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Feito na América – Uma agradável surpresa!

Feito na América traz uma história surpreendente contada de maneira contagiante

Sejamos sinceros, quando vemos o trailer de Feito na América (American Made) pela primeira vez, pensamos o seguinte: mais um filme sobre Pablo Escobar (que tem andado em evidência desde Narcos), só que agora pela perspectiva de um personagem vivido por Tom Cruise (recentemente visto em A Múmia), que – novamente – interpreta… Tom Cruise. Mas nada como uma boa e velha surpresa, pois o longa de Doug Liman se mostra muito inspirado e com uma energia fascinante.

Crítica de Feito na America, com Tom Cruise.

Feito na America

O filme conta quase uma década da vida de Barry Seal, um piloto de avião malandro que é contratado por Schafer (Domhnall Gleeson), um agente da CIA, para fazer entregas de armas e propinas na América Central, a fim de acabar com os cartéis de drogas. No meio do caminho, o piloto encontra os líderes do famoso cartel de Medelín, com Pablo Escobar (Mauricio Mejía) entre eles, e decide trabalhar para ambos os lados, se aproveitando da situação para ganhar muito dinheiro. Apesar do grande esquema feito por Barry, nada que é bom dura por muito tempo.

Sei que a história não parece grande coisa, mas como dizia Roger Ebert: Não importa sobre o que é o filme, mas sobre como ele é sobre tal tema. No caso, o roteiro de Gary Spinelli se mostra muito inteligente e ágil por apresentar de maneira clara os personagens e por criar ótimas situações que variam entre o tenso e o cômico com muita naturalidade. Aliás, clareza é a palavra chave para o roteiro: tudo é deixado de maneira explícita desde o começo. Das motivações dos personagens até o contexto político. Mesmo as críticas ácidas aos métodos do governo norte-americano são feitas de maneira direta. É um roteiro focado, que conta uma história interessante de uma maneira que prende a atenção do espectador.

Martin Scorsese wannabe

É justamente nas escolhas narrativas que Feito na América se destaca. A impressão é que o diretor Doug Liman quis emular o estilo mais louco de Martin Scorsese em O Lobo de Wall Street, saindo-se muito bem. Além de um senso de humor ácido e uma boa dose de energia, Liman consegue recriar a década de 1980 e as suas loucuras. Toda a linguagem do filme está a serviço deste objetivo, utilizando, inclusive, as famosas narrações em off  dos filmes de Scorsese e o tipo de trilha característica dos trabalhos do cineasta veterano.

Crítica de Feito na America, com Tom Cruise.

A montagem é outro fator que corrobora a afirmação acima e é excelente. Feita por três pessoas (Saar Klein, Andrew Mondshein, Dylan Tichenor), dá um ritmo ótimo ao filme com cortes rápidos e até animações com os esquemas feitos por Barry. Além de construir com eficiência os momentos de tensão, é um dos pontos que mais chama a atenção do filme.

A fotografia é assinada pelo uruguaio César Charlone e mistura vários estilos. Vai de vídeo VHS com a imagem muito granulada até a película com as luzes estouradas, principalmente quando Barry viaja para os países latinos. Poderia se tornar uma grande bagunça visual, mas se mostra um elemento de identidade muito forte para o filme. Além de um competente trabalho na parte visual, a câmera e as luzes criam uma energia que permeia todo o longa.

O elenco se mostra muito bem encaixado. Domhnall Gleeson constrói um personagem com uma moral tão duvidosa quanto a de Barry, revelando suas reais intenções aos poucos, mostrando uma ótima química com Tom Cruise. Aliás, esse mérito não é apenas de Gleeson, mas para todos os atores, sendo que quase todos contracenam com Cruise e mostram o mesmo entrosamento. Outros destaques são os atores que fazem os chefes dos cartéis, que conseguem ir do amigável ao ameaçador com muita facilidade, e para Sarah Wright, trazendo uma ótima personalidade para a esposa de Barry.

Crítica de Feito na America, com Tom Cruise.

E chegamos a Tom Cruise. Vou deixar claro que o acho muito carismático e talentoso, mas, em seus últimos trabalhos, parece que é sempre a persona do ator em cena. Virou um clichê ele interpretar alguém simpático e sorridente, ou mesmo algum genérico de Ethan Hunt, seu personagem na franquia Missão: Impossível. Em Feito na América, o ator mantém seu carisma combinado com algumas sutilezas na composição, destacando Barry na galeria de personagens. Exemplo: notem como mesmo por trás dos sorrisos e das falas amigáveis, Cruise deixa claro que o seu personagem está assustado através de sutilezas como fala ou olhar.

O jeito calmo do protagonista cria aquele tipo ambíguo que é sempre interessante. A presença do ator e a composição fazem com que seja inevitável simpatizar com ele, porém, estamos falando de alguém cuja moral é corrompida, falando de um jeito simples. É esse tipo de contradição que faz a diferença. Você, que assistiu a Breaking Bad, sabe bem como é isso…

Enfim, Feito na América se torna uma boa surpresa nestes últimos lançamentos. Ágil, bem humorado, com boas atuações e uma história bem legal. Infelizmente, termina com a impressão que poderia ser melhor, mas, para sua proposta, está de ótimo tamanho.

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