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Chappie – Sucata é elogio!

Chappie foi comentado no Formiga Na Cabine!

chappie

Era uma vez um cineasta sul-africano chamado Neill Blomkamp, que em 2009 chamou a atenção do mundo ao estrear nos longas-metragens com Distrito 9, que oficialmente custou a bagatela de U$ 30 mil. Uma grande promessa para o cinema de ficção científica naquele momento,  em 2013 ele entregou um segundo filme bastante inferior, Elysium , já contando com elenco de peso e (muito) mais dinheiro.  Pela realização anterior, o cara ainda merecia crédito, e quando Chappie ganhou seu primeiro trailer, indicou uma premissa interessante e algo muito próximo do filme que o revelou.  Expectativa criada, apenas para ser aniquilada assistindo ao filme.

Chappie

Em um futuro próximo, as forças policiais foram incrementadas com batalhões de robôs com autonomia limitada para as tarefas características, o que de fato reduz o crime. Deon (Dev Patel), o empregado da empresa fornecedora que criou o projeto, sonha em avançar na pesquisa de Inteligência Artificial, criando uma máquina com sentimentos, enquanto o enciumado Vincent (Hugh Jackman), engenheiro ex-militar, precisa engolir o veto da empresa à sua máquina policial – design descaradamente copiado do ED-209, de Robocop (1987) – controlada por um operador remoto.  Apesar do sucesso de Deon, a empresa nega seu pedido para testar a tal IA revolucionária, o que o faz roubar uma carcaça condenada de um robô policial, momentos antes de ser sequestrado por três bandidos endividados. O objetivo do trio é descobrir como desligar os robôs, ficando livres para realizarem um grande assalto.

Chappie

Claro que a ativação do tal programa de IA acontece enquanto o robô está em poder dos bandidos. Batizado como Chappie (voz de Sharlto Copley, amigão do diretor), o autômato é uma criança aprendendo, sob a má influência de marginais. Interessante? Falando assim até é mesmo, porém essa premissa virou um roteiro que parece ter sido escrito por uma criança, cortesia do próprio Blomkamp com Terri Tatchell, tamanha a ingenuidade das situações, estereótipos e absurdos a que ele expõe o público em seus 120 minutos intermináveis.  Sentiu falta dos nomes dos atores que fazem os bandidos no parágrafo anterior? Deixei para citar agora, inaugurando a lista dos deméritos do filme. O casal de personagens Ninja e Yo-Landi são rappers sul-africanos, “atuando” no filme com os mesmos nomes artísticos, creditados ainda na trilha sonora. O terceiro elemento desta turminha nem importa.

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Se a presença de cantores se promovendo já é um mau sinal – péssimo, na verdade – as caracterizações medonhas deles são um bônus à parte. Apresentados como bandidos perigosos no início, prestes a assassinar pobre cientista Deon a qualquer momento, Yo-Landi se comove instantaneamente com a infantilidade de Chappie, virando sua “mãe”. Ao longo do filme, vemos também Ninja e o outro tomando atitudes muito tolerantes com Deon, que vai e volta do esconderijo quando quer, apenas para interagir com sua criação. Falta inteligência neste bando, sendo que Yo-Landi teve a brilhante ideia de desligar os robôs da polícia olhando para uma TV e seu controle remoto. Hugh Jackman também poderia passar sem essa, já que seu personagem segue à risca o modelo do lunático que será a última ameaça do filme. Não é spoiler, pois você perceberia isso com menos de cinco minutos de filme. O personagem, além de estereotipado até a medula, ainda trabalha no escritório armado!

Hugh Jackman não merecia isso!

Hugh Jackman não merecia isso!

Enquanto a narrativa avança, mais vai ficando claro que ninguém ali estava muito preocupado com a capacidade cerebral do público. Depois de percebermos que estamos vendo uma colagem mal-feita de algumas ideias de Robocop e Wall-E, a coisa afunda ainda mais, chegando ao cúmulo da Sony fazer um merchandising bizarro com o Playstation 4. Para quem não sabia, eles são os donos do estúdio responsável pelo filme, Columbia Pictures. Falando nisso é provável que a quantidade inútil de sequencias em câmera lenta seja uma exigência deles, já que elas servem muito bem para chamar atenção nos trailers e só. Esse tipo de interferência, tão comum em grandes produções, é um detalhe que explica (mas não justifica) a coleção de equívocos que aqui se apresenta.

Chappie

Chappie é um motivo de lamentação para o fã da boa ficção científica, um gênero que nunca teve muita sorte nas telas, com muitas boas ideias e bem poucas realizações de respeito. A história de um robô mais humano que muitas pessoa poderia render mais uma bela derivação de Frankenstein, ao invés de provocar risos involuntários em alguns momentos. A única relação com o clássico literário é que a Criatura do livro é algo mal-ajambrado, resultado da junção de vários pedaços de origens diferentes.  A mesma descrição é perfeitamente  aplicável  ao filme!

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