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A Colina Escarlate – Tanto potencial…

A Colina Escarlate foi comentado no Formiga na Cabine!

A Colina Escarlate

Compreensível que um projeto envolvendo um terror/suspense sobrenatural de época, mais especificamente com fantasmas, e o nome do diretor Guillermo del Toro gere uma expectativa positiva. Sempre trabalhando também nos roteiros que dirige, o cineasta é diretamente associado a produções onde o fantástico domina, com um esmero visual marcante e acima da média, algo que foi entregue em O Labirinto do Fauno, Hellboy e sua continuação, Círculo de Fogo e outros. Melhor dizendo, nestes exemplos ele não entregou apenas o visual bacana, já que estamos falando de filmes onde é perceptível a preocupação com o ritmo narrativo e com a coesão geral. Sobre o tal projeto citado no início, digamos que o cuidado restringiu-se mesmo ao visual.

Em A Colina Escarlate (Crimson Peak), del Toro teve como seu co roteirista Matthew Robbins, repetindo a parceria de Mutação (1997). A norte-americana Edith Cushing (Mia Wasikowska) é a filha única de um homem rico, aspirando uma carreira de escritora, mas o machismo vigente em meados do século XIX é um obstáculo para a apreciação de suas narrativas com fantasmas. O início do filme já deixa clara a relação dela com o sobrenatural, além do sobrenome da personagem ser uma homenagem a Peter Cushing, ator inglês icônico, identificado com produções de terror. A rotina de Edith é balançada pela chegada do baronete inglês Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) com sua pouco expressiva irmã Lucille (Jessica Chastain), atrás de investimentos para minerar a argila vermelha especial do terreno da propriedade de sua família. Edith e o quase falido Thomas se envolvem sob o olhar desconfiado do pai dela, criando uma paixão proibida, situação que ocupa o primeiro ato do filme.

A Colina Escarlate

Transferindo a narrativa para a Inglaterra, na propriedade dos Sharpe, o filme muda seu tom e investe mais no clima do suspense. Na verdade, o início já tenta assustar em um ou outro momento, sem sucesso, com o recurso de aumentar a trilha sonora de repente, mas ao abraçar de vez seu gênero, não se sai muito melhor. Nesta altura, o filme se torna uma releitura de A Queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe, pois temos uma família decadente, sua mansão caindo aos pedaços e edificada em um terreno instável, relações familiares misteriosas, uma pessoa recém-chegada, sobrenatural pairando… Bem, aí é que entra uma diferença fundamental entre a escrita de Poe e o roteiro do filme, que é a sutileza ambígua. A Colina Escarlate não tem nenhuma, ambígua ou não, preferindo mastigar tudo para o espectador, logo, o cerne do problema é realmente o texto, ironicamente de autoria de quem o dirigiu.

O leitor mais atento já deve ter desconfiado que a vocação literária de Edith, ignorada a partir da mudança de ambiente, é um recurso metalinguístico. Poderia render muito, só que a boa ideia acaba soterrada por várias situações bastante inverossímeis, prejudicando – principalmente – a experiência de se deixar levar pela história. Por exemplo, digamos que, entre outras coisas, autoridades nem se dão ao trabalho de iniciar investigações de assassinato e pessoas próximas à vítima, que sabem quem seria o principal suspeito, ficam caladas sem motivo, a não ser quando é conveniente que alguém comece a desenterrar o caso. Demais até para o espectador mais distraído.

A Colina Escarlate

Levando em consideração o mínimo que se espera de Guillermo del Toro, ele se sai bem ao criar belas cenas, amparado por uma direção de arte bacana– que sempre chama mais atenção quando é um filme de época – e pela fotografia do dinamarquês Dan Laustsen, que trabalha mais em seu país natal, mas exerceu a função no ótimo O Pacto dos Lobos, filme francês de 2001. Ainda que o CGI não seja convincente em todas as aparições, é preciso destacar que a virtude desta produção é aparentar um orçamento muito maior do que o utilizado ($ 55 milhões), um testemunho do valor de del Toro como profissional. Infelizmente, o mesmo cuidado não foi dispensado ao restante, nem mesmo à direção de atores, que sofrem com a precariedade do texto, mas qualquer esforço maior da parte deles não melhoraria muito o conjunto.

Chegando ao final, A Colina Escarlate frustra pelo potencial da premissa e do cineasta, que juntos prometiam algo acima da média, animando mais ainda pelo fato de não ser adaptação de HQ ou livro, refilmagem ou continuação. Ficou devendo, mas deixa um alento para todos os fãs da literatura de horror. Ainda bem que outro projeto comentado de Guillermo del Toro, a adaptação de Nas Montanhas da Loucura, de H. P. Lovecraft, não aconteceu.

Fica a lição de que as coisas sempre podem ser piores.

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