Se há algo que se possa evidenciar em Jack Reacher: Sem Retorno (Jack Reacher: Never Go Back), é a demonstração explícita da má vontade de Tom Cruise no papel do protagonista. Se no primeiro filme vimos o ator fazendo sua performance se destacar para além dos clichês, neste, os mesmos clichês são sublimados pela falta de expressão do ator.
A trama é bem simples: Jack Reacher descobre que a Major Susan Turner (Cobie Smulders) foi presa por espionagem. Ao mesmo tempo, sabe que está sendo processado por não ter assumido uma filha de um caso distante e é acusado do assassinato de um superior. Dentro desta premissa, não há esforço algum – por parte do diretor Edward Zwick – em nos entregar uma obra para além de uma caça à la gato e rato, com situações previsíveis, beirando uma inverossimilhança que em nada faz jus ao núcleo da ação: corrupção do exército na venda de armas a inimigos.
É claro que o enredo exige algo para além do comum, mas é desapontador que a forma como Jack escapa de cada situação se faça em torno de manobras repetitivas. O inverossímil está na incompetência de explorar a habilidades e eficiências potenciais da personagem. Uma quebra de braço ali, uma esquiva aqui, um distrair a personagem com palavras acolá e o espectador já sabe como terminará cada cena em que os personagens se encontram em apuros.
Forçada maior é a tentativa de humanização de Jack, ao colocá-lo como figura paterna. A personagem de Danika Yarosh só está ali para a construção de tom dramático a enveredar o espectador à emotividade gratuita. Vem ao encontro da tendência hollywoodiana da construção empática para com um personagem que se demonstra metódico e frio. É como se não aguentássemos a personalidade de Jack por si mesma, então é preciso apelar ao coração do espectador para que ele veja que um militar é um ser humano como qualquer outro, tem sensibilidade, se preocupa e salva sua prole…. Ok, nós sabemos disso, mas o que se espera de uma continuidade é o ir além daquela personagem que se demonstrou tão eficiente na primeira versão. Se o apelo é para a emotividade, colocar a suposta filha na trama é ao mesmo tempo retroceder e apelar, subestimando a inteligência do espectador.
Tom Cruise também não colabora. No original, o acompanhamos a se esforçar para que cada cena funcionasse. Por exemplo, mesmo que os diálogos soem forçados e didaticamente óbvios no primeiro longa, sua química com Rosamund Pike tende a convencer. Neste, nada funciona, nem a tentativa de Cobie Smulders de ser uma mulher que não precisa ser salva ajuda o filme a se salvar. Para piorar, nem um vilão à altura é esboçado, o que poderia, ao menos, incentivar a performance de Cruise, que aparenta mais querer que as filmagens acabem logo para se encaminhar ao seu próximo projeto.
É uma pena que tamanho potencial da franquia tenha sido desperdiçado. Jack Reacher se tornou, então, um sub-Bourne. Poderia nos render boas cenas de ação e tramas complexas, já que o tema militarismo ganha imenso potencial referente aos EUA sob Donald Trump. Infelizmente, este segundo filme não passa de um emaranhado de situações que em nada fazem a história se desenvolver adequadamente. Se for para continuar nesta toada, é bom mesmo que Jack Reacher: Sem Retorno cumpra a promessa insinuada em seu título.