O nome Cate Blanchett chama atenção no filme Manifesto, porém…
Ver Cate Blanchett (Hela em Thor: Ragnarok – sabia que ela também está no curta Red?) na tela é algo que merece uma atenção a mais. A cultuada – e oscarizada – atriz tem muito talento e uma beleza característica. No filme Manifesto (idem), ela interpreta 13 personagens totalmente diversos. Em 2008, ela esteve em uma das interpretações de Bob Dylan para o filme Não Estou Lá. De uma certa maneira, esta obra traz o inverso. O longa dirigido e roteirizado pelo estreante Julian Rosenfeldt, chegando ao Brasil com 2 anos de atraso em relação aos EUA, é uma espécie de antologia sobre pessoas e sua relação sobre ARTE.
Manifesto é um filme de arte e sobre arte. Através de uma locução cheia de sotaque e murmúrio da atriz em forma de um discurso opinativo sobre o papel da arte, sobrepondo cenas não ligadas ou com qualquer arco narrativo, somos expostos a uma contra-afirmação da utilidade e legitimidade da arte na sociedade. O título é literal em sua interpretação.
“Manifesto é um gênero textual que consiste numa espécie de declaração formal, persuasiva e pública para a transmissão de opiniões, decisões, intenções e ideias. Normalmente de cunho político, um manifesto tem como objetivo principal expor determinado ponto de vista publicamente ou mesmo para um indivíduo ou grupo de pessoas.” (definição do site Significados)
Blanchett faz todos os protagonistas de todas as pequenas histórias. Mais do que isso, ela é a única a ter diálogos. Melhor dizendo, monólogos. Todos disparados com uma dose grande de sarcasmo e em forma de discurso. Interessante como a obra sincroniza com o momento de debate no Brasil, uma vez que ele trata exatamente sobre o que pode ser considerado arte conceitual. Mais ainda, se ela existe.
Uma proposta vazia
Porém, o filme não traz mais nada. Sua concepção é meramente uma espécie de dissertação em forma de cinema, uma colagem dadaísta que discute, mas não acrescenta. Redundante, pretensioso, autocentrado e superficial. Se me permitem a sinceridade, uma masturbação poética e imagética que não toca, não provoca, não faz nada. Justamente o que o filme mesmo afirma, dizendo que a arte é o nada.
Os irmãos Coen já tinham feito provocações parecidas com o filme Um Homem Sério, que apresenta uma reflexão sobre a falta de um objetivo na vida. No entanto, essa afirmação é feita de maneira narrativa. O ensaio cinematográfico de Rosenfeldt parece um discurso marxista recheado de imagens de Cate num power point em movimento.
Por mais que a arte deva ser contestadora, quando ela for usada como uma forma de autopromoção, deveria ser no contexto do cinema. A impressão que transparece é de que estamos vendo uma nova versão da história do Rei que desfila nu em frente a uma multidão. Enganado por um golpista, que dizia ter criado uma roupa que só os inteligentes podem ver, ninguém quis ser o primeiro a apontar que, na realidade, a coisa toda era aquilo mesmo. Não existe roupa. O Rei está nu.
Ao final de mais de uma hora e meia de filme, o sentimento é de total desperdício de tempo. E nem mesmo Cate Blanchett salva.