Quem nunca quis saber o que se passa na cabeça de uma pessoa? Ou melhor, como ela funciona. É isso que se propõe a investigar, de maneira extremamente divertida e lírica – é claro – a nova e espetacular animação da Pixar, Divertida Mente (Inside Out). Este não só é o melhor filme do estúdio em um bom tempo, como uma das melhores animações dos últimos anos. Depois de cinco minutos de filme, eu já havia ficado impressionado, encantado, emocionado e já havia sido completamente conquistado por sua beleza e originalidade.
O filme mostra como os sentimentos de uma pessoa, que aqui são representados por deliciosos personagens, a Alegria, Tristeza, Nojinho, Raiva e o Medo, influenciam e controlam o comportamento da mesma. No caso, de Riley, uma adorável garotinha de 11 anos que teve uma infância feliz, controlada sobretudo pela Alegria, e que agora é forçada a mudar de cidade por causa do trabalho do pai. Apesar do carinho da família permanecer, a nova cidade, casa e escola vão deixar Riley e suas emoções bastante confusas e elas terão que aprender a lidar com essa nova situação, o que não será nada fácil.
Falar mais do que isso sobre a história não faz sentido, pois uma das graças do filme é descobrir aos poucos e se encantar com a criação deste incrível mundo, aliás, visualmente deslumbrante e imaginativo, como já esperamos quando o assunto é Pixar. O design dos personagens é relativamente simples, mas lindo e se encaixa perfeitamente com as personalidades de cada um, porém, falar sobre o visual estupendo e o apuro técnico da animação é chover no molhado. Mesmo sendo algo a se admirar e aplaudir sempre, a alta qualidade técnica já é um padrão do estúdio.
O trunfo mesmo aqui é o roteiro. Apesar da premissa ser bastante original e criativa, também é bastante difícil e desafiadora de se desenvolver, e com um pouco menos de habilidade, poderia falhar facilmente. Felizmente, os roteiristas Pete Docter, Meg LeFauve e Josh Cooley fizeram um ótimo trabalho, inteligentíssimo e altamente perspicaz, misturando altas doses de humor (as piadas são hilárias), aventura e muita, mas muita emoção. Todas as peças aqui estão no lugar. As sacadas, principalmente sobre o funcionamento de nossa mente e as emoções que a controlam são de uma sensibilidade e inteligência admiráveis. O universo e as regras que o controlam são muito bem desenvolvidos e divertidos. Os personagens são bastante carismáticos e fazem a gente se importar. Além disso, o principal, aquele indefinível senso de magia, tão importante nesse tipo de história, está mais do que presente e pulsante aqui.
Pete Docter, que divide a direção nesse filme com Ronaldo Del Carmen, confirma de vez que é uma das mentes mais brilhantes e sensíveis por trás do sucesso da Pixar e talvez um dos melhores e mais bem sucedidos diretores de animação de todos os tempos. Sua habilidade em balancear humor e emoção é impressionante e aqui não poderia ser mais apropriada. Afinal, para um filme que tem a árdua ambição de mostrar como funcionam as nossas emoções, a facilidade com que ele nos leva das gargalhadas às lágrimas, e vice-versa, demonstra que estamos nas mãos de especialistas no assunto. Como na própria história, parecem saber apertar os botões certos para controlar nossas emoções.
Divertida Mente é, sobretudo, um filme de bom coração. Os bons sentimentos e principalmente o carinho são palpáveis na tela. O ensinamento que ele passa – que obviamente não revelarei aqui – é surpreendente e bastante maduro. Aliás, amadurecimento é a palavra-chave, tanto dos personagens, quanto do estúdio e até mesmo do público, que, criança ou adulto, terá muito a aprender com esse belíssimo filme.
Para quem quiser o trailer legendado, aí está: