danny (Boyd Holbrook) ainda insiste em trazer negócios escusos para a família. O filho de Jimmy por sua vez, chama-se Mike (Joel Kinnaman) e é um frustrado motorista de limusine, honesto pai de família, que ensina boxe a meninos de periferia, tendo como pupilo predileto um garoto apelidado de Pernas. São essas as relações que podemos captar nos primeiros minutos do filme, se já não tivermos regurgitado, vítimas da edição relâmpago que os primeiros diálogos nos impõem.
Os passos que se seguem nos fazem sentir em uma novela policial. Encrencado por uma dívida, Danny Maguire tem um encontro com seus credores albaneses, que alugam uma limusine para chegar até o local combinado (pegou a referência?hein?hein?). O filho de Shawn, sem muitas opções, decide covardemente pagar seu débito com uma chuva de balas. Enquanto Mike Conlon espera do lado de fora os clientes voltarem da reunião, eis que aparece de bicicleta seu aluno Pernas, e com consentimento do treinador, decide pagar de malandro fazendo um vídeo no celular dentro da limusine. Aí já sentimos que o roteiro vai nos brindar com esses encontros de esquina, transformando a cidade em um pequeno condomínio. Danny persegue até a rua o capanga de seu credor, e então Mike e Pernas flagram o riquinho encrenqueiro dando cabo dele. Fica óbvio concluir que pela amizade de seus pais, Danny e Mike se conhecem, mas a situação faz com que o primeiro tente matar o “amigo” motorista. Escondido em sua casa, Mike recebe a inconveniente visita do pai, Jimmy, que acaba protegendo o filho, e mata Danny. Após o ocorrido, Shawn jura vingança contra o ex-amigo e quer empatar sua dor matando Mike. O magnata do crime cria um ambiente de perseguição aos Conlons, colocando todos os seus capangas no encalço dos dois e envolvendo a polícia através de um jogo de incriminações.
Entendido isso, o público pode assistir o filme no automático e curtir as competentes cenas de ação. Liam e o diretor, Jaume Collet-Serra (A Órfã), firmam no longa uma terceira parceria nas telonas, antecipada por Sem Escalas (2014) e o inexpressivo Desconhecido (2011). O que parece, no entanto, é que o diretor não consegue ser pai do seu filme, e a obra fica com cara de mais uma das películas despretensiosas de sessentão herói que Liam tem feito. Alguns recursos estéticos tentam vender uma falsa novidade, mas o verdadeiro frescor é vermos Neeson dividir a tela com outros velhos lobos de respeito, como Harris e Vincent D’Onofrio (Detetive Harding). Todavia, são só contratações comerciais, em uma história que os deixa com raso desenvolvimento de personagens.
O roteiro não ajuda com sua mania de facilitar encontros e encurtar distâncias. As sequências de ação, como já foi dito, valem o ingresso, mas mesmo assim são as velhas lutas em banheiros, perseguições de carro, e carrascos high tech por encomenda a la Jason Bourne.
Temos aqui mais um filme de ação Liam Neeson, e talvez o melhor longa metragem regular de Collet-Serra.