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Café – Múltiplos sabores do dilema humano!

O filme Café trata as nuances da vida como os sabores e texturas da bebida

Lançado com dois anos de atraso, o filme Café (Caffé, 2016) do cineasta italiano Cristiano Bortone, quer debater escolhas que a vida nos dá, impõe ou nega. O filme traz três histórias acontecendo em três países diferentes (China, Itália e Bélgica) que são interligadas pelo produto que dá nome ao filme. Esse tipo de filme, que no universo dos roteiros chamamos de multi-trama, apresenta, normalmente, estórias paralelas que constroem uma narrativa única, com o objetivo de dar visões diferentes sobre o tema principal.

filme café

A primeira história se passa na Bélgica e é centrada num árabe, dono de uma cafeteria pequena e familiar, e seu conflito com um hooligan (torcedor violento) que encontra, numa manifestação de protesto, a oportunidade de arrombar e pilhar lojas. Entre elas, a cafeteria.

A segunda história fala de um jovem barista (especialista em café) que se muda com a namorada para Trieste, capital italiana do café, e se envolve com trabalhadores revoltados com a situação de desemprego, humilhação e falta de dinheiro. Juntos, eles percebem que existe uma oportunidade de ganhar muito roubando uma carga valiosa de café.

A terceira história fala de um jovem executivo chinês incumbido de resolver o problema de uma fábrica de café de seu sogro, que fica justamente na cidade onde ele nasceu e que gostaria de nunca mais voltar. De longe, é a trama mais clichê. Mas a mais poética também.

Todas os contos criam dilemas morais para seus protagonistas, que envolvem escolhas que a vida apresenta. A própria apresentação do filme fala sobre os tipos de café: amargo, azedo ou aromático. As três histórias transmitem esse “sentimento”, pois esse parece ser o sabor que fica na boca após “provar” dessas pequenas narrativas.

filme café

Vidas e gostos

Hamed, o árabe vivido por Hichem Yaboubi, só quer viver em paz a sua vida, agora pacata, mas o ambiente que a Europa vive é de desconfiança e ódio, pois ao mesmo tempo em que refugiados e imigrantes avançam para o continente, muitos países sofrem de um empobrecimento e de uma falta de esperança que o coloca como um “invasor” e como alvo para a frustração de pessoas locais. O desenrolar da sua jornada é tortuoso e cheio de violências que são difíceis de lidar e tem o teor mais político. É o de gosto mais amargo.

Renzo (Dario Aíta) é sonhador, jovem e iludido com sua paixão pelo café e pela namorada, mas percebe-se que ao mesmo tempo ele pode ser facilmente envenenado pelas más companhias e pelo desejo de conseguir uma situação melhor da maneira mais “fácil”. Usa da forma juvenil e inconsequente para debater sobre escolhas ruins. Seu caminho é azedo como veneno.

Já o caminho de Ren Fei (Fangsheng Lu) é de redescoberta e reencontro com seu passado, e redenção de suas escolhas egoístas. Tem um fundo de crítica à ambição e ao capitalismo. Entre as maravilhosas plantações de café selvagem, ele caminha por uma estrada aromática.

O filme é bem construído e as histórias se tocam apenas superficialmente. Todas são boas, mas derrapam um pouco no melodrama e num sentimentalismo um tanto desnecessário. Porém, cada uma delas é eficiente em apresentar os dilemas, as escolhas e os desfechos, às vezes até surpreendentes. Cada linha tem tratamentos de cor e fotografias diferentes*, lembrando filmes como Crash e até Cidade de Deus – mas ainda assim eles se conversam pela direção.

Não chega a ser um filme monumental, e o café é apenas uma desculpa que passeia como um aroma fresco pelos três mundos, pois o importante a ser dito ainda está nos personagens – e o sabor que suas vidas têm.

Falando em fotografia, que tal conferir esse artigo sobre Vittorio Storaro?

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