Malasartes e o Duelo com a Morte cansa em pouco tempo
Pedro Malasartes é um dos personagens mais antigos da cultura brasileira. Malandro, cínico e egoísta, Malasartes sempre foi conhecido pela facilidade de enganar as pessoas. A sua última aparição no cinema foi com As Aventuras de Pedro Malasartes, em 1960, interpretado por Mazzaropi. Agora, o diretor Paulo Morelli (Entre Nós e Cidade dos Homens), decidiu trazer uma nova versão do personagem com o irregular Malasartes e o Duelo com a Morte.
O protagonista agora é interpretado por Jesuíta Barbosa (Praia do Futuro) e está na seguinte situação: após ser morto por Próspero (Milhem Cortaz), Malasartes descobre que é afilhado da Morte (Júlio Andrade, de Redemoinho) que lhe dá de presente o poder de prever quem irá morrer. Na verdade, a Morte tem um plano que irá colocá-lo como seu substituto. Ao voltar para o mundo dos vivos, o malandro reencontra a sua amada, Áurea (Ísis Valverde) – irmã de Próspero – e o seu amigo, Zé Candinho (Augusto Madeira), para ganhar dinheiro com seus truques, mas a Morte tem outros planos.
O roteiro, do próprio Morelli, se mostra o ponto mais frágil do longa. Após um primeiro ato muito promissor, ele acaba se tornando confuso durante as explicações do próprio universo, enquanto as situações cômicas se mostram repetitivas e previsíveis. Todas as vezes em que Malasartes sai de alguma situação, a ideia é a mesma: sobe um acorde, Jesuíta Barosa abre um sorriso cínico e inventa uma história que não é muito diferente da que ele inventou há menos de quarenta minutos. Não são apenas as malandragens do protagonista que cansam, mas a próprias piadas regionalistas também perdem a graça em pouco tempo. Nesse sentido, parece O Auto da Compadecida, que deve ter sido grande influência, só que bem inferior.
O que não se pode negar é que o longa é uma produção muito caprichada. Se Morelli se mostra problemático no roteiro, se mostra melhor na direção. Além de ser muito bem filmado – graças à ótima fotografia de Adrian Teijido que, junto com a arte de Tulé Peake, deixa o filme visualmente muito agradável – Morreli, acerta o tom na maioria do elenco. O ritmo do filme é agradável e ele consegue dar uma identidade brasileira à sua história e aos seus personagens.
O elenco é um ponto positivo, com uma exceção para ser comentada mais à frente. Jesuíta Barbosa se mostra muito à vontade como Malasartes, praticamente carregando o filme nas costas. O jovem ator, que já havia exibido um grande talento dramático, em Malasartes e o Duelo Com a Morte mostra que é muito carismático e que tem um bom timing cômico. O ótimo Júlio Andrade, que também está acostumado com papéis dramáticos mais intensos, está claramente se divertindo interpretando a Morte, com uma ótima química com Jesuíta Barbosa.
O resto se mostra à vontade: Isis Valverde encanta como a mocinha da história; Milhem Cortaz consegue ser ameaçador sem perder o carisma, Augusto Madeira se mostra um ótimo alívio cômico; e com pouco tempo de cena, a veterana Vera Holtz domina toda a vez que entra. Agora vamos ao ponto fraco do elenco, que é o comediante Leandro Hassum. O tipo de humor oferecido por ele, com suas caras e bocas, é bem diferente do clima estabelecido pelo filme, deixando-o completamente deslocado.
Efeitos Especiais: Made in Brazil!
O longa é vendido como a produção brasileira com o maior número de efeitos visuais. Sejamos honestos: os efeitos são ótimos, mas para o padrão de produção brasileiro, que não tem experiência ou tradição nesse quesito. Ainda se percebe que há muito o que aprender na área, já que percebemos os elementos digitais e que as cenas que se passam no Mundo dos Mortos são em estúdio.
As trucagens funcionam durante bom tempo, mas são usadas em excesso no clímax e, como nas produções de grande orçamento, acabam saturando. Mas é uma prova que podemos melhorar, porque – repito – eles não são ruins, são bem feitos e bonitos. Aliás, o problema no Mundo dos Mortos não são os efeitos em si, mas o visual é muito genérico e com pouca inspiração. Trono da Morte feito com caveiras é coisa que já era clichê há duas décadas.
Enfim, mesmo longe de ser perfeito, Malasartes e o Duelo com a Morte é uma diversão honesta. Tem um bom trabalho da maioria do elenco e é uma produção caprichada. O problema é que sinto que essas falhas parecerão mais graves em uma eventual revisão…