A relação mãe e filho, retratada inúmeras vezes no cinema, é sempre motivo de polêmica e curiosidade. O recente e sensacional Mommy, dirigido pelo prodígio Xavier Dolan em 2014, talvez seja o exemplar mais pungente a retratar esta relação. A produção romena Instinto Materno (Child’s Pose/Pozitia Copilului), filmada em 2013 mas exibida no Brasil somente no ano passado, apesar de não ter o peso do filme de Dolan, também tem o que dizer, elaborando sobre o autoritarismo materno e seus desastrosos efeitos na personalidade de sua prole.
Assim como o já citado Mommy, Instinto Materno traz outra performance feminina grandiosa, aqui, a cargo da veterana Luminita Gheorghiu (A Leste de Bucareste), que interpreta Cornelia, uma mulher influente que mantém uma relação de amor e ressentimento com seu filho adulto Barbu (Bogdan Dumitrache). Extremamente controladora e autoritária, Cornelia desaprova toda e qualquer atitude que seu filho tome, desde que ela não esteja envolvida ou não seja consultada. O que inclui até sua desaprovação à esposa de Barbu, Carmen (Ilinca Goia, de Dying Of The Light).
Numa noite, Cornelia é informada de que seu filho se envolveu em um acidente, onde atropelou um garoto de 14 anos, que veio a falecer. Agora, Cornelia é a única chance que Barbu tem de escapar de uma condenação, mas para isso acontecer, mãe e filho terão de tirar a limpo todas as suas desavenças e ressentimentos.De fato, a narrativa bate forte, colocando mãe e filho frente à frente em uma verdadeira guerra íntima, onde o ego autoritário da mãe tenta (sem sucesso) se sobrepor à personalidade do filho, que por sua vez, odeia a mãe por isso.
Dirigido e escrito por Calin Peter Netzer (Maria), cujo roteiro conta com a colaboração de Razvan Radulescu (4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias), o filme não desenvolve suas situações com tanta complexidade. O roteiro é até pouco inspirado, mas a produção compensa focando totalmente no tira-teima entre Carmen e Barbu, e de como o excessivo controle da mãe ao longo de toda a vida, colocou o filho em uma complicada condição de impotência e insegurança.
A produção também funciona principalmente graças à atuação avassaladora de sua protagonista, Luminita Gheorghiu, atriz muito conhecida na Romênia, sua terra natal, mas infelizmente desconhecida do grande público. Luminita rouba o show, em uma interpretação que à princípio cria uma antipatia com o público, mas que aos poucos, à medida em que sua excêntrica personalidade vai sendo revelada, vai ganhando a simpatia do espectador, que assiste, emocionado, o fenomenal e contundente desempenho da atriz na extremamente triste sequência final do filme.
Instinto Materno completa-se de maneira esplêndida, transmitindo com extrema eficácia o imensurável valor de se encarar de frente um conflito familiar, fechando a travessia de sua fraturada dupla de protagonistas.
