Internet: o Filme… Pera aí! É “filme” mesmo?
Para fazer a crítica de Internet: O Filme (2017) precisei deixar a poeira baixar primeiro, evitando que o impacto inicial me influenciasse. Dirigido pelo competente Filippo Capuzzi Lapietra, o filme é uma colagem de oito esquetes cuja linha condutora é um encontro de “webcelebridades”. O veterano de internet Rafinha Bastos e a produtora Renata Rezende fizeram, em 6 meses, a ideia chegar aos cinemas. Essa urgência tem a ver com a versatilidade e o aspecto descartável de ser “famoso” na internet.
A produção conta com diversos youtubers que estão em destaque hoje, como Felipe Castanhari, do Canal Nostalgia, Gusta Stockler do NomeGusta, o gamer Cellbit, Cauê Moura do Desce a Letra, Maurício Meirelles do Webbulling, além do comediante Paulinho Serra e do próprio Rafinha Bastos. Outros fazem apenas aparições relâmpago como PC Siqueira e Mister Catra, além de alguns que pouco ou nada acrescentam à história em si. Mesmo aqueles que nem estão no filme, como Felipe Neto e Kéfera, foram lembrados.
Ok, mas e a pergunta ali no começo?
Quando se entra em uma sala de cinema, um ambiente que presume que haja a imersão no universo e que, por conta da chamada “suspensão de descrença”, o espectador embarca em algo que aceita que não é a real. Mais do que isso, ele aceita se tornar um cúmplice, que entende onde está entrando e vai se envolver tentando julgar o menos possível. Portanto, a definição de um bom filme é baseada na promessa que ele e seu espectador têm acordada entre si.
Internet: O Filme, na maioria do seu tempo não é cinema, mas não entenda isso como um defeito. O diretor sabe fazer cinema e isso pode ser visto nos pontos em que ele usa, de fato, a linguagem cinematográfica, mas esse não era o caso para essa produção da Paris Filmes, Coprodução da Televisa, Crazy Monkey, Elo e Snack. Pense em um produto que é feito por youtubers para fãs de youtubers. A única linguagem possível é a que se utiliza na famosa plataforma de vídeo. E nesse caso o filme é “um grande meme”.
Esse tipo de imersão do cinema num universo diferente do seu não é nova e tem bons exemplos de que pode funcionar, como em Scott Pilgrim Contra o Mundo, filme de Edgar Wright lançado em 2010, que tenta trazer o universo dos Games para o cinema, sendo ao mesmo tempo uma adaptação de HQ que já bebia desta fonte.
Internet: O Filme cria uma história de multiplot que, ao juntar os 8 esquetes, tenta dar uma unidade fílmica, mas que não leva isso tão a sério assim. E nem precisa. Pense que o público a quem ele é direcionado gosta de coisas breves, leves e engraçadas. O filme entrega isso. Com um nível alto de comédia que pode agradar em cheio o seu público-alvo. Nesse quesito, então, ele é um filme que “entrega o que promete”: humor rápido, internet e “webcelebridades” . Além disso, ele é bastante ácido em criticar seu próprio universo. Ele apresenta seus personagens dando ênfase em seus “pecadilhos” e estereótipos. Quem assiste a “vlogosfera” vai identificar vários deles.
Tecnicamente falando…
Bom, aí, a história é outra. Se analisarmos os aspectos técnicos de roteiro, ele é muito fraco. Apesar de uma fotografia e pós-produção bem feitas e uma direção que foi simples e eficiente, tentando juntar duas linguagens que são bastante diferentes. O roteiro, assinado por Rafinha, Dani Garuti e Mirna Nogueira, construiu-se em pleno vôo e tem problemas graves de ritmo de esquete para esquete. Alguns segmentos demoram para engrenar, como o do Brioco, o cão de Mauricio Meirelles, outros começam bem e caem na mesmice como o do vlogger interpretado por Gusta Stockler, diga-se de passagem, o youtuber que melhor se adaptou a tela como ator.
A tentativa de formar uma unidade dentro do longa não se concretiza, com personagens que são tão superficiais com seriam num esquete de internet. Imagino que a proposta de um multiplot foi um pouco desnecessária. O filme poderia ter adotado o formato do ótimo Relatos Selvagens (2014), filme argentino de Damián Szifron, onde diversas tramas são contadas dividindo o mesmo tema sem ligação direta entre elas. O filme ainda abusa de referências de outros filmes. Algumas bem usadas e outras nem tanto.
Não é nem justo falar sobre as atuações, ainda que os youtubers tenham o hábito de estar em frente à câmera, eles não são atores e o filme NUNCA vende que eles seriam. Mesmo assim, não chegaram a comprometer.
O Veredito!
Assim como o youtube é uma nova mídia que já criou seu público, mas ainda não amadureceu sua linguagem, os filmes de youtubers podem vir a ser uma nova forma de fazer cinema que ainda não se consolidou por falta de tempo. Mas Internet: O Filme é uma tentativa bastante válida de experimentação, que, com certeza, não é cinema ainda, mas é bem melhor do que qualquer uma das últimas produções de Adam Sandler (Pixels, por exemplo).
Quem for pelos seus “ídolos”, vai rir e se divertir tranquilamente. Mas se for para assistir algo mais profundo, entenda que não é o filme que está errado, foi você que entrou na sala errada.