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Indignação – Bonitinho e com conteúdo!

Indignação

O ser humano tem sempre um prejulgamento a partir de qualquer coisa. É natural. Quando você é convidado a fazer a crítica de Indignação (Indignation, 2016), um filme cujo principal nome é Logan Lerman, o Percy Jackson (da franquia de mesmo nome) e astro do teenager de As Vantagens De Ser Invisível (2012), é inevitável dar aquela “torcidinha no nariz”. Não que o garoto tenha feito algo comprometedor em seus trabalhos anteriores, mas a associação entre elenco e franquia faz com que nós pensemos muito nas limitações da obra como se fossem limitações do ator. Acontece que o artista trabalha com o que tem em mãos e, nesse sentido, ás vezes não é possível fazer algo memorável, mesmo que ele tenha talento.

Feita a “mea culpa” sobre o prejulgamento do filme, faz-se necessária uma apresentação do mesmo. Em Indignação, temos a trajetória de Marcus Messner (Lerman), um jovem ateu de origem judia, que se passa em 1951, época da guerra da Coreia. Devido à sua inteligência acima da média, Marcus pôde fazer escolhas diferentes das de seus primos, que foram ao conflito e não voltaram. A ele foi dada a opção de ir para uma boa faculdade e tentar transformar-se em uma pessoa de sucesso. Porém em seu caminho ele precisa passar por certas provações e encontra uma problemática jovem, Olivia Hutton (Sarah Gadon), que vai por à prova tudo o que ele acredita.

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O enredo, baseado no romance de Philip Roth, de 2008, não chega a ser muito original, mas a adaptação do estreante (não tão estreante assim) James Schamus, é simples e pontual. Schamus está há muito tempo no mercado de cinema e é vencedor de diversos prêmios como produtor e roteirista, mas escolheu um roteiro próprio para estrear na direção de um longa. Percebe-se ao ver o filme que o diretor prima por não brigar com a técnica. Ele aposta em coisas consagradas, usando ambientação e iluminação tão familiares para filmes da mesma época que quase tornaram-se clichês, mas com o objetivo de fazer o texto sobressair-se. Justamente porque temos aqui um belo roteiro. O filme é redondo. A técnica é transparente, os personagens são bem explorados e têm profundidade. Os diálogos são bem construídos, relevantes e empolgantes.

E agora, com um belo material nas mãos é que podemos ver o trabalho de Logan. No papel de um jovem contestador e conflituoso, de ideias fortes, em um ambiente que esconde uma hostilidade silenciosa, o garoto mostra seu talento de uma forma impressionante. Maduro, pontual, com mínimas falhas, afinal de contas, têm apenas 24 anos, Lerman deixa para trás qualquer dúvida que pudesse surgir a partir de seu trabalho. Quando colocado frente a frente com Tracy Letts, ator e roteirista premiado, no papel do reitor Dean Caudwell, temos um embate forte e denso entre experiência e impetuosidade, que prende a atenção e tem um desfecho bastante interessante. O tratamento sobre questões psicológicas e temas fortes como o antissemitismo e a guerra é bem elaborado, coerente e, sobretudo, elegante. O contexto da família judaica, que deve ter permeado a adolescência do autor do livro é presente e provoca bons conflitos entre o protagonista e os personagens que o rodeiam. O filme explora Marcus nesse ambiente, criando uma metáfora em que o coloca encurralado e defendendo seus princípios como se estivesse encarando sozinho a ponta de uma baioneta.

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O filme também tem seus problemas, em minha opinião, na questão de direção e montagem, principalmente na segunda metade do segundo ato. Alguns planos podiam ser melhor pensados. Um pouco de virtuosismo não faria mal a ninguém,  mas o bom roteiro segura o peso e o final é muito bem pago, deixando uma sensação de consequencialidade, que é pontuado desde o início do filme. Outro ponto baixo seria o restante do elenco. Se Lerman e Letts estão muito bem, a jovem Sarah Gadon é apenas regular. Seus colegas de faculdade também não empolgam, mas, pela pouca relevância de suas personagens, passam sem muito problema.

Para uma “estreia” (de Schamus) e uma redescoberta (de Lerman), Indignação ultrapassa as expectativas sem apelar para nada muito inovador, mas exibindo uma técnica cinematográfica bem utilizada. Certamente, isso não é pouco.

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