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Logan Lucky: Roubo em Família – Divertido, mas sem personalidade!

Logan Lucky tira Soderbergh da “aposentadoria”, mas…

Quatro anos depois de anunciar sua aposentadoria como diretor de filmes, Steven Soderbergh retoma o ofício com Logan Lucky: Roubo em Família (Logan Lucky). Uma volta de uma partida até recente, mas que anima com a esperança de vê-lo recuperar aquela boa forma de outros tempos. Isso vale até um rápido retrospecto de seus pontos altos.

Crítica de Logan Lucky: Roubo em Família

Logan Lucky: Roubo em Família

O diretor estreou em longa-metragem em 1989 com o acachapante Sexo, Mentiras e Videotape (Sex, Lies, and Videotape). De cara, levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Em 2000, proporcionou a Julia Roberts seu único Oscar, por Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich). Na mesma premiação, levou o seu como diretor pelo intrincado e contundente Traffic: Ninguém Sai Limpo (Traffic).

Consagrado, dá uma elegante e divertida revitalizada no gênero de filme de assalto com Onze Homens e um Segredo (Ocean’s Eleven) e um dos elenco mais estelares do cinema. Foi mais longe (e sério), ousando (e se saindo muito bem) ao realizar a cinebiografia de Che Guevara, dividida em duas partes: Che: O Argentino (Che: Part One) e Che 2: A Guerrilha (Che: Part Two).

Claro que também acumulou deslizes e colecionou alguns fracassos. Mas o saldo ainda é bastante positivo. Por isso, houve alguma excitação com o anúncio de seu retorno.

Em Logan Lucky, Channing Tatum (de Kingsman: O Círculo Dourado) interpreta Jimmy Logan, um típico exemplar da classe trabalhadora do interior dos EUA. Após ser demitido da obra onde trabalhava, no subterrâneo do famoso autódromo de Charllote, na Carolina do Norte, convence seu irmão de braço amputado (Adam Driver, de Star Wars: O Despertar da Força) a planejar um assalto: o alvo será a arrecadação do autódromo em um dia de corrida.

Entram na trama ainda sua irmã Mellie (Riley Keough) e o especialista em arrombamento de cofres Joe Bang (Daniel Craig). O elenco ainda conta com Katie Holmes, Hilary Swank e Seth McFarlane.

Crítica de Logan Lucky: Roubo em Família

Repetição sem personalidade

Não demora e o espectador entende que está diante de uma ideia que parece bastante interessante e até original. Um filme de roubo, desses detalhadamente planejado e executado, ambientado em um universo de figuras caipiras do interior norte-americano. Logo, porém, também vai notar que alguns elementos não tão assim originais.

Embora com muito menos maneirismos de estilo (como trilha sonora engraçadinha e montagem ágil, esperta e cheia de piscadelas para o público), o que se vê em Logan Lucky é quase uma paródia do que Soderbergh já havia feito em Onze Homens e um Segredo. Desde a escalação de um elenco cheio de estrelas (embora não tanto quanto o do filme de 2001, e, claro, nem com o mesmo peso) até a estrutura geral da trama, com direito a reviravolta explicativa no final. Tudo leva a crer que vemos uma versão menos charmosa da mesma obra. Só que, infelizmente, menos elaborada.

Em seu roteiro, o filme esquece uma regra básica para esse tipo de trama: faça o público entender o plano. Isso porque, neste caso, a engenhosidade da elaboração e da execução do assalto é grande parte da graça do filme. Entretanto, o que se vê é uma ação executada de forma quase confusa.

Outra falha que compromete o resultado é o excesso de pequenas tramas paralelas. Algumas visivelmente criadas apenas para acomodar participações especiais, como a de Seth McFarlane, que faz um desagradável garoto propaganda de energético. Ou ainda a mal aproveitada, apesar do bom potencial emotivo, relação entre o protagonista e sua filha pequena.

A fragilidade dos obstáculos enfrentados para o sucesso do plano é outro ponto fraco. Mesmo o maior deles – a participação in loco de um personagem que simplesmente está cumprindo pena – é resolvido sem aparentar muito trabalho. Os outros que surgem são sempre contornados sem que o público sinta a urgência ou o risco real de algo dar muito errado. São essas simplificações que roubam emoção do filme, fazendo dele quase que um exemplar genérico desse gênero, mesmo com alguns toques originais.

Crítica de Logan Lucky: Roubo em Família

Personagens divertidos

Apesar dos problemas, é perfeitamente possível se divertir com Logan Lucky. Especialmente pela pequena coleção de tipos excêntricos sustentados por boas atuações. Daniel Craig está ótimo como um sujeito meio maluco que sabe como explodir um cofre. Adam Driver acerta na atuação econômica que dá a seu personagem um ar de sujeito meio lento. Há ainda os irmãos Bang (Jack Quaid e Brian Gleeson), os mais caipiras de todos.

Na falta de polimento do roteiro e de algumas cenas, tem-se a impressão que Soderbergh quer fazer alguns comentários ou tem a intenção de aflorar temas mais profundos. Seja sobre a América do interior e o sentimento romantizado de pertencimento, seja sobre a relação familiar da classe trabalhadora desse interior, muitas vezes marcada por um tipo de “maldição” (o que perde o braço na guerra, o que fica deficiente jogando futebol na universidade). São temas laterais que não se completam e ainda prejudicam o principal.

Por isso, mesmo com seus momentos divertidos – e vale um destaque para uma piada que vai fazer a alegria dos fãs de Game of Thrones –, este último filme de Soderbergh deixa muito a desejar. O resultado é uma obra sem personalidade, que não empolga nem entusiasma, e ainda tem sabor de coisa repetida. Não foi dessa vez que o diretor voltou à boa forma.

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