O título do filme Insubstituível chega a ser irônico
François Cluzet (Intocáveis, 2011) está para ao cinema francês assim como Ricardo Darín para o cinema argentino (um tema que rendeu um Formiga na Tela). Ambos são atores que atraem o público médio para ver seus trabalhos, consequentemente gerando visibilidade internacional para as obras de seus países. Mesmo que carisma seja fundamental para atores, a escolha de bons projetos é primordial para seu reconhecimento e estabelecimento profissional. E nesse quesito o argentino se dá bem melhor que o francês, algo que podemos constatar no filme Insubstituível (Médecin de Campagne).
(Se Cinema Francês é o que você procura, leia também as críticas de Romance à Francesa e Lolo: O Filho da Minha Namorada)
Aqui, Cluzet vive Jean-Pierre, um médico de uma região interiorana francesa que viaja pelos arredores, indo à residência dos moradores para tratá-los. Logo no inicio, recebemos junto com o protagonista a notícia de que este possui um tumor cerebral inoperável. Seu superior aconselha que ele diminua o ritmo de suas atividades e deixe outra pessoa fazer suas tarefas. Ele reluta, mas logo em seguida recebe a visita de Nathalie (Marianne Denicourt), que acabara de terminar a residência em medicina e foi encaminhada para trabalhar com ele.
A partir daí, acompanhamos a rotina diária dos médicos. Jean-Pierre luta contra sua doença em segredo, colocando barreiras para dificultar o trabalho de Nathalie e sua aceitação pela comunidade. A aprendiz, com uma abordagem mais técnica e menos humana, se esforça para ser aceita e conquistar o respeito do protagonista, considerado pela comunidade insubstituível (daí o título tupiniquim para o longa).
Um roteiro que perde pontos na obviedade
O roteiro é sabotado por sua previsibilidade desde o início, estruturado com clichês até mesmo em suas metáforas: o progresso que deixa de lado a humanização. O personagem mais velho prioriza o contato humano e faz diagnósticos através do que os pacientes dizem, está prestes a ser substituído por alguém mais jovem, que não dá tanta atenção as pessoas e prioriza seu conhecimento científico. O desenvolvimento da relação entre os dois é a necessidade de se estabelecer um equilíbrio entre o antigo e o novo. A direção de arte corrobora nesse sentido também de forma óbvia, pois Nathalie quase sempre surge em cena utilizando algum figurino vermelho, enquanto Jean-Pierre usa azul.
O filme é quase todo rodado com câmera na mão, o que tenta reforçar a instabilidade que o protagonista começa a trazer à sua rotina devido sua nova condição. Tal artificio corrobora para a apresentação de alguns sintomas da doença do personagem, que, infelizmente, não são melhores trabalhados no projeto. A atuação de François nada contribui para o drama que seria vivido pelo personagem. Em momento algum conseguimos nos identificar com as dificuldades e sofrimento de Jean-Pierre em relação ao seu tratamento.
O personagem chega a fazer sessões de quimio e radioterapia, porém tem forças para no meio de uma tempestade e à noite, atender a um chamado de urgência, sem demonstrar cansaço, fraqueza ou qualquer outra dificuldade. Em contrapartida Marianne Denicourt constrói uma personagem mais complexa, que, rapidamente, faz com que torçamos para que ela obtenha sucesso. Além disso, a subtrama envolvendo um garoto fascinado pela primeira guerra é bastante interessante. De modo geral a química entre a dupla é muito boa, propiciando momentos engraçados, especialmente nas “pegadinhas” armadas por Jean-Pierre.
Contando ainda com belas paisagens rupestres, e alguns personagens secundários que merecem alguma atenção, esse Insubstituível funciona como entretenimento. No entanto, semelhante a uma gripe, não demorará mais que uma semana para ser esquecido.