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Paixão Obsessiva – Tão anacrônico que chega a ser cômico!

O filme Paixão Obsessiva tenta ser um produto típico dos anos 1990

De certa maneira, Paixão Obsessiva (Unforgettable) é tudo que Cinquenta Tons Mais Escuros gostaria de ser: um thriller erótico B parecido com aqueles que eram feitos no final da década de 1980 e início da seguinte, como Atração Fatal, Instinto Selvagem, A Mão Que Balança o Berço e outros. Porém, essa afirmação diz muito mais sobre o filme que adapta o livro da autora E. L. James que desta nova obra, já que esta, apesar de conseguir atingir com um pouco mais de sucesso (visualmente, ao menos) o objetivo pretendido pela outra, é tão ruim quanto ou até mesmo pior.

O filme Paixão Obsessiva tenta reviver o thriller erótico

O filme Paixão Obsessiva tenta reviver um estilo, mas falha miseravelmente!

Com roteiro de Christina Hodson e David Johnson, o filme tem como protagonista a editora de livros Julia Banks (Rosario Dawson, da série de televisão Demolidor – que teve sua primeira e segunda temporadas comentadas no FormigaCast). Achando que está livre de um passado traumático no qual sofria abusos físicos do antigo namorado, ela se muda para a casa de David (Geoff Stults), o seu atual noivo. Porém, a intenção de recomeçar a própria vida encontra resistência na figura de Tessa (Katherine Heigl), a ciumenta e possessiva ex-esposa de David e mãe de Lily (Isabella Kai Rice), a única filha do casal.

Com uma atmosfera oitentista e também noventista, o filme Paixão Obsessiva tenta trazer novamente à tona um tipo de filme que fez muito sucesso nestas décadas – o thiller erótico B -, mas que, infelizmente, com o passar do tempo, perdeu força, se tornando datado demais para as últimas gerações. Ao se propor esse desafio, para não soar anacrônico, devia sustentar a nostalgia contida na sua proposta original com um roteiro consistente, personagens complexos e uma direção criativa. Caso contrário, corria o risco de parecer um exercício de estilo frívolo e completamente deslocado do tempo atual.

Ao longo de sua duração, pode até se dizer que o filme foi parcialmente bem sucedido na tarefa, graças, unicamente, ao trabalho de fotografia do experiente Caleb Deschanel, que, trabalhando com cores quentes e tons pastéis, consegue criar uma ambientação aconchegante, mas também repleta de sombras e contrastada, assim como eram as ambientações dos filmes mencionados no primeiro parágrafo. Porém, no que diz respeito a todo o resto, além de iniciar a narrativa antecipando um evento que acontece seis meses depois da trama principal (uma decisão injustificada da montagem), a produção passa a degringolar a partir do momento em que a história começa a ser desenrolada e ocorre a tentativa de criar um mistério acerca da identidade da pessoa que está ameaçando a protagonista.

Para isso, Denise Di Novi, a diretora, compõe cenas que, se do ponto de vista técnico são bem realizadas, conceitualmente, são desastrosas, como, por exemplo, aquela em que vemos, através de uma câmera subjetiva, alguém entrar na casa da protagonista a partir da perspectiva do invasor (escondendo, portanto, a sua identidade) . Claramente, a intenção da cineasta nesse momento era de que o público se fizesse a seguinte pergunta: quem está perseguindo Julia? Tessa ou o ex-namorado que abusava dela fisicamente? No entanto, desde o início, o roteiro já deixa claro para o espectador quem é a pessoa que a está ameaçando. Portanto, não há propósito algum para o emprego da câmera subjetiva e nem para a criação do suspense ao redor da figura ameaçadora.

O filme Paixão Obsessiva tenta reviver o thriller erótico

Essa mesma pobreza conceitual pode ser vista na construção dos objetivos que o vilão do filme pretende atingir ao perseguir Julia. Aparentemente, a impressão dada ao público é a de que estamos acompanhando a elaboração de uma plano mirabolante, no qual cada passo foi previsto e calculado com muito cuidado. Porém, ao término da sessão, descobre-se que aquilo que estávamos vendo era apenas uma confusão que o próprio roteiro não conseguiu esclarecer. É impossível dizer se a intenção do vilão é assassinar Julia, enlouquecê-la, incriminá-la ou fazer com que ela e David se separem.

O roteiro também chama atenção negativamente em razão das suas incongruências. Um exemplo disso diz respeito ao vencimento de uma medida de restrição. Ao descobrir que o ex-namorado poderia simplesmente ir até a casa dela sem que isso incorresse em alguma consequência judicial, por que Julia não foi ao tribunal mais próximo e resolveu o problema definitivamente? Aliás, para expor ainda mais esse erro, ela continua tendo visões e pesadelos com ele. No entanto,o roteiro transforma a personagem num ser passivo e que não faz nada para solucionar os próprios problemas.

Um outro elemento que também espanta é o fato de que, para causar sustos (por que há a necessidade de colocar sustos em um filme como este?), a diretora chega ao cúmulo de empregar jump scares (recurso de alterar a imagem abruptamente e aumentar as notas mais altas da trilha sonora) em momentos deploráveis (a cena que envolve um rato na cozinha é patética).

O filme Paixão Obsessiva tenta reviver o thriller erótico

Um elenco talentoso, porém desperdiçado

O elenco, por sua vez, embora talentoso, é desperdiçado pela direção de atores incompetente de Denise Di Novi (a diretora não impede que algumas composições se aproximem da caricatura) e da superficialidade do roteiro de Hodson e Johnson. Ao passo que Geoff Stults até consegue realizar um trabalho razoável (o ator é carismático o suficiente para justificar o interesse romântico das duas personagens principais), Rosario Dawson abusa das caretas e expressões de surpresa para mostrar os choques sentidos pela sua personagem e Katherine Heigl investe num overacting risível (ela já surge em cena exagerada, com um olhar e feições insanas).

Ruim, anacrônico e involuntariamente cômico (a cena final, indicando uma possível sequência, é, ao mesmo tempo, hilária e assustadora – causa pavor o mero pensamento de que isso pode gerar frutos) o filme Paixão Obsessiva até tem o mérito de tentar reviver um subgênero que está indevidamente morto. No entanto, ao ficar apenas na teoria, os seus realizadores deram um tiro que saiu pela culatra: com base no resultado obtido e visto aqui, as pessoas comemorarão  o fato de que os thrillers eróticos B continuam enterrados no cemitério cinematográfico, e não o contrário.

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