Qualquer um que já tenha trabalhado com cinema, ou estudado, sabe o quão difícil e estressante é ser um diretor, lidando com pressão constante, muitas decisões a tomar, muita gente pra gerir, toda uma equipe dependendo de você. Todos também sabem o quão triste e devastador é ver um ente querido ser consumido por uma doença, percebendo que seu tempo está se esgotando. Imagine enfrentar as duas coisas ao mesmo tempo! É nessa situação que se encontra Margherita, a personagem principal do novo filme do italiano Nanni Moretti, Mia Madre (idem). O diretor fala aqui novamente sobre perda, mas se em seu filme mais famoso, O Quarto do Filho, ele falava sobre o luto após a perda de alguém, aqui ele vai falar sobre os momentos que antecedem essa despedida. Porém, por incrível que pareça, não se trata de um drama mega triste e pesado. O tema aqui é tratado com uma certa leveza, dando espaço até mesmo para o humor, mas sem deixar de lado o tom mais emotivo e sensível que a história exige.
Nela, uma diretora de cinema de meia idade (Margherita Buy) tem que lidar com a doença e declínio de saúde de sua mãe e sua possível partida, enquanto lida também com as dificuldades da gravação de um longa-metragem, que incluem um ator mal preparado, fanfarrão e de temperamento difícil (John Turturro), além de problemas de controle por parte dela. Tudo isso em meio a uma crise existencial gerada por relacionamentos fracassados, problemas de comunicação com a filha adolescente e insegurança na profissão.
O filme aborda diversas áreas e sentimentos na vida da personagem principal, o que é bem interessante, porque cria um mosaico de sua personalidade e de seus relacionamentos. No entanto, apesar de ser comum a existência de diferentes tons para as diferentes situações em que você se encontra – e talvez tenha sido exatamente essa a intenção do diretor – a irregularidade de tons da narrativa, indo do cômico ao triste e vice-versa de maneira rápida demais, prejudica uma total imersão do espectador em cada momento. É uma escolha ousada de Nanni Moretti e por vezes funciona, pois as cenas mais leves dão um respiro no peso do drama, que de outra forma poderia ser um pouco penoso demais para o público, mas por outro lado cria um certo distanciamento em cenas onde talvez fosse mais interessante ter uma unidade e continuidade narrativa.
Os atores estão bem e defendem seus papéis com afinco. Margherita Buy tem uma missão difícil ao tentar fazer o público se identificar com uma personagem não muito fácil de gostar. Por vezes grosseira com seus colegas de trabalho e subordinados, um tanto obtusa em seus relacionamentos amorosos, uma mãe não muito carinhosa, é também uma filha atenciosa e uma boa pessoa. Enfim, um ser humano normal, com qualidades e defeitos, e Buy a interpreta com honestidade, exatamente dessa forma, como uma pessoa comum, iguais a tantas que conhecemos todos os dias. John Turturro está à vontade e divertido no papel do ator americano excêntrico e temperamental, que gosta de contar histórias de quando trabalhou com grandes diretores, mas que não consegue decorar suas falas. Os coadjuvantes, que incluem o próprio diretor, mantendo seu costume de também atuar em seus filmes, seguram bem e acrescentam ao filme.
No fim das contas, Mia Madre é um filme que tem muita coisa a dizer e temas a debater, mas que nem sempre acerta no tom ou consegue manter o espectador investido em sua reflexão. Quando o faz, emociona e diverte, provando o talento do diretor em falar de assuntos difíceis de maneira sensível.