Home > Cinema > Diretor Atom Egoyan faz de SEM EVIDENCIAS seu relato sobre polêmico caso americano

Diretor Atom Egoyan faz de SEM EVIDENCIAS seu relato sobre polêmico caso americano

Sem Evidencias 1

O diretor egípcio, radicado no Canadá, Atom Egoyan tem bagagem no cinema. Em seu currículo já tem uma indicação ao Oscar e prêmios em festivais, incluindo Cannes. Respeitado, tem prestigio entre muitos cinéfilos e mais de duas décadas de longas. Mereceria mais atenção da minha parte, mas o fato é que estou bem longe de ser um expert em sua filmografia e confesso não poder julgar se sua carreira evoluiu ou regrediu com o tempo. Uma coisa é certa: a sua preferência por histórias dramáticas fortes.

Assistir a Sem Evidências é lembrar de seu maior sucesso internacional, O Doce Amanhã (indicado ao Oscar em 1998), um dos poucos filmes que acompanhei do diretor.  Não são tramas parecidas, mas ambas se assemelham na discussão de comportamento em comunidades fechadas e influenciadas por alguma religião predominante, ou algum outro fator de comando autoritário.

O palco do filme em questão aqui é West Memphis, Arkansas, cidade onde se desenrola a trama. Vale abrir um parênteses para comentar que o nome original do filme é Devil’s Knot, ou seja, mais uma vez está provado que os gênios da tradução adoram um nome bem básico e sem graça. Pior ainda se tiver spoiler, como também é este o caso.

Baseado em fatos reais, Egoyan retoma um caso americano famoso, ocorrido em 1993, e bem explorado em uma série de documentários para a TV chamada Paradise Lost, realizada em três partes. Na história, os adolescentes Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley Jr são acusados de assassinar brutalmente três crianças. Suspeitos de terem realizado estas mortes através de um ritual de sacrifício humano, participam de um extenso julgamento repleto de polêmicas, interesses e incertezas. A comunidade religiosa não perde tempo crucificando antecipadamente os meninos adoradores do “Demo” e de Heavy Metal. Dentro do elenco principal, Reese Witherspoon é a mãe de uma das crianças assassinadas e Colin Firth é um investigador que decide ajudar os advogados dos jovens acusados.

O trio de adolescentes que irá enfrentar a fúria da comunidade

O trio de adolescentes que irá enfrentar a fúria da comunidade

Este “docudrama” de Egoyan é simples, direto e explica o caso através de fatos, na medida em que os conflitos tomam corpo no enredo. Tenta ser imparcial e consegue, mas é pouco. O filme é insosso e a narrativa é bem conservadora. O diretor relata o caso sem correr muitos riscos no roteiro, que segue linha básica. A estrutura é bem comum e a tensão evolui de forma previsível. Não há uma cena “fora da caixa” e, por mais que o trivial de Egoyan seja bem feito, o algo mais que você e eu esperamos não vem.

Boa parte da história acontece no tribunal e a linha conduzida pelo diretor pode evocar lembranças de episódios de Law & Order, quando algumas cenas tem introdução descritiva. Se a ideia era fazer do filme o mais próximo de um documentário possível, aí sim poderíamos entender a intenção do diretor, porém o que fica mesmo é a cara de uma produção feita diretamente para a TV, talvez uma minissérie.

Acerto: o elenco. A dupla principal na tela, Firth e Witherspoon, trava somente um ou dois diálogos durante o filme, mas funciona bem separadamente. Centrado e lógico, Firth é a voz da razão na história (como parece ser na maioria de seus filmes) e ela traz equilíbrio contrapondo com o lado emotivo. Boas atuações em geral, mas quem leva o troféu de interpretação é o menos badalado Alessandro Nivola, o marido de Witherspoon na trama. É quase imprevisível em suas ações e isso se deve ao tipo indiferente ou misterioso que emprega ao personagem.

Alessandro Nivola ao lado de Reese Witherspoon

Alessandro Nivola ao lado de Reese Witherspoon

Se deixarmos de lado a falta de criatividade na condução da história e aquela sensação de já ter visto alguma coisa parecida antes, vale levar em consideração o filme como um documento de denúncia, comportamento e/ou injustiça… Assim, sua experiência pode ser melhor. Melhor ainda se você não tiver familiaridade com o caso e se tudo for novidade. Neste caso, sua avaliação pode ser mais interessante.

Mesmo assim, não se anime muito, infelizmente. Sua discussão no pós-crédito provavelmente estará mais relacionada aos fatos do caso do que propriamente ao que Egoyan tenha trazido de novidade para o cinema. Sei não… Para os interessados, segue o trailer legendado abaixo:

[su_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=DyoVrlq-P-k”]

Já leu essas?
Crítica do filme 1917
1917 – Uma bela realização técnica!
Febre de Bola – O fanatismo elevado à última potência!
Crítica de Somente o Mar Sabe
Somente o Mar Sabe – Contra a maré!
Crítica de Uma Dobra no Tempo
Uma Dobra no Tempo – Quando a direção salva!