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Jogo do Dinheiro – Protesto ingênuo!

Jogo do Dinheiro

O sistema financeiro dos EUA e seus mecanismos já deu muita inspiração para o cinema, principalmente após a crise de 2008. Já rendeu coisas interessantes, como Margin Call, de 2011, e o recente e premiado A Grande Aposta, mas não há como negar que é um tema complexo, que sempre carrega o perigo de descambar para uma verborragia explicativa chata. Jogo do Dinheiro (Money Monster) vai pela via contrária, mas reduz um ponto de partida promissor e contundente a um filme que apenas entretém por cerca de uma hora e meia, facilmente esquecível logo depois.

Dirigido por Jodie Foster, mais identificada como atriz, o filme tem um apresentador fanfarrão de um noticiário de economia moderninho, Lee Gates, vivido por George Clooney. Após usar o espaço para alardear a rentabilidade das ações de uma grande empresa, a inesperada e vertiginosa queda das mesmas – com a perda de valores atribuída a uma falha de sistema – abala o mercado. Enquanto um pronunciamento formal é esperado, embora o CEO Walt Camby (Dominic West) aumente a tensão mantendo-se incomunicável e deixando o problema em outras mãos, o estúdio é invadido por um rapaz armado (Jack O’Connell) que toma Gates como refém, obrigando-o a vestir um colete com explosivos. O programa segue transmitido ao vivo, com sua diretora (Julia Roberts) procurando administrar a situação e ajudar a ação da polícia.

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Já fica evidente que o tal invasor é alguém arruinado pela dica, que perdeu suas poucas posses, mas tudo bem até aí. A ideia central parecia uma mistura interessantíssima entre Um Dia de Cão e Rede de Intrigas, que Sidney Lumet dirigiu, respectivamente, em 1975 e 76, mas as semelhanças ficam apenas na superfície. O roteiro dos pouco expressivos Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf (muita gente para pouco serviço) tenta apoiar-se unicamente na tensão do caso, ignorando as diversas nuances que poderiam ser exploradas no cenário geral e em cada personagem. A necessidade de criar um vilão personificado enfraquece o filme, ainda mais pela opção de investir em um momento de investigação na trama, que nada mais é do que chamar um hacker que dará a resposta. Os papéis dentro da tramoia financeira ficam bastante óbvios rápido, mas o filme caminha como se fosse nos surpreender. É como se alguém brincasse de esconde-esconde achando-se esperto ao esconder-se atrás da cortina, sem a menor ideia que deixou os pés à mostra.

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Contando com um elenco que faz o trabalho, e só, Jodie Foster ainda consegue evitar certos clichês. O personagem de George Clooney corria o risco de uma caracterização óbvia do otário insuportável e mesquinho, mas foi possível manter o equilíbrio. O relacionamento entre ele e seu captor, cuja motivação, no final, acaba reduzida a nada, até é interessante em um momento, mas descamba no final, com uma resolução que se pretendia mais chocante. A veia ativista da diretora é evidente, mas além de contar com um roteiro pouco inspirado aqui, ela não se mostrou muito apta a criar tensão, apesar do bom ritmo da trama, que garante o entretenimento. No geral, por ser um filme bem pouco inventivo conceitualmente, o visual acaba seguindo o mesmo caminho. Matthew Libatique, diretor de fotografia que costuma acompanhar Darren Aronofsky, também entrega o básico aqui, mas não haveria por onde tentar outra coisa.

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Finalizando a história de uma forma desnecessariamente edificante, deixando as coisas realmente interessantes apenas na leve insinuação, Jogo do Dinheiro se segura em seu ritmo cadenciado e no elenco carismático, evitando que o espectador se sinta idiota pelo tempo investido. Ironicamente, apesar de ser algo que poderia ser visto em casa, sem prejuízo algum à experiência, é uma produção cujo sucesso nas telonas seria bem vindo, afinal, é o primeiro filme grande hollywoodiano original de 2016. Como já estamos quase na metade do ano, isso é um tanto preocupante…

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