Apesar de bem intencionado, A Promessa não passa de um dramalhão
O Cinema tem uma importante missão de contar histórias terríveis sobre a humanidade. Não à toa, existem várias obras sobre a miséria da África e sobre o Holocausto, histórias que precisam ser contadas para o mundo de alguma forma. Pois bem, o filme A Promessa (The Promise) é sobre um episódio não muito falado: o genocídio do povo armênio, ocorrido na Turquia durante a Primeira Guerra Mundial. Pena que um assunto tão sério e relevante como esse esteja retratado em um algo tão aborrecido e datado.
O longa se passa em 1912 e conta a história de Mikael (Oscar Isaac, de O Ano Mais Violento e Ex Machina), um armênio que vai estudar medicina em Constantinopla. Antes de partir de sua aldeia, ele promete que, assim que se formar, vai se casar com Maral (Angela Sarafyan). Após chegar à metrópole, Mikael se apaixona por Ana (Charlotte Le Bon), uma jovem armênia de origem francesa que tem um caso com Chris (Christian Bale, de Tudo Por Justiça), um jornalista americano. Os três serão testados, enquanto precisam lutar por suas vidas durante o massacre eminente.
O roteiro de A Promessa comete vários erros. Escrito pelo diretor Terry George e por Robin Swicord, é um texto que se perde logo nos primeiros minutos, pois é muito previsível e óbvio. Não há nenhuma sutileza ou subtexto, tudo é jogado de maneira clara na cara do espectador. Além da promessa do título e do triângulo amoroso entre os protagonistas serem estúpidas muletas para o roteiro, não ajudam a desenvolver a trama e são esquecíveis. Todas as situações apresentadas já foram vistas em inúmeros filmes que mostram esse tipo de tragédia: os bons que ajudam os aflitos; o protagonista sobrevive em um campo de concentração; todos os militares são malvados e sem alma (discutirei mais sobre isso adiante); todos eles estão desesperançosos, mas tem algo no fundo de seus corações que os fortalece; etc… Ou seja, tirando o tema histórico, não há nada novo ou notável dramaticamente.
Além de o texto rasteiro, o ritmo é péssimo. É um filme de 133 minutos, mas parece que tem mais de três horas. Ele acha que constrói alguma tensão, mas, como já foi dito, é só repetição de situações já vistas em outros filmes. A direção de Terry George é fraca e sem inspiração, apesar do bom desempenho de seu elenco. O máximo de inspiração que há no trabalho de direção está em utilizar o seu cenário, mas são poucos momentos, já que a fotografia e o design de produção têm a mesma pobreza. Apenas fazem uma boa reconstituição de época, mas não há um significado narrativo dos cenários ou dos figurinos ou na luz. É um trabalho básico e fraco.
O trio principal entrega boas performances. Oscar Isaac merece destaque. Apesar de ser um ator por quem eu sentia certa antipatia, está cada vez melhor. Tem carisma, presença e é muito expressivo, estabelecendo-se como o grande pilar do filme. Se o espectador chega até o final, é por conta da presença do ator. Apesar de não ter tantas cenas e contracenar pouco com Isaac, Christian Bale também não faz feio. O britânico já demonstrou várias vezes que tem magnetismo em cena e não é diferente aqui, além da sutileza na sua composição. A forma como ele observa o massacre, evitando a expressão clássica de terror, é um bom exemplo disso. A canadense Charlotte Le Bon completa bem esse triângulo, mostrando boa química com os dois atores e valorizada por estar fora do clássico padrão de beleza estereotipada. Entendemos porque ambos estão apaixonados por Ana e a atriz confere força ao papel.
Visão do Estrangeiro
Por mais bem intencionada que seja a mensagem de Terry George, seu longa mostra uma clara visão de um estrangeiro sobre o assunto abordado. Além da falta de sinceridade, George apela ao que já se tornou uma característica batida em filmes sobre massacres: o maniqueísmo. Diferente de obras como O Pianista, Beasts Of No Nation e 12 Anos de Escravidão, que evitam categorizar os seus personagens, A Promessa segue a seguinte lógica: os armênios são pobres coitados, os turcos são monstruosos e os americanos são heróis.
Por mais que tentem dar algumas camadas ao personagem de Bale, como alcoolismo e mostrá-lo cormo um namorado abusivo, ele é um herói integro, assim como o embaixador vivido por James Cromwell. O incômodo aumenta por ser um filme em que os personagens são, evidentemente, turcos e armênios, sendo o único americano o personagem de Christian Bale, mas todos falam inglês. Ainda por cima com forte sotaque pra mostrar que é turco. Estamos em 2017 e esse tipo de estratégia não funciona mais. Já está datado há pelo menos trinta anos e é incrível que algo que se pretenda atual ainda tente seguir essas regras.
Enfim, não há mais o que dizer sobre A Promessa. Resumindo: é longo, chato, óbvio, clichê e maniqueísta. É mais uma prova que o ditado popular está correto sobre a relação entre o inferno e boas intenções…