Mais um ano, mais um filme de Woody Allen. Isso sempre traz aquela curiosidade, afinal, com um filme a cada doze meses desde o início de carreira, impossível ter apenas pérolas irretocáveis na filmografia, porém, qualitativamente ele está – com certeza – acima da média e esse prestígio se traduz no batalhão de atores loucos para trabalhar com ele. Que o filme vai ser bom, até aqui tem sido certo, mas a dúvida é quão bom e se vai surpreender de alguma forma. Ah, comparações com os anteriores mais recentes também são inevitáveis e rendem bastante discussão (discórdia?), o que só torna o assunto mais interessante.
Invertendo a lógica deste tipo de texto, lá vai… Sim, o filme é muito bom, mas como estamos falando de Woody Allen, não basta classifica-lo assim. Digamos que dentro da sua filmografia recente, Magia ao Luar fica em uma colocação respeitável. Só isso? Claro que não, mas antes seria bom uma sinopse. Em 1928, Stanley (Colin Firth), um ilusionista genial, é procurado por Howard (Simon McBurney), seu amigo de infância e colega, para ir à França com a proposta de desmascarar uma sensitiva chamada Sophie (Emma Stone), cuja origem dos truques ele não conseguiu descobrir. O problema é que a moça caiu nas graças de uma família rica e ingênua, amiga de Howard, um caso que chega ao ponto do herdeiro pateta Brice (Hamish Linklater) apaixonar-se pela suposta picareta. O cínico – e cético até a medula – Stanley aceita a tarefa com o ego inflado, mas terá que enfrentar aspectos inexplicáveis da vida, enquanto procura soluções racionais e científicas para o que vê.
Sabendo que é uma comédia romântica, existe um fator que é óbvio e o leitor já intuiu. Fica ainda mais claro quando lembramos que um dos temas recorrentes no cinema de Allen é, justamente, a atração entre uma garota e um homem bem mais velho. Logo, só resta falar da química maravilhosa que Colin Firth e Emma Stone exibem quando dividem a cena. Desde a esperteza dos diálogos até a convincente interpretação, os dois formam uma dupla cuja presença é um prazer para o espectador e estão perfeitamente à vontade no cenário de época da narrativa, muito bem caracterizado, com cores fortes realçadas pela fotografia. Como sempre, o resto do elenco também não decepciona e mantém a base para os dois protagonistas passearem pelo filme. A mãe de Sophie é interpretada pela competente Marcia Gay Harden, inexplicavelmente desperdiçada aqui, pois a personagem não tem a menor razão de existir em todo filme, figurando apenas como coadjuvante de luxo.
Com um roteiro linear, perfeitamente adequado ao tipo de história que conta, talvez decepcione aqueles que esperavam algo mais ao estilo do seu vizinho de filmografia, o elogiadíssimo Blue Jasmine. Se os méritos do roteiro de Magia ao Luar não estão em sua estrutura, eles são encontrados na sutileza dos diálogos e a forma como as dúvidas de Stanley surgem e como ele lida com elas. Observar o comportamento deste personagem por todo o filme revela a riqueza e a profundidade esperada do texto, de autoria do próprio Allen. Do outro lado, Sophie, de uma maneira diferente, também vai provocar reflexões, sem comprometer a leveza do filme. Complementando, quando os risos brotam, eles vem de situações e diálogos que soam bastante naturais.
Assim, nosso cineasta anual acertou e entregou algo afinado e agradável como o Jazz que ele tanto gosta. Pode não ser algo tão marcante e ele já ter feito coisa muito melhor, mas dificilmente vai entrar em alguma lista recente dos seus mais fracos. Se para alguns diretores essa avaliação não significa algo digno de nota, aqui ela vale muito. Relaxe e curta o Jazz!
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