Ano entra, ano sai e Hollywood não muda. Tomada pela ânsia de faturar cada vez mais, a indústria apela loucamente para a produção desenfreada de longas que têm como grande chamativo muitas explosões e cenas de ação, porém, pouquíssimo conteúdo. É claro que exceções existem, mas cada vez mais escassas, e agora – em Caçadores de Emoção: Além do Limite (Point Break) temos mais um caso de remake que sai do “nada” e chega a “lugar nenhum”. Em 1991, Patrick Swayze estrelou uma obra homônima ao lado do então jovem, porém fisicamente idêntico, Keanu Reeves. Teve uma boa recepção da crítica e conseguiu cativar um razoável grupo de fãs, sendo esses os mais interessados – e os mais decepcionados, provavelmente – em assistir ao novo filme.
Johnny Utah (Luke Bracey) é um ex-piloto de motocross que ingressa no FBI, após um acidente inesperado envolvendo um colega. Já em seu primeiro caso, Utah depara-se com uma série de crimes um tanto quanto inusitados e, graças à sua astúcia, o jovem enxerga um padrão nos delitos, que o leva a uma gangue de atletas radicais liderados por Bodhi (Edgar Ramírez). O longa é dirigido por Ericson Core, diretor de fotografia em Demolidor – O Homem Sem Medo (sim, aquele com Ben Affleck), cujo trabalho faz Uwe Boll parecer Stanley Kubrick. Absolutamente incapaz de criar qualquer tipo de clima e atmosfera, o diretor falha miseravelmente ao tentar aliar movimentos de câmera e trilha sonora, gerando a total incompreensão do espectador. A opção por planos completamente desestabilizados seria até aceitavel, se o mesmo ele tivesse o bom senso de utiliza-los apenas em cenas de ação – sendo que, nestes casos, dificilmente é possível ter idéia de localização do espaço, estejam os personagens surfando em ondas gigantes ou pulando de paraquedas. A impressão que fica é que o trabalho só não beira o amadorismo por existir uma pequena (pequena mesmo) preocupação em respeitar os eixos de posicionamento de câmera.
Dentro do elenco, Edgar Ramírez, o antagonista, é o único que consegue fazer o espectador criar uma certa empatia por seu personagem, ainda que essa seja realmente pequena. O desastre nesse quesito fica por conta de Bracey e Teresa Palmer, que interpreta Samsara. A partir da estreia do filme, os dois serão fortes concorrentes a uma indicação ao próximo Framboesa de Ouro. O primeiro é tão repetitivo em seus atos – e tão desprovido de carisma – que consegue a proeza de ser um protagonista que faz o público torcer contra seu sucesso, ao completar um terço de filme. Já Teresa cria um sotaque tão forçado que beira o ridículo, detalhe que – não seria muita surpresa – pode provocar risadas na plateia.
Os diversos aspectos técnicos restantes também são uma série de falhas. O roteiro, por diversas vezes, abre brechas para que os personagens ligados à polícia tomem atitudes muito mais efetivas para suas investigações, porém o rumo acaba sendo sempre outro, tornando os personagens desinteressantes. A montagem não recebe o menor capricho ou atenção. Imagens são jogadas aleatoriamente apenas para que as ações dos personagens não sejam interrompidas e o pior são os erros de continuidade grotescos – como cabelos em uma posição em um plano e em outra no seguinte – percebidos mais de uma vez. A fotografia por sua vez até poderia ter algum destaque, mas quando o uso do CGI é necessário, a artificialidade é tão grande que qualquer imersão na trama por parte do espectador é quebrada.
Caçadores de Emoção: Além do Limite é um exemplo a não ser seguido. Levado completamente “nas coxas”, é um amontoado de fracassos em diversos níveis, tudo isso por culpa de uma indústria que prioriza a quantidade ao invés da qualidade… E deve continuar assim, ao que tudo indica.