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Dois Caras Legais – O nome diz tudo!

Dois Caras Legais

Dependendo da sua proximidade com o cinemão hollywoodiano, pode ser que tenha um pé atrás quando o nome Shane Black aparece envolvido em alguma produção. Apesar da carreira extensa como roteirista (iniciada com Máquina Mortífera, em 1987), ele não possui muita experiência como diretor e seu segundo longa foi o – eufemisticamente falando – polêmico Homem de Ferro 3. Eis que chegamos à sua terceira experiência no comando de um filme e ele mostra que, a exemplo da sua estreia com os policiais de Mel Gibson e Danny Glover, ele se sai bem quando a coisa gira em torno de uma dupla improvável. Ainda que aqui o cenário geral esteja mais para o humor, é impossível ignorar a similaridade.

Dois Caras Legais

Dois Caras Legais (The Nice Guys) é uma narrativa que parece adaptada de um pulp. Na Los Angeles de 1977, Jackson Healy (Russel Crowe) é um brutamontes bonzinho, nem por isso menos durão, ganhando a vida afastando pessoas indesejáveis de seus clientes. Amelia (Margaret Qualley) o contrata para afastar Holland March (Ryan Gosling), um detetive particular meio atrapalhado, contratado por uma idosa que tenta encontrar sua sobrinha. O problema é que a tal sobrinha é uma atriz pornô, morta em um suposto acidente, que sua tia alega ter visto com vida depois. Durante essa investigação, March encontra uma ligação com Amelia, a quem procura em busca de informações.

Não é necessário pensar muito para sacar que Healy e March, personalidades bem distintas, vão estranhar-se, descobrir uma conspiração neste embrulho e acabarão se unindo para resolver tudo. Sim, exatamente isso, só que o roteiro, escrito pelo próprio Black e o estreante Anthony Bagarozzi, ainda tem muito mais recheio. As situações puxadas por essa trama rocambolesca, que alguns podem achar truncada demais para uma comédia de ação, parecem encontrar sua razão de ser como homenagem a um tipo específico de filme policial: o noir. Neste quesito, ele chega a lembrar – de longe – Vício Inerente, de Paul Thomas Anderson, que também brincava com uma trama detetivesca, situada em uma época e um contexto pouco característicos dela.

Dois Caras Legais

Se o roteiro escorrega ocasionalmente, principalmente quando busca o apelo dramático no passado dos protagonistas, no humor ele garante a diversão. O filme ganha – e muito – com as presenças de Russel Crowe e Ryan Gosling, esbanjando carisma, seja sozinhos ou dividindo a cena. O primeiro, mais gorducho do que estamos acostumados a vê-lo, equilibra bem a truculência com o jeitão de gente boa em quem podemos confiar. Gosling, por outro lado, faz um tipo mais cômico, acertando em 90% das vezes quando sobra para ele a responsabilidade de fazer rir. A dupla tem um reforço de peso na figura da filha de March, Holly – Angourie Rice, em seu segundo papel em um longa. A menina consegue agradar naturalmente, evitando cair naquele tipo de adolescente espertinha enjoada, às vezes roubando a cena aqui e ali.

Dois Caras Legais

Na reconstituição da época, um desenho de produção competente de Richard Bridgland, de Rock’n’Rolla: A Grande Roubada e Serena, bem casado com a fotografia de Phillipe Rousselot, dos dois Sherlock Holmes de Guy Ritchie. Rousselot ilumina e destaca esses cenários e locações de uma forma sutil, mas perceptivelmente confere uma imagem que parece realmente de outra época, algo que ajuda muito na imersão nesta narrativa.

É bem improvável que um filme como Dois Caras Legais mude a vida de alguém, ou provoque um interesse maior pela Sétima Arte. No entanto, é honesto – qualidade rara hoje em dia – e competente dentro da sua proposta, divertindo sem compromisso como a leitura de um pulp, comparação que você já viu lá em cima. Além do bom ritmo, é engraçado no geral e valorizado por dois atores principais à vontade em seus papéis, claramente trabalhando com prazer. Já está de bom tamanho, não?

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