Inseparáveis é um remake completamente desnecessário
Na história do Cinema, há uma corrente ainda pequena e sub-reptícia que consiste na realização de remakes quase que idênticos aos filmes originais. Até mesmo diretores do calibre de Gus Van Sant – que refez Psicose, de Alfred Hitchcock, quadro por quadro – e Michael Haneke – este chegou ao absurdo de refilmar, em 2007 e com atores americanos, o longa Violência Gratuita, uma obra de 1997 e de sua própria autoria – foram vítimas dessa armadilha. A mais nova produção a adentrar nessa infame lista é o argentino Inseparáveis (Inseparables), que, cinco anos depois (sim, pasmem!), adapta o francês Intocáveis, sucesso internacional de público.
Não é mistério para ninguém que a maior parte dos longas lançados anualmente são realizados com o propósito de gerar lucro e receita para os envolvidos. No entanto, mesmo nesses casos, ainda assim há a intenção de entregar produções com um mínimo de ambição e personalidade artísticas. Já filmes como Inseparáveis deixam claro que o seu objetivo é única e exclusivamente mercadológico, afinal de contas, quais são os méritos artísticos ou técnicos que poderiam existir numa obra que copia mais de 90% de outra produção, somente para tornar a história mais palatável para uma determinada nacionalidade?
No passado, essas adaptações até conseguiam ser justificadas pela dificuldade de acesso que alguns países tinham a certos filmes, porém, nos dias de hoje, em que a internet democratizou e globalizou todos os tipos de conteúdo, não há resposta que seja capaz de justificar a existência de uma obra como Inseparáveis. Não consigo entender por que os argentinos iriam querer assistir a uma cópia ao invés do filme original. Dizer que é apenas pela familiaridade de acompanhar uma história em espanhol e com atores argentinos representando os personagens é uma resposta preguiçosa demais para ser levada a sério.
Se, ao menos, o filme trouxesse algo de novo e diferente, a sua mera existência incomodaria menos. Mas, nem isso os realizadores foram capazes de fazer. Com a exceção da troca do elenco de apoio e principal – saíram os franceses François Cluzet (do recente Insubstituível) e Omar Sy (visto também em Jurassic World), e no lugar, entraram os argentinos Oscar Martínez (do ótimo O Cidadão Ilustre) e Rodrigo De La Serna, respectivamente – e de alterações nas paisagens e na trilha sonora – as canções do grupo norte americano Earth, Wind And Fire foram substituídas por músicas de origem latina -, o restante do filme é praticamente idêntico ao longa de 2011.
Inutilidade inexplicável
Marcos Carnevale, o diretor e roteirista que adaptou o texto original de Olivier Nakache e Eric Toledano (a dupla também foi responsável pela direção do primeiro filme), recria preguiçosamente os elementos que estavam presentes na produção francesa: são os mesmos personagens, conflitos, brincadeiras, piadas e situações. E, apesar de os atores e, principalmente, a dupla principal de intérpretes, serem carismáticos e talentosos (embora Martínez abuse dos sorrisos para deixar o seu personagem mais agradável), eles não são capazes de transformar a experiência de acompanhar uma história que foi vista há poucos anos em algo agradável.
Em último caso, Inseparáveis poderá ser interessante para os espectadores que irão assisti-lo sem saberem nada a respeito do longa de 2011. É até possível que se envolvam com a história e os personagens. Porém, aos que já conhecem a produção original, não há nada que possa fazê-los sair de casa e ir aos cinemas. Esse filme já foi visto anteriormente, e, convenhamos, ele já não era tão bom. Vê-lo uma segunda vez é uma tortura difícil de aguentar.