Jason Bourne foi comentado no Formiga na Cabine!
Vamos combinar uma coisa antes de começar. Ignoremos O Legado Bourne (2012), que Tony Gilroy dirigiu e não acrescenta nada ao nosso assunto principal. Feito? Maravilha! Aqui o que interessa é a trilogia iniciada em 2002 por Doug Liman, com A Identidade Bourne, que adaptou e atualizou o livro de Robert Ludlum. Bom trabalho de Liman, mas que empalidece um pouco se comparado aos dois seguintes, dirigidos por Paul Greengrass. A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne não apenas elevaram o patamar da trilogia como a encerraram de uma forma bem convincente. Aliás, até ali, em nenhum momento sentimos que a história foi esticada além da conta.
Chegando ao nosso assunto principal, uma das especulações em relação ao anúncio de um quarto filme, novamente com Greengrass e Matt Damon à frente do elenco, era se ainda haveria assunto para o atormentado protagonista. Bem, Jason Bourne (idem) está aí, mas a iniciativa é justificável, além da volta do diretor e do personagem/ator original? Não, mas isso não quer dizer que o filme é ruim.
Após os eventos do terceiro filme, Bourne está vivendo na Grécia enquanto vai recuperando aos poucos suas memórias. Nicky Parsons (Julia Stiles), personagem importante dos capítulos anteriores, agora trabalha com um grupo hacker interessado em expor os segredos sujos da CIA. Quando ela descobre uma estratégia de vigilância invasiva em curso, localiza o ex-agente para que ele a ajude a deter o plano, o que acaba trazendo à tona mais memórias e revelações sobre o passado do nosso personagem principal. Do lado da CIA, o diretor Robert Dewey (Tommy Lee Jones) pretende acabar com Jason Bourne, um caso que pode ser a oportunidade de Heather Lee (Alicia Vikander), encarregada de cyber operações, subir na hierarquia da agência.
O roteiro, escrito pelo próprio diretor com o estreante na função Christopher Rouse, editor que costuma trabalhar com ele e acumula as duas tarefas aqui, não traz absolutamente nada diferente do que você já viu nos dois anteriores, telegrafando algumas viradas que já surpreenderam o público antes. Isso é um problema para quem não chegou agora a esse universo. Mesmo que não seja bem desenvolvido como os outros, existe ainda espaço para alguma ambiguidade, felizmente, mas também é forçada uma sub trama de vingança que pesa e quase transforma o filme em algo (bem) genérico.
A veia política de Greengrass se mostra logo no início, mostrando que a Grécia não foi uma locação escolhida ao acaso. A primeira cena de ação se desenrola durante a onda de protestos no país, além do cerne do filme tocar diretamente em assuntos relacionados a Wikileaks e Edward Snowden, este citado diretamente. Mensagens à parte, a ação do filme é competente e bem decupada, mostrando a costumeira destreza do diretor, ainda que ele já tenha feito melhor, inclusive em sequências de luta. O conjunto é valorizado pela boa fotografia de Barry Ackroyd, parceiro habitual do diretor, mantendo o clima pesado mesmo quando não há contraste forte entre luz e sombra.
Com Matt Damon sem muitas falas, o bom elenco de apoio se sai bem, dentro do que se espera em um filme como esse. Alicia Vikander, nova queridinha de Hollywood, talvez tenha o melhor papel e não exagera na caracterização. Tommy Lee Jones faz seu número de sempre, assim como Vincent Cassel na pele no operativo destacado para eliminar Bourne, ambos funcionando dentro da frieza inerente aos personagens.
Deixando de lado que esse “aprofundamento” do protagonista em Jason Bourne é apenas uma forma de aproveitar as brechas da trilogia – que deixavam um ar de mistério interessante – para espremer mais um(ns) filme(s), ainda é possível se divertir, pois o ritmo e a tensão funcionam bem em seus 123 minutos. Isso não muda o fato de que é absurdamente desnecessário e sofre na comparação com os anteriores, mas Paul Greengrass comandando ainda faz alguma diferença, mesmo aquém do seu potencial.