Após 20 anos da estreia da série na TV brasileira, chega aos cinemas de todo o país o longa animado Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário. A animação, febre entre as crianças e os jovens na década de 90, foi produzida pelo famoso estúdio Toei Animation (responsável por Dragon Ball e Sailor Moon). Baseado no mangá, escrito e desenhado por Masami Kurumada, o anime conquistou uma legião, quase que incontável, de fãs. Cada um tinha seu personagem favorito, todos sabiam os golpes, torciam pelos Cavaleiros de Bronze e esperavam ansiosos pelo próximo episódio, que quase sempre apresentava um vilão superior ao anterior. O reboot é baseado na história mais querida pelos fãs: A Saga do Santuário ou A Saga das 12 Casas. Muita expectativa foi criada quando viram – ou melhor, ouviram – o trailer com os dubladores brasileiros originais. Toda aquela empolgação não poderia ser contida.
Infelizmente, o resultado é um verdadeiro fiasco. Adaptar uma saga de dezenas de episódios, mesmo que muitos sejam – de certa maneira – bem arrastados, em um filme de menos de 2 horas já é uma tarefa difícil, mais ainda quando tem de explicar a origem dos Cavaleiros e da reencarnação da Deusa Athena, Saori Kiddo.Tudo isso teve de ser extremamente reduzido e fez com que partes importantes da história fossem limadas e/ou adaptadas de maneira a caberem no tempo de tela, o que acabou gerando um problema imenso e talvez o maior de todos: não ser cativante.
Em nenhum momento é possível sentir qualquer afeto pelos protagonistas. Nem mesmo aqueles que já os tinham em seus corações desde a década de 90. Um dos pontos fortes do anime, que era o carisma dos personagens e a admiração que sentíamos ao testemunhar o sacrifício e resiliência dos Cavaleiros, simplesmente não acontece no filme. As batalhas contra os Cavaleiros de Ouro, que se dizem terem poderes quase tão grandes quanto os de um Deus, são facilmente ganhas e muitas simplesmente não acontecem devido a vários atalhos de roteiro, como personagens que simplesmente saem de cena por razão nenhuma, só para evitar que sejam mostrados mais à frente. Como se isso não bastasse, alguns heróis e vilões são extremamente inúteis para a trama e outros são distorcidos, de tal forma, que chega a parecer que a animação não foi produzida com seriedade. Não é questão de afirmar que longa deveria ser “sério”, mas sim que os personagens deveriam ter sido tratados com respeito. Um exemplo disso é um dos Cavaleiros de Ouro, um dos mais sombrios na série, que praticamente se torna um vilão cantor da Disney neste filme. Atenção! Não é uma crítica aos vilões da Disney, mas simplesmente não se encaixa e fica ridículo.
Além desses problemas de roteiro e construção de personagens, temos outro grande problema com relação ao design das armaduras. Na série, cada armadura tinha características próprias, uma personalidade. Já em Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário, as armaduras estão mais complexas, porém muito mais genéricas. Alguns conceitos como o capacete que cobre todo o rosto e o traje ser alocado numa dogtag é interessante, mas toda a personalidade, digna de animes do mesmo estilo, se perdeu. Não conseguimos diferenciar bem os Cavaleiros e nem perceber seus distintos estilos de luta e de poder. Todos estão praticamente iguais, mudando apenas a cor das armaduras e do cabelo.
Para não citar apenas as falhas do filme, o design do Santuário está muito bonito e o caminho das 12 Casas também. Mas infelizmente é só. Nem mesmo a qualidade gráfica da animação é novidade. Muitas animações japonesas, como Final Fantasy VII– Advent Children de 2005, são muito superiores. Nem mesmo a trilha sonora, que era marca no anime, e fazia todos pularem do sofá, conseguiu se destacar. Na verdade, passa totalmente despercebida.
Sem emoção e sem carisma, a nova animação Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário não agrada o fã de longa data e nem consegue conquistar um novo público. Uma pena. Eu mesmo era um dos inúmeros que queria gritar “Me dê sua força, Pegasus!”. Ao invés disso, saí com aquela tristeza de alguém que testemunhou um momento importante da infância ser mostrado de maneira vazia e sem coração.
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