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Invasão de Privacidade – Bugs no roteiro!

Invasão de Privacidade

Invasão de Privacidade (I.T.) pertence ao rol dos filmes que apresentam uma excelente ideia, mas a executam de forma frustrante. Todos os elementos presentes na trama dariam um suspense dinâmico e eficiente: um bilionário, Mike Regan (Pierce Brosnan) tem um problema numa apresentação de sua empresa e pede ajuda para um estagiário de informática Ed Porter (James Frecheville). Vendo a eficiência do funcionário, Mike o chama para consertar os dispositivos de inteligência artificial de sua casa, Ed se vê já como amigo do patrão e se torna invasivo, até ser barrado na tentativa de flertar com a filha de Mike, que tem a casa, a empresa e todos os dispositivos eletrônicos hackeados pelo funcionário.

A trama joga uma luz sobre os perigos da dependência tecnológica. Por mais que tragam conforto e solução para o dia a dia, as novas tecnologias não configuram-se como símbolos de uma sociedade civilizada. Pelo contrário, a mente primitiva ou doentia pode transformar o que antes era a substância de uma vida provida de facilidades em ferramentas que se voltam contra a própria vida.

Invasão de Privacidade

O diretor John Moore demonstra que entende perfeitamente do tema ao sempre enquadrar a personagem de Brosnan entre retângulos e quadrados. E cada vez mais tais enquadramentos vão se degradando a ponto de evidenciar sua situação. Por exemplo, em uma cena, Mike se encontra num pequeno espaço retangular entre fios embaraçados, denotando sua confusão e impotência. Ponto positivo ao atrelamento de Porter à cor amarela, em uma de suas primeiras aparições, como um sinal de alerta ao que vai ocorrer. O movimento da câmera – em sua instabilidade e travellings – também ajuda a compor a história a cada vez que personagens se encontram submetidos ao sadismo do hacker. E na mesma direção, Pierce Brosnan constrói uma personagem eficiente cujas expressões faciais, voz e postura corporal vão se deteriorando juntamente com o desenrolar da narrativa.

Mas as qualidades param por aí e o resto deixa bastante a desejar. O filme merecia um vilão melhor construído, pois não decide pela vias da psicopatia ou do trauma psicológico que o leva às drogas, ou seja, se utiliza de um clichê moralista, ao invés de trabalhar a dualidade humana, pois a reação sádica do personagem poderia ter se dado justamente por conta da rejeição rude de Mike e esposa para com a sua presença no convívio com a filha. Além de James Frecheville entregar uma atuação para lá de patética.

O desenvolvimento das motivações de Porter dão muito mais vergonha alheia ao espectador do que criam a tensão necessária. E não há como não se reportar ao personagem de Robin Willians, em Retratos de uma Obsessão (One Hour Photo, 2002). Ali há um exemplo claro de como se construir uma personagem obsessiva em sua carência afetiva. O conjunto da obra em torno do vilão é um desastre, talvez aqueles pepinos que assustam gatos em vídeos do youtube teriam uma presença mais perturbadora na trama.

Invasão de Privacidade

O terceiro do ato do filme é um bug. Toda a trama se direciona para uma perseguição de gato e rato, com os dois personagens se utilizando da tecnologia para encurralar um ao outro. Mas a potencialidade das ameças de Porter sequer chegam ao nível da potência que possuem e Mike, um bilionário estrategista, comete alguns atos de ingenuidade que se demonstram inverossímeis: num momento a filha tem um vídeo íntimo vazado e Mike culpa-a por desatenção. O problema é que já estamos no meio da trama e Mike já sabe que o hacker já invadiu a vida de toda sua família. Resultado disso, um desfecho abaixo do esperado com uma conclusão cujos planos mais aparentam que o orçamento do filme acabou,  ao invés da carga filosófica que pretendem ter.

Em uma época em que Black Mirror se apresenta como uma série que se destaca por sua qualidade e ousadia, é uma pena que Invasão de Privacidade não tenha a coragem de ir além. Principalmente por lidar com um tema sobre o qual há muitos elementos a se refletir.

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