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Liga da Justiça – Joss Whedon é o membro mais valioso da equipe!

Diretor emergencial vai ao resgate de Liga da Justiça

A grande verdade é que qualquer um em sã consciência estava com mais de um pé atrás em relação ao grande desafio da DC, sua versão do DCEU de Liga da Justiça. A mudança brusca de direção, devido à lamentável tragédia familiar de Zack Snyder, fez com que muitas pessoas duvidassem que algo que prestasse pudesse sair disso. Após um tenebroso BvS, e com o público definitivamente não respondendo a essa proposta “dark” desses icônicos heróis, o risco da coisa descarrilar de vez era grande.

(Confira nosso Formiga na Cabine sobre o filme)

Crítica de Liga da Justiça

Liga da Justiça

Mas, felizmente, a DC fez a aposta no cavalo certo – Joss Whedon se firma cada vez como um expert em cinema de gênero dos encapuzados. É a sua intuitiva e sensível compreensão do que eles são e do que eles representam que salva Liga da Justiça de se tornar não apenas um filme bobo e genérico, mas que mais uma vez poderia desrespeitar as características fundamentais desses personagens quase centenários.

Whedon, entretanto, velhaco que é nesse universo heróico, entende que há defensores do trabalho de Snyder – assim como uma mudança repentina e imediata de estilo provocaria um choque nos espectadores que acompanham essa franquia. Assim, a transição que ele faz do estilo do diretor prévio para o seu próprio é gradual, mas visível.

A sempre pesada mão de Snyder é praticamente onipresente principalmente no primeiro terço do filme, onde vemos todas as suas características habituais – uma fotografia escura, pesadíssimos efeitos digitais, sequências de ação em slow motion e uso de closes televisivos. Não obstante, temos os claros problemas com o eterno nêmesis de Snyder: o roteiro. Motivações frouxas, uma condução acelerada e atrapalhada na tentativa de apresentar diversos personagens de uma vez, conveniências sem fim e dramas vazios. Os primeiros quarenta minutos podem fazer o espectador mais crítico querer desistir do filme.

E é aí que Whedon começa a trabalhar. Ele parece ter plena consciência de que o roteiro com o qual ele está trabalhando é novamente pretensioso e maniqueísta, mas raso toda vida. Só que ao invés de digladiar com isso, ele abraça essa condição não como uma falta de sofisticação na história, mas como uma espécie de inocência, que é característica da imagem que qualquer criança tem desses personagens nos seus primeiros contatos com eles.

Dessa forma, o diretor vai habilmente conduzindo a história e os personagens para longe das trevas snyderianas, adentrando a luz a qual os heróis pertencem. E isso não é uma metáfora lírica – a fotografia e a estética do filme vão se tornando cada vez mais coloridas, e um certo humor começa a pincelar a história; que, nas mãos de Snyder, claramente seriam tragédias após tragédias, enredadas dentro de um destruction porn sem vergonha nenhuma.

Crítica de Liga da Justiça

O mais importante de Liga da Justiça é isso – nesse filme, heróis se comportam como heróis, e a história é centrada na figura e na missão deles. Não existe – como Snyder equivocadamente tentava fracassadamente fazer – uma tentativa de imbuir os encapuzados de um valor que não lhes pertencia, para lhes dar um significado pretensamente “maior”; ato representado melhor na desprezível insistência de transformar Superman em Jesus, como se o significado do herói em si não fosse o bastante para ele.

Não existem grandes pretensões pseudo-filosóficas e míticas/religiosas aqui. Existe um vilão, que aparece do nada, quer conquistar o mundo, e os heróis precisam se unir para impedir. Simples assim. O mal aparece e o bem, depois de passar por todos aqueles previsíveis clichês (que não são necessariamente bons, mas ao menos são divertidos) – como a famosa luta entre heróis antes do grupo se unir de vez – cai na porrada com o mal para derrotá-lo.

A grande vilã de Liga da Justiça – a pressa

Como dito, o filme tem inúmeros problemas sim, em todos os campos. A maior parte deles oriunda de um único fator: pressa. Tudo no filme é extremamente acelerado. A começar pela história. Liga da Justiça é, essencialmente, um filme sobre formação de equipe. E existem algumas regras básicas a serem seguidas nesse padrão de história. A primeira delas é: se seu grupo é grande, você não vai ter tempo de trabalhar apropriadamente todos os seus personagens, o que significa que você tem que escolher quais serão protagonistas, e quais serão coadjuvantes.

O exemplo seminal disso é a pedra angular e filme seminal absoluto sobre aventura de formação de equipe – Os Sete Samurais de Kurosawa. Ali, a lenda japonesa ensinava isso com clareza: dos seus sete, apenas três tinham real protagonismo, para que a história não ficasse truncada em torno deles, e o arco maior pudesse se resolver. Ainda assim, estamos falando de um filme de três horas e meia.

E é principalmente essa lição que não é seguida em Liga da Justiça. Apesar de já ter de mão beijada possíveis protagonistas já explorados e apresentados previamente, o filme opta por um protagonismo quase equivalente a todos os seus personagens. O resultado é que os “dramas” de Ciborgue Flash são absolutamente insípidos – nós simplesmente não conseguimos imergir e nos conectar com eles. O fato de Snyder claramente ter pensado dramas mais fortes, e Whedon ter proposto algo mais leve e divertido, entra em choque com mais força nesse aspecto.

Incidentalmente, a quantidade de conveniências e deus ex machina – termo técnico para “migué” de roteiro – no filme beira o absurdo. Tudo e todos estão no lugar certo e na hora certa para que tudo dê certo. De fato, essa pode ser uma das poucas falhas na condução particular de Whedon do filme – não existe qualquer sensação de desafio ou perigo. Lobo da Estepe, o grande vilão do filme, parece muito malvado, mas não faz tanta coisa durante o filme para representar uma grande ameça.

Some-se isso aos pesadíssimos efeitos especiais, e Liga da Justiça pontualmente se tornar cansativo – o CGI do Lobo da Estepe e do Ciborgue são ruins mesmo. E isso torna difícil comprar a credibilidade deles. É um fato que esse filme é muito mais leve do que qualquer coisa que Snyder fez, mas não significa que não tenha herdado alguns problemas prévios. Whedon é bom, mas não dava para fazer milagre de última hora.

Crítica de Liga da Justiça

O que não significa, no geral, que seus esforços não tenham sido bem sucedidos. A grande verdade é que, tirando por base BvS, as chances que Liga da Justiça tinha de se tornar a páscoa da ressurreição do Jesusman de Snyder eram imensas. Felizmente, Whedon colocou esse barco na direção diametralmente oposta – uma com a qual nós podemos nos identificar e nos divertir. Existe aqui a possibilidade de finalmente termos um tom ideal nos filmes de heróis, aquele pelo nós temos esperado há tanto tempo: nem tanto a comédia abobalhada que a Marvel se tornou, nem o tom desnecessariamente lúgubre e frívolo imposto por Snyder.

Nota relacionada extremamente importante: fique para o pós-créditos. São duas cenas – uma é apenas um divertido fan service. A outra é extremamente importante, porque altera completamente o status quo da condução do DCEU. Basta dizer que a escalada em direção ao conflito cósmico/pseudo-religioso por Snyder parece que será suspensa por um tempo, substituída por algo mais relacionado e crível ao universo dos super-heróis enquanto tal.

Basta esperar, então, que nos próximos filmes Whedon consiga imprimir sua total identidade. Porque vale a pena, sim, agora ter esperança em relação a esse universo. Como dissemos no início da crítica, Whedon é um cara que entende, conhece e respeita o mito do super-herói. E, já que ele acaba de embarcar no barco da DC, e aparentemente tem luz verde para fazer o que quiser, vamos nos divertir com Liga da Justiça – algo tranquilamente possível – e esperar por coisas ainda melhor por vir.

Olhem lá no céu. É um pássaro? É um avião? Não, é Joss Whedon no futuro do DCEU!

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