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Julho-Agosto – Quando tudo desmorona, a família continua intacta!

As rachaduras e bases da estrutura familiar em Julho-Agosto 

No final do texto que escrevi sobre A Vida De Uma Mulher, chamei atenção para o fato de que, aparentemente, há uma tendência no cinema francês contemporâneo. Filmes como o mencionado, além de Frantz Um Instante De Amorsão obras clássicas e narrativas cujo núcleo temático gira em torno de tristezas humanas, porém, sempre apresentando uma mensagem de esperança e redenção. Em tempos cínicos como o nosso, essa visão de Mundo otimisticamente real é um sopro de vida na Sétima Arte e na alma de seus espectadores. E o mais novo filme a entrar nessa curta e seleta lista é este bom Julho-Agosto (Juillet Août).

Crítica do filme Julho-Agosto

Julho-Agosto

Dirigido e escrito por Diàsteme (Camille Pouzol também ajudou na confecção do roteiro), o longa estabelece o seguinte recorte temporal na vida das suas personagens principais, as irmãs Laura (Luna Lou) e Joséphine (Alma Jodorowsky, neta de Alejandro Jodorowsky): a duração de viagem de férias que fazem para a casa do padrasto (Patrick Chesnais) e, posteriormente, do pai (Thierry Godard), que está separado da mãe (Pascalle Arbillot). Vivendo os dramas que condizem com a sua faixa de idade (Laura é a mais nova), elas e também os outros personagens passarão por experiências tanto prazerosas quanto dolorosas.

Julho-Agosto (Juillet Août) é um filme que consegue equilibrar bem as suas intenções. Ao mesmo tempo que é duro e profundo no estudo de seus personagens, também acha espaço para introduzir leveza e comédia. Essa dualidade, que está explicitada até no título (Julho é o mês em que as duas irmãs estão de férias, e Agosto, o que retornam ao cotidiano), também é muito bem explorada na psicologia dos personagens. Todos possuem características boas e ruins. Até nos instantes em que os ladrões liderados pela namorado de Joséphine parecem esbarrar na unidimensionalidade, o filme, inteligentemente, enxerga humanidade nas suas personalidades e oferece uma resolução adulta.

Crítica do filme Julho-Agosto

Aliás, adulto é um ótimo termo para adjetivar o resultado final obtido pelos roteiristas. Mesmo trabalhando sob uma aparência que parece ser superficial (as histórias adolescentes podem dar essa impressão), todas as situações são construídas de maneira complexa e solucionadas realisticamente (partindo da suposição de que dá para falar de encerramentos na vida de pessoas jovens). E o fato de que os realizadores conseguem transitar tão bem entre diferentes temáticas e abordar momentos etários distintos é um forte sinal do excelente texto que foram felizes em conceber.

Banalização da linguagem cinematográfica

Infelizmente, Diàsteme não repete essa excelência na condução. Apesar de manter um ritmo bom do começo ao fim (mérito também da montadora Mathilde Van de Moortel) e conseguir atuações intensas de todo o elenco (com destaque para Thierry Godard e Luna Lou), ele e o seu diretor de fotografia, Pierre Milon, banalizam completamente a linguagem. Já começando com um uso indiscriminado de close-ups e e anulando qualquer tipo de efeito proveniente da técnica, eles não potencializam o texto através das imagens e sons. Além disso, não há como não destacar negativamente a sexualização de Lou na cena da dança (ela tinha 14 anos de idade na época da filmagem!). Mas essa é uma discussão ética complexa demais para ser tratada numa crítica cinematográfica.

Crítica do filme Julho-Agosto

No entanto, mesmo com essas falhas, Julho-Agosto é um filme bem-sucedido graças ao seu roteiro. Durante noventa e seis minutos, o espectador se sente bem ao lado dos personagens carismáticos e se interessa por seus destinos, além de receber uma importante mensagem sobre a família: quando tudo ao redor desmorona, ela está lá para receber os seus integrantes de braços abertos. Dessa maneira, o público sai renovado do Cinema. É bom perceber que os realizadores contemporâneos não estão sendo impregnados pelo niilismo e pessimismo que tomou conta de vários artistas nos últimos anos.

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